Dois dias depois...
Leane jogou a bolsa sobre a mesa da cozinha e se deixou cair na cadeira, exausta.
Já era fim de tarde e estava cansada, faminta e completamente frustrada.
Em todos os lugares em que fora, imaginando que conseguiria um emprego decente, ela saíra decepcionada.
Nem mesmo sua experiência como enfermeira lhe ajudara desta vez.
Deitou a cabeça sobre os braços cruzados na mesa e deixou que os soluços extravasassem a miríade de sentimentos que tomavam conta dela naquele instante.
Raiva.
Solidão.
Tristeza.
Sem contar a frustração e decepção consigo mesma.
Após deixar com que as lágrimas aliviassem um pouco de toda aquela bagagem sentimental, Leane se levantou e abriu a geladeira.
Tirando algumas garrafas de água e legumes murchos, não havia mais nada que pudesse comer.
Teria de se contentar com um macarrão instantâneo novamente, algo que estava comendo muito nos últimos dias e não lhe faria bem algum.
Mas custava menos que uma refeição decente, algo que ela não podia pagar.
Desanimada, ela fechou novamente a geladeira e subiu para tomar um banho e pensar melhor no que fazer.
Flora lhe oferecera ajuda.
Talvez fosse a hora de deixar o orgulho de lado e aceitar o que a bondosa senhora lhe oferecia.
Talvez, uma semana dormindo no quartinho vazio que ela tinha em casa fosse tempo o suficiente para encontrar um emprego. Enquanto isso poderia fazer alguns bicos aqui e ali para ajudar a senhora com as despesas.
Assim que saiu do banho, se vestiu rapidamente e desceu a fim de ir até à casa de Flora, mas quando estava atravessando a sala, a campainha tocou.
Confusa, pois não estava esperando nenhuma visita aquela hora, Leane caminhou até a porta e abriu apenas o suficiente para que pudesse ver quem estava lá fora.
— Olá, querida. Desculpe vir assim de repente, mas estava esperando que voltasse para falar com você. — Flora disse, parecendo eufórica.
Surpresa pela visita inesperada, mas feliz por ser a Flora, Leane abriu a porta e permitiu que ela entrasse.
— Não se preocupe. Na verdade eu estava indo nesse instante falar com a senhora... — disse. — Se sua oferta ainda estiver de pé, acho que vou aceitar aquele quartinho vago que me ofereceu. Vou precisar de um pouco mais de tempo para encontrar um emprego.
Flora sorriu abertamente.
— Claro que minha oferta ainda está de pé, querida. — ela disse, entregando uma sacola que até Aquele momento, Leane não havia notado em suas mãos. — Esse é o seu jantar, imagino que esteja faminta após passar o dia todo fora em busca de emprego.
Leane sentiu o cheiro maravilhoso da comida e sua barriga roncou no mesmo instante.
— Flora, não precisava…
Flora a interrompeu com um gesto.
— Claro que precisava. Olha só para você, está muito mais magra do que quando a conheci. — ela resmungou, empurrando-a para a cozinha e apontou para a cadeira para que Leane se sentasse e comesse. — Quanto ao quarto, você sempre será bem vinda. Mas acho que não será mais necessário. Encontrei a solução perfeita para você.
Leane, que abria a embalagem de comida, parou e a encarou, entre confusa e curiosa.
— Como assim...?
Flora se sentou ao seu lado, muito animada.
— Uma amiga minha me disse que estão precisando de uma babá na casa onde ela trabalha. — Flora contou. — O trabalho é em período integral e você pode morar na casa, claro. Você teria um emprego e um lar. E ainda poderia juntar uma grana para quando decidir seguir outro caminho...
— Mas, Flora, eu nunca cuidei de uma criança em toda a minha vida! — Leane disse, em pânico.
Claro que a oferta era maravilhosa.
Teria um salário, comida na mesa e ainda um teto sobre sua cabeça.
Mas ela não tinha experiência com crianças.
Flora revirou os olhos.
— Querida, não é um bicho de sete cabeças. Você cuidou de sua mãe doente durante todo esse tempo e ainda possui conhecimentos médicos.
Leane ainda estava em dúvida, apesar de completamente interessada na oportunidade.
Sem contar que seria mais uma experiência para acrescentar em seu currículo.
— Quantas crianças? — quis saber e Flora sorriu, percebendo que alcançara seu objetivo.
— São três. A menor tem um ano, mas os gêmeos tem nove.
Leane franziu o cenho.
— E os pais das crianças? — quis saber. Quanto mais informações tivesse, melhor.
— A mãe morreu no parto da mais nova e desde então as crianças ficam com uma babá. — Flora explicou. — O pai passa a maior parte do tempo no trabalho, saindo cedo de casa e voltando apenas no fim do dia.
Leane fez uma careta de desgosto, enquanto começava a comer.
Esse era o momento em que um pai deveria ser mais presente para os filhos, mas ao contrário disso, o homem se enterrava no trabalho enquanto as crianças ficavam com estranhos.
De repente, ela sentiu um desejo imenso de cuidar daqueles pequenos e dar a eles a atenção que mereciam.
Dar-lhes carinho assim como sua mãe lhe dera até o seu último suspiro.
Era disso que elas precisavam naquele momento, e não do distanciamento frio do pai delas.
Decidida, Leane assentiu em concordância para Flora.
—Se me considera capaz de fazer isso, então sim. Eu quero esse emprego.
Não era como se tivesse muitas outras opções, na verdade.
E saber que teria um teto sobre sua cabeça, pelo qual não teria que pagar nada, era o que tornava aquele emprego ainda mais atraente aos seus olhos.
Só esperava que Flora estivesse certa quanto a sua capacidade de cuidar daquelas crianças e não cometer erro algum, pensou ela.
Flora bateu palmas e se levantou rapidamente da cadeira onde se sentara.
—Vou agora mesmo ligar para minha amiga e contar que encontrei a pessoa certa para o trabalho. — ela disse, caminhando para fora da cozinha. —Aconselho a ir fazendo as malas, querida!
Flora gritou da sala, antes de Leane ouvir o ruído da porta se fechando.
Deu mais alguma colheradas na comida, enquanto imaginava como seria no novo emprego.
Não fique tão nervosa, você consegue! Ela disse a si mesma.
Pelo menos alguma coisa boa acontecera em sua vida e, diferente das outras duas noites, Leane adormeceu mais tranquila apesar da tristeza em seu coração.
Pois aquela, talvez, seria a última noite que passaria naquela casa que um dia ela chamara de lar.
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Atualizado até capítulo 65
Comments
SCEU MATO GROSSO
Estou começando a ler hoje dia 22/01/2024 acabei de ler um livro mais que maravilhoso NAS GARRAS DO MAFIOSO SAULO (+18) sem contar que a autora e super hiper legal interage com os leitores amei, agora começando esse livro bora ler📚📱
2024-01-22
217
Sara Arimatea
comecei a ler e já estou gostando, não é o tipo de livro que gosto de ler, mas como achei logo de início muito atraente e muito bem escrito, consigo ler sem me cansar e melhor consigo imaginar a história como um filme.
2024-11-20
0
Anita Alves
comecei a lê hoje dia 29 /11/24 /Slight//Slight//Slight//Slight//Slight//Slight//Slight//Slight/
2024-11-29
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