Leane se afastou da porta e caminhou em direção a mesa onde as crianças estavam.
Havia farinha espalhada por todos os cantos e ela decidiu ignorar o olhar de desafio que a garotinha lhe lançava.
Imaginou quantas babás teriam passado por aquela casa e decidiram abdicar do emprego.
Ali, a sua frente, estava o verdadeiro motivo que a faria pensar duas vezes antes de aceitar aquele emprego.
Duas crianças claramente dispostas a tornar sua estadia ali, um inferno.
Mas ela não permitiria que isso acontecesse, pois sabia que no fundo, tudo o que elas queriam era um pouco de atenção.
—Eu não posso dizer ao certo. Você deve ser a Molly, não é mesmo? — ela perguntou olhando diretamente para a menina, que assentiu, erguendo o queixo com altivez. —E você deve ser o Jason.
O garoto confirmou.
—Pois, bem... Eu me chamo Leane Grey, mas podem me chamar apenas de Leane. Ou Lean, como minha mãe costumava me chamar... — ela comentou, recostando-se na mesa repleta de sujeira.
As duas crianças se entreolharam, em uma conversa silenciosa de irmãos.
—Porque ela não te chama mais desse jeito? — o garoto resolveu perguntar.
Leane sorriu gentilmente, baixando os olhos para os próprios pés antes de encará-los novamente.
—Porque eu a perdi faz alguns dias. E desde então fiquei sozinha e quando me ofereceram esse emprego para cuidar de vocês, eu aceitei. — ela deu de ombros enquanto os dois voltavam a se olhar novamente.
Dessa vez foi a garota quem olhou para os próprios pés antes de comentar baixinho:
—Nossa mãe também morreu.
Leane sentiu um aperto na garganta ao perceber a tristeza das duas crianças.
A pequena Maggie não poderia entender o que aqueles dois passavam, já que nem chegara a conhecer a mãe. Mas para Molly e Jason, a situação era diferente e muito dolorosa.
—Sinto muito pela perda de vocês. — ela disse baixinho antes de erguer os olhos novamente, com determinação. —Mas acho que, onde quer que nossas mães estejam, elas estão olhando por nós nesse momento. E não creio que a mãe de vocês se agradaria dessa bagunça em sua linda casa. Então, o que acham de me ajudarem a limpar essa bagunça para que eu possa ensinar a vocês como se faz biscoitos de verdade?
O garoto soltou um riso, antes de colocar a mão sobre os lábios e olhar para sua irmã com um olhar culpado.
Mas a garota já não parecia tão na defensiva como antes, o que Leane imaginou ser um ponto a seu favor.
—Tudo bem, mas quero aprender a fazer biscoitos de chocolate! — ela exigiu, erguendo o queixo novamente.
—E eu quero ajudar a colocar no forno! — Jason se pronunciou, deixando Leane um pouco mais relaxada agora.
Agradeceu aos céus por ter passado daquela primeira fase e se aproximou das crianças a fim de ajudá-los com a bagunça.
Menos de vinte minutos depois, estavam com a mesa organizada novamente e Leane observava enquanto dava instruções das medidas de ingredientes para a massa dos biscoitos.
—Agora, vocês podem fazer o formato dos biscoitos que desejarem. — ela disse, minutos depois, quando ajudava os dois a enrolarem os biscoitos antes de colocá-los na assadeira.
—Mas não temos cortadores de biscoitos! — Jason reclamou, fazendo um beicinho decepcionado.
Leane revirou os olhos.
—E quem foi que disse que precisamos de cortadores? — ela retrucou, se aproximando dele e pegando um pedaço da massa. Enrolou, fazendo uma bola, antes de pousá-la na mesa. Logo trabalhava no pequeno monte de massa, formando orelhas e uma cabeça. Com uma colher, ela fez o formato de uma boca sorridente e usou um palito para fazer furos no lugar dos olhos.
Não era nada perfeito, mas isso deixou as duas crianças impressionadas. Tanto, que trataram de imitá-la.
Quando a Sra. Albert retornou momentos depois, para ter certeza de que tudo estava bem, ela se impressionou com a cena a sua frente.
Leane retirava a primeira fornada de biscoitos do forno, enquanto Jason colocava mais uma travessa lá dentro e o cheiro lhe deu água na boca.
—Mas o que temos aqui...? — A Sra. Albert murmurou, chamando a atenção dos três para si enquanto olhava em volta, notando que a cozinha estava limpa novamente. Completamente diferente de como estava momentos atrás, quando estivera ali.
—Sra. Albert, terminamos de fazer os biscoitos! — Molly disse, sorridente, mais uma vez deixando-a confusa e surpresa ao mesmo tempo.
—A Senhora quer experimentar um? Ainda está quente, mas é só assoprar... —Jason ofereceu, pegando um guardanapo e retirando um biscoito em forma de Mickey Mouse da forma e levando até ela.
A senhora Albert olhou para Leane de maneira indagadora, recebendo um aceno e um sorriso em resposta, antes de pegar o biscoito das mãos do garoto e levar a boca.
Assoprou três vezes antes de se arriscar a morder o biscoito.
E quando a iguaria derreteu em sua boca, ela olhou para as crianças com admiração e surpresa.
—Está uma delícia! — ela exclamou, levando mais um pedaço a boca.
Jason e Molly bateram as mãos com animação, antes de sorrirem um para o outro.
—A Lean nos ensinou a fazer a massa e a usar o forno. — Jason contou, olhando para Leane com admiração e arrancando-lhe um sorriso dos lábios.
—Sim, mas os biscoitos eram para ser as boas vindas dela em nossa casa, mas acabamos lhe dando trabalho. — Molly murmurou, cruzando os braços e olhando para um canto qualquer da parede da cozinha.
Leane se aproximou da garota e tocou-lhe o ombro, fazendo com que a menina olhasse para ela.
—Não foi trabalho nenhum. — ela declarou com sinceridade. —Na verdade, vocês me deram ótimos momentos aqui nessa cozinha e eu gostaria de repetir isso sempre que possível. E já que fizeram os biscoitos, farei um chá para que possamos levar tudo isso lá para a sala de jantar e comer o lanche da tarde. Mas antes, acho melhor vocês dois subirem e trocarem essas roupas repletas de farinha, para não sujar toda a casa e dar ainda mais trabalho para a Senhora Albert.
Os dois concordaram rapidamente, antes de passar correndo por elas e saírem da cozinha.
Quando estavam sozinhas, a Sra. Albert se voltou para Leane com admiração evidente em seus olhos.
—Acho que preciso ligar para minha amiga Flora e lhe agradecer por indicar você para esse trabalho, querida. — ela declarou. —Porque eu penso que, a única coisa que faltava nessa casa, era você!
Não, Leane pensou. A única coisa que falta nessa casa é amor, além de outras coisas que essas crianças necessitavam.
A única coisa que fizera foi lhes dar um pouco de espaço e atenção.
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Atualizado até capítulo 65
Comments
Patrícia Barbosa Ferrari
A Leane já conquistou o coração 💓 das crianças e logo logo conquistará o coração ❤️ do pai deles
2024-11-30
0
ilena sobrenome
começando a ler hoje dia 15/12/2024 e já estou gostando da história
2024-12-15
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Rosemar Coelho
A mulher está até desconfiada 😂 😂
2025-02-27
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