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Eu olho para ele e respiro fundo, conversar e desabafar com alguém que não conhecia a nossa rotina e muito menos convivia com a gente, me fez tirar algo de dentro de mim que me sufocava. Quando ele saiu da minha mesa, uma agonia dentro de mim cresceu e eu sentia que precisava desabafar, conversar com alguém que iria me entender e ele me fez as perguntas certas, para liberar as lembranças boas de nós dois.

— Eu sei que esse momento é muito delicado, como disse passar pelo luto não é fácil, ainda mais quando a pessoa que se foi era alguém tão especial e importante para nós — ele fala — Mas eu acredito que quem ca, precisa continuar a sua vida, se agarrar em algo que te dê forças para continuar, como você disse, você precisa ser forte pelo seu lho e você sabe que ele é o motivo maior para você continuar, a perca de um dos pais na adolescência é algo muito dolorido — eu assinto — Quando você sentir que é impossível aguentar o luto, você fecha os olhos e faça como você fez agora, lembre apenas dos momentos bons que vocês viveram, porque isso Bárbara, ninguém vai tirar de você, o que você viveu com ele é algo único e especial que só você tem, você consegue entender o ponto que eu quero chegar?

Sim — eu respondo.

— Eu sei que você só tem apenas dois dias aqui na clínica, mas eu tenho consultório em São Paulo — ele fala — e eu gostaria muito de continuar como seu médico — eu o encaro — Então, se você quiser é claro, toda vez que você se sentir mal, sentir exatamente os sentimentos que você estava sentindo quando chegou no meu consultório, você escreva em um caderno ou em alguma agenda, pode ser alguma coisa que pertencia a Paulo, escreva o que você sente, o momento que você lembrou e guarde com você , esse será um exercício que você irá começar a fazer e toda vez que você sentir que vai entrar em crise por causa do luto, você pega essa agenda e leia tudo o que você escreveu, faça dela o seu diário, cole fotos, descreva os momentos.

— Eu irei fazer isso, obrigada por me ajudar — eu falo para ele.

— Aqui na clínica existem alguns métodos que vou recomendar que você faça, trabalhamos com 5 dias de protocolos, mas existe a possibilidade de fazer menos, como você está fazendo — ele pega um bloco de caneta — Você conhece a cápsula de ozônio?

— Eu vi algo em algum pan eto da clínica — eu respondo.

— Eu recomendo você fazer ela, é e ciente no combate a insônia e a depressão — ele fala — Vai te ajudar a dormir melhor, sem ter que tomar medicamentos e na sua ansiedade também. — eu assinto — Vou indicar que você faça hoje nebulização para retirada dos metais pesados do seu corpo, amanhã e na segunda bem cedo antes de você ir embora. Se você quiser, você pode voltar aqui amanhã ou na segunda antes de ir embora, estou à disposição.

— Muito obrigada — eu falo me levantando — Irei marcar  uma consulta com você, em seu consultório

— Eu co te aguardando Bárbara — ele fala — E lembre do que eu disse, feche os olhos e se lembre dos momentos bons, esqueça todos os mistérios, o que os outros dizem ou supõem que aconteceu, apenas quem realmente conhecia a intimidade de vocês, era os dois e mais ninguém — eu assinto com a cabeça e sorrio de leve.

Eu saio mais leve da consulta e vou fazer o que ele tinha me recomendado, fechar os olhos em um lugar calmo e lembrar dele, sem pressão nenhuma a minha volta foi a melhor coisa que poderia ter acontecido nesse momento, era como se eu sentisse ele ao meu lado, como se eu estivesse vivendo aqueles momentos. A morte era algo horrível, a gente sabe que é o ciclo da vida, mas nunca estamos preparados para ela.

Eu co pensando se ele tivesse vivo, o que a gente estaria fazendo nesse momento? Quantas risadas fomos impedidos de dar juntos, quantos beijos, quantas noites de amor, quantas caminhadas, quantos abraços, quantos momentos?

Dentro da cápsula de ozônio, com os olhos fechados eu só conseguia pensar quem teria motivos para fazer aquilo com ele, respiro fundo tentando lembrar das palavras de Fernando, tento lembrar dos nossos momentos juntos, mas era difícil porque ele foi tirado de mim de uma forma horrível, foi tirado de nosso lho, de nossa família.

Eu não conseguia nem imaginar viver a vida toda sem saber  das respostas, sem saber quem era o seu assassino e por quais motivos matou Paulo.

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