Verdade

...🚫ATENÇÃO Capitulo sensível, pode conter gatilho para pessoas sensíveis ao fato. 🚫...

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Nycie aguarda ansiosa pelo depoimento de André logo depois de ele se aproximar para dizer que cabia a ela decidir. Ela percebe que quebrou a primeira barreira com seu cliente, ele começa a depositar confiança.

E nem imagina ela que foi por medo, da decepção em seu olhar, ele não gostava de sensação, de sentir que ela poderia se decepcionar." Mas por quê?" –perguntava ele, pra si mesmo. – "O quê tem essa mulher que o fez se desarmar?"

Então decidiu mudar de assunto contando:

– Quando eu tinha dez anos… hum-hum – pigarreou apreensivo e segura uma lágrima começa a brotar de seus olhos, quando as imagens vem. – Como de costume, minha mãe me buscava na escola. Eu achava aquilo uma vergonha mas ela queria assim… – Ele pára e fixa os olhos no nada.

Nycie percebe que ele se mantém quieto e o incentiva a continuar colocando sua mão esquerda sobre suas mãos que continuam unidas sobre a mesa. Ele olha para o gesto de Nycie e puxa suas mãos. É uma sensação boa mas ele não pode continuar sentindo.

– Quando me dei conta, havia esquecido minha outra pasta – Ele continua a contar. –, a que continha um trabalho que tinha que terminar. Eu era muito estudioso. Hoje poderia ser eu aqui em seu lugar, como advogado. Mas não foi bem assim que aconteceu. Quando cheguei na sala o porteiro veio saber o que eu queria, disse a ele o que era, ele sorriu e me perguntou se eu estava… com fome. Eu assenti, mas disse que comeria em casa. – Um choro sai por sua boca, ele não conseguia mas se segurar e Nycie começa a chorar em silêncio, imaginando o que se passou. Já André, se esqueceu de onde está, e soluça com dor.

– Ele trancou a porta... da sala, me virou de costas… eu ia gritar, mas tampou minha boca, com suas... mãos imundas.– suspirou ele, dando uma pausa respirando fundo e engolindo o choro.

–Ele passou seu membro por toda a minha bunda e me fez chupar seu membro. Só não me introduziu na bunda porque alguém bateu à porta, mas para mim eu já não era mais o mesmo, o orgulho dos meus pais. Ele me chantageou dizendo que se eu contasse para alguém, além de ele me “comer”, me mataria… Flium. – Ele limpa o nariz na camisa e Nycie não consegue imaginar.

“Um menininho tão bonito que deve ter sido, ser molestado assim. Oh, Deus! Quantas crianças esse traste não prejudicou? Com certeza muitos e por isso estava na cadeia”. – Nycie pensa com pesar.

– Depois disso, culpei minha mãe – continua André. – De que adiantou ela ir na escola todos os dias para me buscar, se quando eu precisei dela, ela não me ajudou?! Hoje não penso mais assim, sei que ela não teve culpa, mas me transformei num homem frio e irresponsável. Conheci Suellen, minha ex, quando saia de uma boate, bêbado, transamos várias vezes. Quando soube de sua gravidez, fiz menção de arrumar um trabalho e acabei com a bebedeira, mas ela ficou pior, juntamos os trapos mas depois de seis meses juntos, estava um inferno tanto para mim quanto para ela. Suellen não queria o bebê, eu que a convenci.

Justo no dia em que minha filha não parava de chorar, não sabia o motivo, estava em desespero, eu tive medo de levá-la, ela é tão linda… e se quisessem fazer mal a ela?! Lá só tem bêbados, prostitutas, até mesmo Suellen, duvido que não era uma delas, para poder pagar suas bebidas. Fiz uma escolha errada ao deixá-la sozinha, fui preso, deve ser castigo… sabe quantas vezes pensei em dar a guarda para os meus pais e fugir? – diz com pesar e continua. – Agora, o que sinto é só saudades, nada mais importa. E no dia da morte do infeliz, mais cedo eu estava indo para cozinha onde eu trabalho lavando a louça. Escutei aquela voz dizendo: “Tem certeza de que foi o guarda Erick quem mandou essa carta?”, para o que era, se não me engano, chamado de Cobra. Me lembrei da voz, claro, como poderia esquecer, foi meu trauma. Vi uma oportunidade… não iria matá-lo, mas sim o assustar, todos os dias até que ele mesmo tirasse sua própria vida. Queria vingança por mim e por tantos outros que ele molestou ou mesmo estuprou. – André para de chorar e só vê ódio em seus olhos verdes que se tornam escuros.

– Você nunca contou aos seus pais para poder denunciá-lo? – pergunta Nycie. Ele balança a cabeça negativamente.

– Meus pais estranharam meu comportamento, pois não queria ir à escola, não brincava mais com meus primos, não queria ver meus tios e avós, só chorava. Meu pai me ameaçava, mas depois que via que não dava resultado, chorava me abraçando, perguntava o motivo mas eu não o respondia por medo, vergonha, sei lá. No fundo, meus pais sabiam, mas como eu não dizia nada, nada puderam fazer. Nem com psicólogo eu consegui desabafar, eu até mordia ele! Ficava sempre em minha solidão, culpando minha mãe, eu era amedrontado, desconfiado… a culpa não foi dela e se o tempo voltasse, eu constatei isso. Agora já não se pode fazer mais nada, minha vingança não foi como queria, mas me senti vingado mesmo que não tenha mudado nada. O que me consola é saber que o crápula não vai mais fazer maldade. – André finaliza com firmeza, fechando as duas mãos em punho sobre a mesa e Nycie consente.

– A vingança não é uma boa escolha. Vou estudar esse novo caso para ver como resolvo, pelo menos para que você pegue poucos anos de cadeia, ou continue com o pedido para uma pena domiciliar se for provado que não foi você quem o matou. Acredito em você, vou informar à Adrian ou Wilham sobre seu depoimento.

André se levanta e pega no ombro direito de Nycie que já se encontra de pé, nocauteada pelas palavras.

– Você contará sobre meu passado? – pergunta ele. Ela balança a cabeça em negativa.

– Vou apenas informar sobre o Cobra, você tem certeza que era ele?

– Se esse é seu apelido eu não sei, mas sei quem é, eu mostro se for o problema.

– Mas vou dizer que você só o atacou por defesa, e que não o matou. Você tem que dizer exatamente o que eu disser para conseguir provar sua inocência – pede Nycie.

Ao se despedirem com apertos de mãos, Nycie deixa a cadeia e vai direto para o IML se encontrar com os detetives.

André volta para sua cela mais relaxado. Se abrir foi bom, esperar que um dia, seus pais o perdoem. Andando pelo corredor ele se depara com o tão falado, Cobra, que fica na cela ao lado.

IML…

– Então… acha que esse depoimento pode colocar Erick como suspeito do assassinato? – inquire Nycie.

– Não convém eu lhe contar agora como vai suceder, você é a advogada de defesa, não posso divulgar enquanto não liberar o inquérito. Você sabe as regras.

Nycie assente, se despede do detetive com apertos de mãos e vai para casa. Ela ainda tem que estudar outro caso em seu escritório particular mas está muito cansada, no dia seguinte, logo cedo, faria isso.

“Não pensei que fosse tão fácil me livrar da culpa do assassinato.” – pensa o assassino.

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Comments

Mariane Oliveira

Mariane Oliveira

deu foi pouca facada..

2024-12-10

0

Mariane Oliveira

Mariane Oliveira

meu deus..

2024-12-10

0

Marcia Rosanova

Marcia Rosanova

Estou amando esta estória tão diferente de todas que já li aqui...mais de 120..adoro leitura desde 13 anos que leio( estou com 70) já viram que li muuuuitas estórias!!!Muito triste saber do abuso! Êle deveria ter contado aos pais...quem sabe já teriam prendido e assim salvaria muitos amiguinhos!!!!!

2023-06-21

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