Capítulo 16

- Bom dia, quero falar com o síndico.

- Claro! A senhora veio cuidar da área de lazer? Qual seu nome?

- Sim, meu nome é Angela, disseram que eu podia trazer meus netinhos, tudo bem?

- Fui informado. Eles vão ficar com a recreadora. Olha o Pedro chegando, ele é o síndico.

- Bom dia, a senhora é a dona Angela?

- Prefiro vó Angela, se não for incômodo. Desde quando eles entraram em minha vida, respiro em função deles.

- Certo, entendi, vó Angela. Trouxe bolsa, roupas pra trocar?

- Estão aqui na mochila.

- Venham comigo. Esta é a área de lazer do prédio, será sua missão de hoje, caso algum morador solicite diária, pode agendar, mas não se sinta obrigada, ok? Ela assentiu esperançosa, estava cansada de viver de doações, e essa diária supriria uma semana das despesas de sua casa. Ali é a recreação, onde seus netos passarão o dia, a senhora pode vir vê-los na hora do almoço.

- Onde eu esquento as marmitas?

- Não esquenta. Vocês vão comer a refeição fornecida pelo condomínio aos funcionários, tudo bem?

- Não quero dar despesas.

- Faz parte do orçamento do condomínio, fica em paz. Toma essa chave, é daquela porta, suas coisas vão ficar ali, já que não faz sentido trocar os meninos num vestiário de adultos, concorda?

Ela assentiu em silêncio, à frente de tanta gentileza, era difícil falar. Abriu a porta esperando ver um depósito, mas era um apartamento, pequeno e bem mobiliado, surpreendentemente limpo e organizado.

- A pessoa que vive aqui não vai se incomodar?

- Está desocupado desde que o jardineiro adoeceu e voltou pra Sergipe, pra família cuidar dele. Bem, vou deixar vocês se arrumarem, tem pão e café ali, comam alguma coisa, volto em meia hora pra dar as instruções e o material de limpeza, tá?

- Perfeito. Vou me trocar.

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- Eles estão aqui.

- E?

- Os meninos são inteligentes e obedientes, na medida do possível, a vó Angela é a melhor faxineira que já tivemos aqui, fala pra caramba, conta causos, como se diz no sertão, mas trabalha bem e rápido. Já conquistou vários moradores e até o porteiro kkkkk.

- Estão bem, então, né?

- Sim.

- Valeu, Pedro. Já fiz o pix da diária.

- Vou te devolver. Faço questão de contratar essa joia preciosa! Disse e desligou.

- Viu, Elisa, tudo está correndo perfeitamente bem.

- Eu sei, gatinho, mas estou ansiosa mesmo assim. O apelido saiu sem querer, esse tipo de humor só transparecia quando ela ficava insegura, com a guarda baixa.

- Eu sei. Porquê você não vai pra piscina, pede lanche pros pequenos e faz amizade? Consegue não contar tudo agora?

- Ah, tenho medo de não segurar essa... E se eu não conseguir? Questionou alarmada.

- Te conheço o bastante para garantir que você consegue! Vai lá se trocar, eu vou também.

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- Ei, gatinha, vou adiantar umas paradas aí que a pensão não espera, tá?

- Toma pelo ao menos um café comigo? Pediu manhosa.

- Ah, Marina, o que você me pede sorrindo que eu não faço chorando?

- Já tem que pagar a pensão?

- Sim, e agora essa vai ser minha vida... Pensão primeiro,  o resto depois... Se tivesse um jeito...

- Então, eu acho que posso ajudar.

- Como?

- É que eu conheço uma moça da gringa, ela agita adoções por baixo dos panos e ainda te sobra uma grana boa. Mas você nunca mais vai saber da sua filha, é como se tivesse vendido, ela vai sair do país com um nome novo e toda documentação recém saída do forno.

- Sério? Mas... É seguro?

- Claro! Ela vai com a nova mãe, de avião.

- Digo... Pra mim! Não tem risco? Nunca fui pro xadrez e nem quero!

- Pelo que ela diz, é tranquilo. Tem uma foto dela? De corpo inteiro?

- Aqui. Ele puxou no celular uma foto da própria irmã, quando tinha seis anos, não podia correr o risco de pegarem uma criança de alguém. Viu que linda? A cara do pai!

- Realmente. Vou mandar uma foto dessa pra ela.

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- Parabéns, Jean, conseguiu fazer a bruxa abrir o bico em três dias! A voz ficava meio chiada no celular, enquanto o ônibus fazia seu trajeto lento e tortuoso rumo ao centro.

- Achei que tava demorando. Mas também, ficar lá, tendo que flertar com ela é cansativo.

- Imagino... As garotas assistem suas atuações aqui o tempo todo! Parece até novela mexicana... Acho que estão prestes a fundar um fã clube...

- Para de graça, Jacob, que minha batata tá assando! A Eva vai acabar desistindo de mim, desse jeito.

- Eu sabia que você tava a fim dela! Sabia que ela fica olhando tudo pra ver se rola beijo?

- Ah, para meu.

- Faltam dois dias pro evento, e ainda não pegamos a "mãe gringa"... Agita a isca pra tirar essa ratazana da toca, e assim podermos nos livrar logo dessa Marina asquerosa.

- Melhor marcarmos uma reunião pra combinar os detalhes... E o Zé tem que ajudar. Bom, tô chegando na central, té mais chefe.

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- Tia, esse lanche é todo meu?

- É sim, Paulinho, e o brinquedo que veio junto também. Respondeu sorrindo afetuosa.

- Tem po Macos?

- Claro! Mas, se não tivesse, o que você ia fazer?

- Dividir! A vó Angela disse que a melhor pate de comer é dividir! E não gosto quando ele fica com vontade das coisas, dói aqui meu peito.

Realmente foi sofrido ficar esse tempo todo longe deles, mas tinha que agradecer muito a Deus pela vó Angela deles, que educação linda eles vinham recebendo. Ainda falavam meio errado e confuso, mas era da idade... O Gael tinha o riso bobo do pai, o Logan o olhar intenso e luminoso...

- Que lindo! Só pelas boas maneiras vão ganhar sorvete também, se a mamãe deixar.

- A gente não tem mamãe... Só vovó. Pode ser ela? Perguntou Marcos se aproximando de fininho.

- Claro! Mas ela tem que dividir com a gente. Chama ela!

Os dois saíram correndo em sincronia em busca da avó.

- Viu? Está se aproximando deles, sem se revelar! Parabéns! Disse Jacob com postura relaxada. Sorte que estava focada em não cometer nenhuma gafe, já que o mínimo olhar pra aquele tórax definido, largo, que se afunilava em um abdômen trincado, culminando em um quadril estreito, marcado naquela sunga preta era capaz de enviesar qualquer raciocínio coerente... Pior que em todos esses dias juntos, trocando carícias em público, jamais focou na púbis, mas hoje estava tão evidente! Não bastasse toda aquela perfeição revestida em ébano, a sunga marcava um bumbum masculino em extremo, musculoso e tentador, e um membro chamativo, mesmo em repouso... podia ser essa abstinência prolongada e tal, mas achava que nunca tinha tido em seu poder um "brinquedo" tão excepcional. Notou que estava olhando fixo, disfarçou, mas mesmo assim corou.

- Tia! A vó deixou! Ó lá ela vindo com o Paulinho!

- Oi, moça, me chamou?

- Sim, eu ofereci sorvete a eles, mas com a condição de dividir com a senhora. Aceita? Se não for incômodo, claro. Percebi que está na sua hora de almoço. Informou à guisa de desculpas. Ah, a propósito, me chamo Elisa, e ele é meu noivo, o Jacob.

Ele sorriu e acenou.

- Prazer!

- O Prazer é meu, mas podem me chamar de vó Angela. Desde quando eles entraram em minha vida, eu amei o título... Exibiu um sorriso enorme e cativante. Gente, que lugar maravilhoso pra se trabalhar! O povo aqui é muito educado e gentil, e ainda tem esses jardins... Minha mão tá coçando pra dar um trato neles!

Falava naturalmente enquanto se dirigiam à mesa com guarda sol.

- A senhora entende de jardinagem? Que legal! Pede pro síndico pra fazer um teste... A casa do jardineiro tá vaga há quase um ano, desde então não apareceu ninguém que fizesse o serviço como o senhor que trabalhava aqui antes. Os que aparecem apenas mantém as plantas vivas.

- Sabia que esse sempre foi meu sonho, digo, viver de jardinagem...

A conversa transcorreu leve por mais vinte minutos até tomarem seus sorvetes.

- Oi Pedro! Vem cá! Chamou simpático. Acabei de descobrir algo do seu interesse aqui... Sabia que a vó Angela é jardineira? Chama ela pra um teste!

- Talvez o que essas plantas precisem realmente seja de uma dose de carinho. Bem, se a senhora aceitar fazer um teste amanhã cedo, e for tão boa com plantas como é com limpeza...

- Sério? Mas que horas? Jardinagem tem que ser feita no fim do dia ou ao nascer do sol... E os resultados começam a aparecer em cerca de quinze dias de cuidados constantes! Começou a calcular ansiosa. Não vou conseguir ficar até tão tarde, ou madrugar demais com os dois aqui... Era perceptível sua ansiedade virando tristeza.

- Calma, vamos pensar juntos! Deve ter uma solução óbvia... Disse Elisa já contaminada pela ansiedade.

- Claro que tem! Disse Pedro sem titubear, a senhora fica na casa do jardineiro. É o propósito do local, a menos que seja um inconveniente, faz seu próprio cronograma e ainda pode fazer faxinas no tempo livre, caso queira. Ah, é uma vaga CLT.

- Claro que não, se eu puder manter meus meninos comigo, será a melhor proposta da minha vida!

- Pelo que vi, a senhora já fez tudo que pedi hoje cedo, correto?

- Fiz.

- Me acompanha ao escritório, pra falarmos de valores, e registro em carteira?

- Os meninos...

- Vai lá,  a gente cuida, será um grande prazer. Um teste pra quando vierem os nossos. Disse Elisa com uma piscadela cúmplice.

Foi a meia hora mais esperada e mais rápida da semana. Mas as notícias pareciam melhorar muito mesmo.

- Oh, moça obrigada por olhar meus netinhos. Deram trabalho?

- Não vovó! Fiquei ganhando cafuné tanto que até dormi... Garantiu Marcos com o lado do rosto avermelhado e marcado do sono.

- Nem eu! O tio deixou jogar o macaco!

- Que macaco?

- Um jogo de memória com um macaquinho que baixei no celular. Mas fica tranquila, ele foi muito cuidadoso, e tem uma memória incrível, parabéns.

- Mas aí é mérito dele, moço.

- Não, a forma que os turores tratam as crianças reflete exatamente como elas se desenvolvem. Mas, chegaram a um acordo?

- Sim, vou fazer um mês de experiência, se passar, me registram. Fora isso, por enquanto ficamos na casa do jardineiro. Só estou preocupada em como buscar minhas coisas.

- A gente ajuda! Propôs Elisa.

- Isso, mando o carro do haras buscar o que a senhora precisar.

- Não quero dar trabalho... fazer uma mudança sai caro.

- Não sai mesmo. Mas, porquê a senhora não traz só o  essencial por enquanto? Faz assim, nós vamos juntos, buscamos roupas, documentos, remédios e alguns brinquedos pra eles, a senhora deixa a chave com alguém de confiança pro caso de uma emergência acontecer, a Elisa cuida dos meninos lá em casa e mais tarde pedimos pizza, que tal?

A pobre vó Angela, acostumada a lidar com dois pidões recuou ao se deparar com quatro.

- Tá, mas quero só ver o que vai acontecer quando esse luxo acabar.

- Quando não, se. Pense prosperamente, vó. Instruiu Elisa carinhosamente.

- Vou me trocar, me acompanha, Bravinha? Volto em dez minutos, vó.

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Comments

Erlete Rodrigues

Erlete Rodrigues

estou lendo a sua história em março de 2025 e estou amando e ela é tão atual maravilhosa você está de parabéns

2025-03-28

1

Mah G.

Mah G.

e peço desculpas pela irregularidade na postagem, é q tenho uma bebê de 3 meses, então o tempo fica escasso

2022-05-18

4

Naiara Fernandes

Naiara Fernandes

linda historia

2022-05-14

1

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