Capítulo 14

Ficou decidida outra visita de assistentes sociais à comunidade, com a desculpa de recontar as famílias que iriam ao evento,  com a atual urgência, e a possibilidade de os meninos serem sequestrados, a Lily acabou indo junto com uma missãozinha.

- Então posso contar com vocês três, Angela?

- Pode sim, os meninos não tem muitas oportunidades de diversão.

- Como estão as coisas? Precisando de alguma coisa?

- Não, minha filha, obrigada.

- Ah, tá... Mas eu preciso de duas indicações suas. Conhece alguma faxineira? Pode levar filhos.

- Nesse caso, eu mesma preciso de um trabalho assim. Meus netinhos são obedientes.

- Eu sei, ia mesmo chamar você. No outro dia reparei como sua casa é limpa e bem cuidada, e sei como é difícil arrumar trabalho com crianças pequenas...

- Que dia posso ir?

- Amanhã, às nove está bom pra você? Este é o endereço, procure o síndico.

- Sim, perfeito. É um prédio?

- Na verdade é um condomínio de alto padrão, com quatro prédios de seis andares com um apartamento por andar.  Mas você vai limpar a área de lazer. Toma, é o dinheiro da passagem. Agora... você sabe de alguma manicure por aqui? Minha unha acabou de quebrar...

- Em casa, essa hora, só a Marina, que deve estar dormindo ainda. Grita lá que ela acorda.

- Tá bem, valeu. Marinaaaaa acorda mulher! Berrou bem humorada. É a emergência! Minha unha quebrou!

Marina saiu meio grogue de casa já acendendo um cigarro.

- Quem é?! Ah, Lily, qual o incêndio? Perguntou mal humorada.

- Minha unha, quebrou! Pago extra de urgência! Falou com voz manhosa e foi entrando sem cerimônia.

- Pode entrar, então. Disse Marina ironicamente.

A unha nem estava tão ruim, então foi um reparo simples, e ela ganhou trinta paus. O dia começou bem... Já tinha terminado quando notou os brincos de Lily, dourados, grandes em formato de estrela, e

como boa invejosa não se conteve...

- Nossa! Amei seus brincos! Me vende?

- Ah, são meus brincos da sorte... Usava quando conheci meu namorado.

- Poxa, agora nem quero, preciso deles kkkkk... Sou muito azarada no amor... pago o que você quiser... Fez beicinho.

- Ah sua pidona! Te empresto, mas quero de volta no domingo, ok? E você tem que usar o tempo todo pra não perder.

- Sério? Ah? Claro, devolvo sim, e vou usar a semana toda, pode deixar.

- Então tô indo, preciso fazer o relatório da visita pra faculdade, minhas notas estão baixas... Tenho perdido muitas aulas pra ver meu namorado.

Tirou os brincos e pôs na Marina, virou e saiu, esquecendo de propósito a pulseira que combinava com os brincos torcendo pra ela se apoderar dela também. Marina preparou seu café da manhã e sentou-se para tomar, quando notou aquela linda pulseira de estrelas que combinava com os brincos, automaticamente pôs no pulso e foi até a janela verificar se as assistentes sociais ainda estavam por perto, aparentemente não. Se ia usar a pulseira também? Claro, caso alguém perguntasse, diria que achou, o que não deixava de ser verdade, se devolveria as bijoux daquela Patricinha? Não, com certeza... Ia inventar que foi assaltada e pronto. Sorriu e voltou pra cama, afinal, quem acorda às onze? Ia dormir até as duas pra mais tarde lanchar no quiosque da prainha, afinal hoje tinha dinheiro.

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- Funcionou?

- Claro, Becky, sou talentosa...

- E o fato de a Marina ser uma rata invejosa não ajudou em nada, né? Perguntou Jacob brincalhão, que recebeu uma almofada no rosto atirada com uma mira certeira.

- Tá bom, você atuou brilhantemente. Liga esse troço aí. Becky, a escuta é sua, ok?

- Talvez não seja nada, mas ela quer um namorado, então talvez se aparecer alguém ela se abra...

- Boa, Lily, mas quem?

- Eu vou. Voluntariou-se Jean. Sei que sou apenas o faxineiro, mas eu consigo...

- Sério? Você deseja esse tipo de responsabilidade? Considere esse seu teste, se ela se abrir pra você, te faço membro integral.

- Quais são as diretrizes?

- Você vai paquerar, iludir, mas não precisa de intimidade. Tem que parecer meio cafajeste, mas não muito, e depois de travar "amizade", fale sobre um filho que não quer criar, melhor, uma menina. Se ela propuser algo, pareça indeciso e ao mesmo tempo ambicioso. Faça ela falar. Ah, e não beba de verdade,  mas pague pra ela.

- Quando começo?

- Ela faz as refeições no quiosque da pracinha todos os dias... Ah, elogie os brincos tá?

- Pode deixar.

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