Capítulo 7

Dormir, conciliar sono mesmo, foi complicado, mesmo depois de um mergulho na hidro da suíte, Elisa estava agitada, pela primeira vez em todo esse tempo alguém a ouviu, e decidiu ajudar irrestritamente, além de Eva, mas se que como aquela pimentinha agreste disse, não havia caroço nesse angú?

Bem, hoje a investigação ia começar, em partes. Primeiro foram mais de quarenta minutos no telefone com o policial civil que se apresentou como Zé. Ele perguntou coisas que ninguém sequer cogitou, tipo, nome de solteira da sua mãe, desavenças cíveis ou trabalhistas dos seus pais, possíveis amantes do Mark, hipótese descartada, pois passavam o tempo todo juntos, dentro e fora do trabalho, até inimigos do tempo de escola entraram na lista.

Depois foi ao treino, (defesa pessoal se tornou uma verdadeira obsessão, por razões óbvias)onde no final pediu que o Renato lhe indicasse um casal para atuar como equipe de segurança disfarçada de casal de amigos. Contratou o Jairo e a Vera, que se mudariam para o prédio do Jacob em dois dias.

De lá, direto pro shopping mãos caro da cidade, pois queria chamar a atenção da mídia, que recebeu uma dica de como localizá-la, ficou algumas horas no SPA, fez luzes 3d vermelhas no cabelo, para em seguida fazer alongamento de unhas e cílios, ao final, mal se reconheceria, parecia uma dondoca. De lá, foi às compras, sempre tagarelando com as vendedoras sobre seu noivado, de como estava próximo e o quanto estava apaixonada pelo dono do maior haras do país, que embora fosse quatro anos mais novo era um cavalheiro, e tão sedutor... optou por um vestido exclusivo de um estilista da moda, um modelo frente única, evasê, nas cores do outono, uma sandália ouro velho que custava tanto quanto uma moto, e algumas joias, tipo tiara, gargantilha, brincos, pulseiras... E num impulso comprou um belo relógio esportivo, no melhor estilo 007, com câmera, microfone e acesso à Internet integrados para presentear o "noivo".

- Ele ama tecnologia, mesmo não entendendo muito, disse e sorriu, cobrindo parcialmente o sorriso com a mão enquanto corava. Era mais fácil do que tinha cogitado passar por riquinha-fútil-apaixonada...

A make seria feita por uma profissional no dia do evento, no dia a dia, descartava ainda os excessos. Ia se manter à base de gloss e rímel e protetor solar.

Estava cheia de sacolas de grifes disputadíssimas quando percebeu alguns paparazzi, que fingiu não notar. Tinha marcado com seu "noivo" em frente ao melhor restaurante da praça de alimentação, mas sentiu novamente aquela sensação se alegria misturada com letargia quando o viu, encarou-o como se flertasse e seguiu em sua direção.

Para Jacob, se antes ela era irresistível, agora então, chegava a prejudicar o raciocínio. Bastou vê-la a meio metro de distância para enlaçá-la  pela cintura e roubar um beijo nada técnico e muito mais demorado que o previsto. Ele até queria se conter, mas bastou sentir que havia reciprocidade para aprofundar o beijo. Opa, uma parte bem Caxias do seu cérebro berrou, isso era pra ser trabalho! E o beijo começou a perder intensidade.

Ele se afastou lentamente, sorrindo, e sussurrou ao seu ouvido:

- Exagerei na atuação? Mas bastava tocar seu peito, o que Elisa estava fazendo para notar que seu coração estava acelerado e a respiração entrecortada.

Mas... Ainda bem que ele manteve aquela mão forte próxima à base de sua coluna, pois já estava trêmula, e quando ele se reaproximou para falar ao ouvido, teria caído, já que seus joelhos decidiram fraquejar. Mesmo quando ele enfatizou que estava atuando, nenhuma célula de seu corpo acreditou, mas mesmo assim ela respondeu.

- Nossa, dedicado hein? Que foi isso!

- Exagerei?  Questionou conduzindo-a para uma mesa atrás, longe dos ouvidos, mas providencialmente perfeita para fotos, a famosa mesa do artista, ou, mesa do flagra. Eles sentaram, pegaram os cardápios e continuaram a estranha conversa por mais alguns minutos, sorrindo e acariciando-se mesmo com a chegada do garçom. Comeram churrasco, vinagrete e farofa, mas ela nem notou, no final, ele pediu mousse de chocolate com muito chantily e calda de morango. Certo, parecia estranho,  mas ela era aventureiro, não ia dar pra trás.

- Suas roupas chegaram. Comentou com ar de paquera.

- Que bom, respondeu corando, pois serão necessárias.

O diálogo era leve, um ar frívolo mas os assuntos envolviam as providências já tomadas, e as que ainda faltavam.

- O Zé investigou sua mãe...

-  E?

- Ela, em especial sempre foi tranquila, como você disse... Mas, você já ouviu falar de Joana Lima?

- Não, por quê? Perguntou lambendo um morango da sobremesa, o que o tirou do foco.

Precisou estalar os dedos duas vezes diante de seu rosto para trazê-lo de volta.

- Hum, desculpe, é... Bem,elas eram amigas de internato, olha essa foto, mostrou o celular, reconhece sua mãe, à direita?

- Sim, é ela, mas eu nunca tinha visto essa foto! Como você conseguiu?

- Foi no processo, já que depois de formada, ela foi contratada como assistente pessoal da sua mãe, até ser descoberto um golpe que ela estava aplicando, através dos talões de cheques. Ela acabou presa e se sentiu traída, ficou mais de vinte anos presa e, depois de metade da sentença sem visitas, já que sua única irmã mora no exterior, começou a receber visitas de um certo rapaz, preciso ser mais claro?

- Sabe-se o que ele queria com ela?

- Não posso dar certeza, mas ela saiu em condicional dez dias antes do falecimento do Mark.

- Como ninguém pensou nela?

- Provavelmente por que sua mãe faleceu antes do rapto dos meninos.

Uma sensação de vitória, uma dor da antecipação surgiu trazendo consigo a esperança que há muito estava sobrevivendo a duras penas. Estou eufórica demais, pensou, preciso me controlar... Mas a endorfina cumpriu seu papel, e ao sair do restaurante estava com o sorriso mais genuíno dos últimos anos, difícil controlar a ansiedade, mas até a investigação parecia mais tolerável, empolgante até. Dali, eles seguiriam para o apartamento dele, estavam de mãos dadas, caminhando lentamente, vendo vitrine e ele, como bom namorado carregando todos os pacotes. A única questão era, como ia dormir ao lado dele sem intimidade... Já que cada toque dele viciava mais que chocolate?

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