Capítulo 5

- Mas, me conta de onde veio essa certeza que a morte do seu marido não foi um acidente simples, alguma prova?

- Provas, não, mas durante o nosso casamento ele teve oito intoxicações alimentares, todas no trabalho, cinco acidentes de carro, três tentativas de sequestro e diversas de assalto a mão armada... sorte todos nossos carros serem blindados. A gente costuma brincar que ele era o rei do azar, mas hoje acho que o anjo da guarda dele vivia fazendo hora extra.

- Entendo, mas, e um suspeito, você tem? Perguntou diante de seu laptop enquanto filmava perguntas e respostas, além de tomar nota de cada impressão enquanto aguardava uma imagem atualizada de como estariam os meninos atualmente (outros detetives utilizavam programas para isso, mas ele preferia contar com um retratista aposentado da polícia civil para essa função, a aparência ficava bem mais... Humana)

- Infelizmente tenho. Meu primo Teo. Ele veio com um papo estranho no velório, e eu o expulsei, naquele dia, acabei internada, meu cérebro não resistiu ao choque da perda, fiquei dois dias praticamente em coma por esgotamento mental, mas quando fui buscar meus meninos, que deveriam estar com a minha tia Helô, não estavam mais com ela... E suas respostas eram vagas e incoerentes, por fim, ela até ajoelhou implorando para eu não envolver a polícia ou a mídia, dizendo ser para manter o bom nome da nossa família. Arrematou com voz embargada.

- Sei que dói, e muito, mas preciso de detalhes desde o acidente, não esses do dossiê, mas direto de você, com o máximo de detalhes que puder lembrar.

- Lembrar é fácil pra mim, quem me dera poder esquecer! Mas ok, lá vamos nós. Era o primeiro fim de semana que viajaríamos sem os meninos, queríamos namorar um pouco, sabe? Fomos àquela pousada mar & luar, foi incrível... E na volta, estava tarde, surgiu um carro na contramão, desviamos para o acostamento e advinha? Tinha algumas garrafas de vidro quebradas lá, para me salvar ele girou o carro e bateu numa árvore imensa... A princípio pensei que ele estivesse desmaiado, não havia nem mesmo sangue,  ele estava lindo como sempre, disseram que tinha até um ar de satisfação, como quem cumpriu seu papel com êxito.

Passaram mais vinte minutos  com sua explicação sobre como descobriu exatamente do "sumiço" dos gêmeos, a reação de cada ente, a reação da polícia sobre suas suspeitas, a certeza que seu primo manipulava o sistema, os detetives que contratou, onde e como, na sua opinião falharam...

Eva observava a tudo com expressão de sofrimento, como se compartilhasse a perda.

- Elisa, você esqueceu de contar como nos conhecemos. Mas eu conto... disse servindo mais pudim para todos- Eu era a faxineira do escritório do terceiro detetive contratado, certo dia, alguns minutos depois de ela sair do escritório, entrou um cara enorme e bem vestido, eu estava limpando o banheiro privativo e acabei ouvindo sem querer ele oferecendo suborno ao meu chefe para enrolar as investigações, hoje sei que era o Teo, a voz é inconfundível, e o tom de arrogância muito evidente. Meu chefe não aceitou de cara, então tive esperanças, mas, tão logo o Teo insistiu, ele deu um preço exorbitante que foi aceito imediatamente... O pior, na minha opinião, é que quando ele saiu, o detetive ligou para a esposa contando vantagem de quanto ainda poderia extorquir de cada lado da história, chamava isso de aposentadoria tranquila. Não suportei, assim que o expediente terminou, procurei a Elisa e contei tudo! Claro que eu ficaria desempregada, mas prefiro passar aperto a me corromper.

- Então, fiz o mais sensato, eu a contratei. No registro da carteira de trabalho, conforme combinamos, ela está registrada como cozinheira, pra não chamar atenção, a casa, já estava em processo de aquisição, então passei pro nome dela. Assim, tenho onde morar, refeições incríveis e uma companhia mediana... disse brincando e levou um empurrão de Eva. Realmente aquelas duas eram muito mais amigas do que patroa e empregada. Tá bom, ótima companhia, sua convencida!

- E, o que te motiva? De onde vem essa resiliência toda?

- Como diz a Eva, a mesma água fervente que amolece a batata, endurece o ovo. O que importa mais que as circunstâncias é o que você tem por dentro.

- Isso mesmo, aplaudiu Eva, aprendeu direitinho!

- Bem, vocês duas são uma dupla incrível, o que me leva a questionar a sanidade de quem não te ouve.

- Bem, tudo que tenho é a certeza do que falo, e o nome dele tem tanto prestígio quanto o meu, ele é o arquiteto mais disputado da região. Sempre que o acuso, dizem que estou buscando alguém para culpar. Mas, indo direto ao ponto, tenho algumas perguntas. Primeiro, tem coragem de enfrentá-lo? Segundo, qual seu preço? E terceiro, topa fazer um jogo diferente e mais arriscado?

Jacob não titubeou, primeiro porque já acompanhava esse caso desde o início, e sonhava em resolvê-lo, segundo porque precisava da grana e de um caso assim, importante, para fazer fama e manter seu escritório (fora de cogitação trabalhar de seu quarto e chamar de home office) e por último e mais importante, estava fascinado por Elisa e não conseguia sequer se imaginar deixando-a na mão.

- Sei dos riscos, mas são ossos do ofício... Bem, esse é o valor dos meus serviços, mas eu adoraria saber que jogo arriscado é esse que você está falando?

- Como você deve ter notado, a abordagem direta falha sempre, então vou fingir ter deixado meus filhos pra lá, fingir que arrumei um novo namorado e que não estou nem aí pra mais nada, pelo que conheço do Teo, isso o fará atacar, o deixará imprudente.

- É possível que funcione.

- É nossa melhor opção! Ela estava exasperada, temendo que ele não fosse tão maluco como era necessário pra embarcar nessa.

- Sim, percebo. Mas, onde entro nesse plano? Vigilância?

- Quero que ouça minha proposta e lembre-se que sou uma mãe desesperada, mas que teve muito tempo para pensar a respeito... Seu papel é o de meu namorado.

- Como assim? Ele ficou tímido, confuso, curioso e eufórico, tudo ao mesmo tempo...

- Não se preocupe, não espero que você tenha... Intimidades reais comigo. Finalizou limpando a garganta com um falso pigarro. A parte ruim é que eu exijo exclusividade, a boa é que posso pagar bem mais que a sua tabela sem esforço, mas vou pedir que você abandone temporariamente quaisquer outros casos que esteja cuidando, arrume alguém confiável para ficar com seu escritório temporariamente. Vamos criar uma história.

- É, por que não um ator, ou modelo? Perguntou encabulado.

- Por que não seria crível. Não sou frívola, nem curto badalação, então seria mais fácil explicar eu namorando um pecuarista de renome, pois tenho muito conhecimento na área, sendo lógico eu conhecer alguém que tenha a ver.

- Entendo.

- Você vai ficar com meu carro, como se fosse um presente que te dei durante todo o processo, vamos anunciar nosso noivado indiretamente em sites de fofoca com flagras armados, então o Teo vai acabar surtando e se descuidando. O que acha?

- Realmente, com o nível de obsessão que ele tem por você, isso deve funcionar, enquanto isso, se você me autorizar, monto uma equipe para investigar sob nossa supervisão,  o que acha?

- Excelente.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***