No último acorde apenas me deixo cair de joelhos e tento voltar a respirar melhor. Mikaella vem correndo e me segura pelos ombros.
Consigo apenas sussurrar:
- Tempo... Eu preciso de um tempo.
Ergo meu corpo com dificuldade e saio em direção ao banheiro. Lavo o rosto e vejo que nem tive tempo de me maquiar de manhã. Meu reflexo está desleixado e descabelado.
Penteio meu cabelo com os dedos e refaço minha trança, depois de protelar muito volto para a sala e vejo que os ânimos estão calmos. Apesar de no fundo a música ainda estar sendo tocada num volume baixo.
Clara está explicando algo, não presto atenção e vou até as meninas.
- Amanhã todas deverão estar aqui na frente do hospital às oito horas, ok? – falo e percebo que minha voz está rouca pela força de não me deixar levar pelas lágrimas – O ônibus irá sair neste horário e não podemos nos atrasar. – dou um sorriso e as dispenso.
Elas se aproximam e me abraçam. Logo vejo as mães do lado de fora e assim que cada uma encontra a sua se encaminham aos seus quartos.
Mikaella está conversando com Enzo e percebo que me olha interrogativamente quando pego meu casaco e começo a vesti-lo, vejo-a pedir licença e caminhar na minha direção.
Ergo o olhar para seu rosto e ficamos nos encarando. Termino de vestir o casaco e pego minha bolsa e jogo sobre o ombro. Pego o gorro e a luva. Ela ainda me observa.
Solto um longo suspiro:
- Eu estou bem. Não se preocupe. Estou emocionalmente esgotada e preciso de um tempo. Vou caminhar e talvez fique por aqui mesmo, mas prometo que estarei aqui às oito horas como combinamos. – tento sorrir mas acabo desistindo e caminho para o elevador deixando as primeiras lágrimas caírem assim que as portas se fecham.
Caminho pela cidade deixando o vento gelado acariciar meu rosto e varrer todo o fogo que meu corpo tem. Como uma música tão simples consegue atingir meu interior e minha vida dessa forma.
Olho para as ruas e vejo as pessoas passarem apressadas se escondendo do frio. Encolhidas em seus grandes casacos e me olhando como se eu fosse algum tipo de aberração.
Escuto meu celular tocar e pego o aparelho apenas para confirma que Clara quer falar comigo. Dou um longo suspiro e jogo o aparelho no fundo da bolsa.
Entro num café. Peço um chá e sanduiches de creme de pepino. Fico sentada perto da janela olhando para fora com nostalgia. Depois de um tempo longo percebo um grupo se aproximar e entrar no local.
Sento ligeiramente mais ereta e continuo a tomar meu chá lentamente. Me recuso a olhar para as pessoas em volta.
Alguém limpa a garganta próximo de onde estou e uma sombra aparece ao meu lado. Fecho os olhos por alguns segundos e me obrigo a encarar os límpidos olhos azuis de Catarina.
- Posso me sentar? – me pede e concordo com um aceno.
Vejo seus filhos e a loira se sentarem numa outra mesa. O mais novo se coloca de costas para onde estou. Até agora não sei o porquê desse antagonismo todo.
- Hum você também gosta de sanduiches de pasta de pepino? Ivan adora também. – ela fala sorrindo e vejo em seus olhos o amor que tem por seus filhos.
- Eles são leves e acompanham bem um chá. – falo.
- Bem, você deixou algumas pessoas preocupadas quando saiu daquele jeito. Espero que tenha um bom motivo. – ela fala com carinho.
- Eu... não tenho boas recordações quando danço para pessoas que me olham como seu filho me olha. – respondi.
- Ele apenas não a conhece ainda, mas vai mudar de opinião quando perceber que você não é nada parecida com as outras pessoas. – ela fala e pega um pequeno sanduiche e o morde.
Tomo um gole do chá e observo novamente as ruas. Acho que toda a angustia que sinto se transparece em meu olhar ou talvez ela seja sensível o suficiente para perceber que algo está muito errado.
- Queria convidá-la para jantar comigo. – olho em sua direção e apenas deixo meu olhar recair sobre seu bondoso rosto – Se preferir pode ficar comigo hoje. Conversaremos sobre a competição e sobre assuntos mais agradáveis. O que acha?
- Melhor não. Seria desagradável impingir minha presença a seu filho. – respondo.
- Que nada. Eles têm seus próprios quartos no hotel. Não moramos nesta cidade. Somos de São Paulo e apenas viemos para visitar o hospital e vê-la dançar. – ela tem um sorriso tão calmo e carinhoso que me deixo contagiar e acabo sorrindo também.
- Bem, posso jantar com a senhora. Ficar seria abusar demais. Preciso apenas tomar um banho e trocar minhas roupas. – respondo.
- Ótimo vou falar com meus filhos e avisá-los que estarei com você. – ela se ergue e caminha até a mesa e comunica brandamente sua decisão.
Vejo Enzo sorrir em minha direção, mas dois pares de olhos estão me fuzilando e volto a prestar atenção nos transeuntes.
Ela retorna e toma seu chá calmamente. Sinto os olhos questionadores e permaneço na mesma posição. Quando terminamos, ela se ergue caminhando até a mesa.
Vejo seu filho mais novo passar seus braços por sua cintura e aninhar sua cabeça em seu peito, ela passa os dedos por seu cabelo.
Levanto recolhendo calmamente as xícaras e o prato e os levo até o rapaz que está atrás do balcão.
Pego minha bolsa e percebo que meu celular voltou a tocar e quando olho no visor vejo que Mikaella não irá desistir.
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Atualizado até capítulo 52
Comments
Lu Silva
to confusa tem hora que não sei quando é a Clara ou a mikaela
2022-07-30
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