Segredo entre amigos

Théo acorda cedo por causa das vozes que não param de discutir do lado de fora, ele se senta e percebe que se sente perfeitamente bem, dormiu pouco mais que 4 horas, mas, é como se ele tivesse dormido a noite inteira, está muito bem descansado, não resta nenhuma dor ou desconforto gerado pela doença, até mesmo as manchas de picadas sumiram e o pequeno corte que havia feito ao se barbear na manhã anterior parecia nunca ter existido.

Théo: - Isso é incrível, ontem sentia como se todos os meus órgãos estivessem derretendo, agora parece que tudo aquilo foi só um pesadelo distante. - Saí da cama.

Pega uma muda de roupas da cômoda e vai para porta desejando tomar um longo banho frio, ele não aguenta o calor meio abafado das ilhas, saindo do quarto ele vê que a porta de Miles está entreaberta e as vozes que ele ouvia antes saem de lá.

Maya: - Vamos, agora tira a calça. - Diz com pressa.

*Como assim? 😶*

Théo fica sem entender.

Milan: - Eu já disse que não quero! - Diz cansado.

Quando ele ouve Milan gritar isso ele se decide e vai em direção ao quarto.

Maya: - Mas, isso não é justo!

Pierre: Por Deus, Maya! Eu disse para pelo menos esperar que ele acordasse!

*Pierre também tá lá? Mas o que esses três tão fazendo*

Théo: Qual é a boa pessoal? - Para na porta com uma expressão de paisagem na cara.

A cena a sua frente é estranha, Milan está na cama com o cobertor puxado até o queixo, Maya está sobre ele com as mãos espalmadas sobre o que Théo imagina ser o seu peito enquanto Pierre a envolve com os braços parecendo tentar tira-la de lá ou estar se juntando a eles. Ao ver o Théo, Miles se tampa por completo com o cobertor e May faz um muxoxo com a boca.

Maya: - Anda saí logo daí e deixa eu ver! - Ela tenta puxar o cobertor sem sucesso.

Já Pierre finalmente consegue retira- la de cima do Milan. O tempo todo Théo ficou esperando que um deles respondesse a sua pergunta parado no batente da porta. Pierre faz um sinal com a cabeça e passa por ele levando uma Maya irritada porém silenciosa consigo.

Theodoro: - Bom dia? - Arrisca dizer esperando que ele lhe responda.

Milan: - Bom dia. - A voz saí abafada pelo cobertor que ele não retirou da cabeça.

Em duas passadas ele chega perto da cama, puxa o cobertor sem muito esforço deixando aparecer um Milan sem camisa com o rosto tão vermelho quanto um tomate maduro.

Milan: - Ela arrancou minha camisa - Choraminga.

Théo: - Hããã. - Olha o corpo dele de cima a baixo sem pudor.

Théo: - Quer dizer, por que ela fez isso? - Pergunta envergonhado.

Milan: - Queria ver se eu tenho alguma parte do corpo estranha. - Desvia o olhar.

Théo: - Kkkkkk por que você teria?

Milan: - Segundo ela por que eu sou um E.T.C?

Théo: - Etc? 🤔

Milan: - Acho que é só o E.T mesmo... - Puxa o cobertor de volta até o queixo.

Soltando o ar que ele nem sabia que estava segurando Théo decide se sentar na borda da cama...

Théo: - Você quer explicar melhor?

O que ele recebe em resposta é uma negativa de cabeça.

Théo: - Combinamos de conversar todos juntos hoje não foi? - Se levanta.

Théo: - Vou tomar banho e conversamos todos na mesa do café, pode ser? - Se vira e começa a ir para a porta.

Milan: - S... Sim! - Ele saí debaixo das cobertas.

Ele achava que o Théo já estava fora do quarto mas quando saltou da cama quase esbarrou com ele ainda parado ali, correndo ele pegou a roupa largada no chão e tentou vesti-la, mas, acabou vestindo um dos braços pela gola junto com a cabeça alargando tudo. O moreno que observava tudo em silêncio sacode os cabelos e saí do quarto dando risada.

Milan: - Droga! Eu pareço um bobalhão na frente dele todas as vezes. - Arranca a camisa e se joga na cama.

Uma hora depois ...

O cheiro de panquecas e calda de chocolate invade toda a casa, Théo ainda está no banho, ou pelo menos no banheiro fazendo sabe - se lá o quê, Pierre está dando comida a Sol enquanto garante que May may não vá invadir o quarto de Miles de novo. Milan saí do quarto arrastando os pés descalços no piso de madeira, o cheiro gostoso e doce o guia até a cozinha, mas, ao ver a May ele para.

Ele havia trocado de roupa, colocando uma camiseta branca com uma estampa tie - dye circular e colorida que era a sua favorita entre as que comprou e uma calça rosa. Parando a uma boa distância deles, ele observa as panquecas quentes soltando fumaça enquanto são colocadas no prato no balcão.

*Devo me arriscar a pegar uma?*

Maya: - Vamos esperar o Théo para o café! - Diz como se soubesse o que ele estava pensando.

Milan murcha, seu estômago roncando de fome, ele se vira chateado com Maya por mais cedo e caminha até Sol, ele senta perto do ninho de lã do pássaro e começa a falar baixinho com ele.

"Conversa indistinta"

Pierre assiste aos dois sem prestar atenção aos sussuros, ele fica curioso se como a mulher teimosa na cozinha parece pensar, Milan realmente tem algo que o diferencie de um ser humano, ele é alto, bonito, com a pele bem clarinha, mas, isso várias outras pessoas também são, suas orelhas são um pouco pontudas, mas, não é nada que o torne fora do comum.

Sol começa a cantar, e Milan o acompanha cantarolando com uma surpreendente voz melodiosa, o silêncio se instaura na casa, apenas estrela e passarinho se fazem ouvir pelo lugar. Théo saí de mansinho do banheiro com os olhos brilhando de admiração, se juntando aos demais na cozinha ele ouve a melodia enquanto olha pra criatura inocente que a canta sem vaidade, de olhos fechados, sentado no chão com alpiste caído sobre a roupa sem se importar com nada.

Milan abre os olhos e quando os nota olhando para de cantar e fala: - Eu sou uma estrela, não sei como fui parar na água aquele dia, nem como voltar para casa, me desculpem pelos transtornos que eu possa estar causando. - Limpa a mão suada na calça.

Théo: - Você não está...

Milan: - Espera, deixa eu terminar de falar!

Então ele conta tudo a eles desde sua infância cheia de deveres, ao dia em que foi trancafiado por seu pai, até o dia da destruição de tudo, deixando de fora apenas o detalhe de que a destruidora era a sua mãe.

Milan: - Então eu acordei cercado pelo líquido, pensei que estava morto, mas, o céu límpido e claro daqui me provou o contrário, eu não tinha ânimo nenhum então só fiquei lá largado na superfície boiando e o resto todos aqui já sabem. - Ele torceu tanto uma almofada enquanto falava que ela perdeu a forma.

Milan: - Já tem um tempo que eu suspeito que esse é o planeta dos Lurras então não estou tão longe assim de Austéria.

Théo: - Lurras?

Milan: - É como Dix me disse que sua raça se chamava. Conseguia ver seu mundo da janela dos meus aposentos. - Ele começa a ficar desanimado.

Maya: - Caraca, você via aqui lá do espaço?

Milan: - Sim, sou um quasar, temos visão bem aguçada.

Pierre: - Você disse isso antes.- Todos olham para ele.

Pierre: - Não sobre a visão, falo disso de ser um quasar...

Milan: - Aaah, as estrelas também tem subdivisão por raças como vocês, quasar é a minha raça.

Eles conversam por horas sobre as estrelas, sua sociedade, suas raças, o reino de Milan, a princesa que ele só descobriu que era sua noiva depois que toda galáxia já sabia, sua mãe e suas irmãs... Milan se sentiu mais livre, mais leve depois de compartilhar tudo com aqueles três, Théo do seu jeitinho tentava fazer ele ficar a vontade para se abrir mais, Pierre fazia piadas bobas o tempo inteiro enquanto que Maya falava sem parar até mesmo tentando contar a história no lugar dele.

Théo: - Vamos fazer um acordo? - Diz com expressão solene.

Todos aguardam ele continuar.

Théo: - Nenhum de nós contará para alguém fora dessa sala qualquer coisa que seja sobre o Mile ser uma estrela, fechado? - Ele olha nos olhos de cada um.

Milan: - Por que? - Pergunta confuso.

Théo: - Porquê, o ser humano teme sempre o desconhecido e tenta controla - lo a todo custo. - Diz em tom sério.

Maya: - Sem contar que você tem habilidades inimagináveis que muitos pagariam tudo para ter, só aquele pó que curou o Théo seria o suficiente pra ... - Para indecisa.

Pierre: - Verdade e quando algo é tão único quanto você eles cobiçam e já sabe como é né? Aquele lance de ou tomam posse ou destroem para ninguém mais ter.

Milan: - Eu conto com vocês para guardar isso em segredo então. - Ele diz sério enquanto olha pra todos gentilmente.

Maya: - É isso aí rapaz, agora vamos selar isso numa promessa legal de mãos?

Ela tenta ensinar a ele um jogo de apertos de mãos complicado, mas ele se embola todo, no fim eles fazem aquele lance de um por todos e todos por um de os mosqueteiros e fica por isso mesmo.

Assim a amizade do grupo começou de verdade, com um segredo para proteger um novo amigo.

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