Buraco Negro

Assim que Milan viu seu rosto ele soube imediatamente que toda destruição que via ali havia sido causada por ela, sem hesitar nem por uns instante enquanto grossas lágrimas caiam de seus olhos ele se aproximou da mulher e a abraçou.

Milan: - Acabou mamãe, tudo bem! Pode parar agora? Por favor!

Todos os anos em que ele permaneceu preso sem ver ninguém, tiveram efeitos muito mais negativos nela do que nele mesmo, toda raiva, amargura e dor por ter seu filho injustamente punido apenas por querer decidir como viver a sua vida, corromperam de tal forma a alma da rainha que ela se tornou aquilo que uma estrela mais teme se tornar um dia - um buraco negro, vazio e sem alma.

Ela tentou se afastar do filho, sibilando de raiva e se debatendo, mas, ele continuou abraçado a ela com força enquanto chorava e buscava com o olhar algum sinal de tivesse mais alguém com vida por ali, mas, em cada canto que sua vista batia tudo que via eram coisas indefinidas, quebradas e ensanguentadas.

Estrelas tem muito poder, não se trata somente de sua longevidade incrível, mas, elas possuem em seu cerne uma força de combustão explosiva, que não só é responsável por fazer com quem sejam vistas como luzes brilhantes no céu, como também pode ser usada como uma arma se desejado, com isso e uma habilidade de cura e saúde esplêndidas, quando uma estrela se corrompe a tal ponto como se corrompeu a rainha, toda essa força e habilidade é canalizada para a devastação e vencer uma delas é algo extremamente difícil. Claramente ninguém mais estava vivo naquele lugar, ninguém escapou da "explosão" de Ataliah, apenas o príncipe.

Era surpreendente o fato de que ela ainda não havia se afastado dele e o atacado, ele a sentia tremer entre seus braços e delirar dizendo palavras sem sentindo, quase como que para ela mesma.

Milan: - Está tudo bem, tudo vai ficar bem - seguia repetindo isso agora mais para si do que para a mãe.

*Onde estaria o rei?*

*Suas irmãs?*

*E os criados e criadas do castelo?*

*Até onde se estendia a destruição gerada pela transformação da rainha?*

*O que ele deveria fazer agora?*

*Era impossível reverter essa condição dela?*

Milhões de perguntas passavam a mil na cabeça dele, ele se sentia desamparado ao ponto de até mesmo desejar ver surgir diante deles seu odioso pai, como que num passe de mágica e que o rei começasse a dar ordens indicando uma solução plausível a ser seguida. Durante o tempo em que o príncipe buscava algo ou alguém para ajuda-lo a resolver aquela situação Ataliah foi ficando cada vez mais instável e num momento de distração dele, ela o lançou longe e correu na direção oposta numa velocidade desconcertante, mesmo em sua melhor forma Milan seria incapaz de alcança- lá, correndo assim, mesmo se quisesse.

Ao se levantar Miles decidiu procurar suas irmãs, pedia silenciosamente ao Cosmos que elas estivessem vivas e bem e que por tudo que há de mais luminoso, que não fossem delas nenhumas daquelas partes ensanguentadas que lhe embrulhavam o estômago ao olhar. Andou pelo que restava dos corredores, sem rumo definido, chegando finalmente a uma sala circular que parecia ser a parte do castelo que levou muito mais dano que o restante, tudo naquela sala havia sido praticamente vaporizado, mas, o que chamava a atenção era o enorme rastro de sangue que ia do centro até um canto escuro do cômodo.

Voz rouca: - Então você foi poupado, hein? Não está completa ainda. - Uma voz disforme soltou essas palavras com o que pareceu ser muito esforço.

Milan: - Quem está aí? - Apesar da visão amplamente aguçada ele não conseguia distinguir nenhuma forma naquele pequeno breu onde a pessoa se mantinha.

Uma risada de escárnio que logo se tornou uma tosse forte e sofrida, foi ouvida por todo lugar, e uma sensação incômoda tomou conta do príncipe.

Milan: - Vo... Vossa Majestade? - Perguntou em dúvida.

Nenhuma resposta.

Milan: - Vossa Majestade? - Insistiu.

Nenhuma resposta novamente.

Então ele sentiu um vento estranho soprar em seu rosto e logo um líquido quente e pegajoso começou a descer por sua bochecha... O cheiro inconfundível de sangue o fez perceber o que aconteceu, o rei havia lançando algum tipo de arma e tentando acertar a cabeça dele, como ele obviamente estava ferido, o que quer que ele tenha jogado não teve uma mira precisa e passou de raspão cortando o canto da sua bochecha direita.

Milan: - É inacreditável, até mesmo numa hora dessas, você tem a pior das atitudes possível. - Sem qualquer esperança ele se deixa cair sentado num dos escombros.

Rei Orestes: Você é o culpado de tudo isso. Se você não existisse talvez com um bom plano eu....

Milan: - Cala a Boca! - A raiva surgiu em ondas dentro dele. - Se tem algum culpado aqui, esse é você!

Milan: - Onde estão minhas irmãs? O que você fez com elas?

Rei Orestes: Eu? hahahaha - Tosse - Olhe em volta, meu filhinho, tudo isso aqui foi obra da sua querida mãezinha.

Milan: - Ela não tem controle sobre seus atos, seja lá o que for que gerou isso, é tudo sua culpa! Alguma coisa você fez.

Rei Orestes: - Estão todos mortos, tudo está destruído! Todos mortos, e você logo estará morto também!

Finalmente o rei saiu do canto envolvido em breu, na sua mão levava uma espada curva semi serrilhada, em seu rosto olhos enlouquecidos e o eterno sorriso de desdém que sempre reservava a família, sua roupa estava em frangalhos e havia sangue caindo por sua perna.

Eles eram ferramentas para os seus objetivos, as ferramentas estavam defeituosas ele precisava se livrar de todas elas! Ele era o pior dentre todos, o causador de sua desgraça!

Orestes se adiantou em direção ao jovem que tanto odiava com a espada preparada para degola-lo, mas, algo o parou em meio ao ato.

Ataliah havia surgido ali como que em um flash, com apenas uma das mãos ela vaporizou não só a espada como também a mão que a segurava e assistiu com os olhos vazio e sem expressão aquele que era seu marido a se debater e urrar de dor, enquanto a xingava sem parar e sem pudor. Mesmo sem uma das mãos e perdendo cada vez mais sangue ele parecia decidido a no mínimo levar Milan junto com ele e pegando do chão a espada avançou mais uma vez...

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