Orestes

Orestes era sedento por poder desde que era um príncipe, ele desejava aumentar seu controle sobre o universo, seu número de súditos e suas riquezas e isso era a única coisa pela qual ele zelava e cedia sua total dedicação.

Quando se tornou rei, ficou ainda mais obcecado em alcançar o que almejava, fazendo alianças, travando guerras e o que mais pudesse para aumentar suas conquistas. Por fim desposou a doce e bela princesa Ataliah, fingindo estar apaixonado e se aproveitando da ingenuidade e confiança dela nos outros para conquista- lá e absorver para si o pequeno reino vizinho governado pela família dela.

Mostrando sua verdadeira faceta após o casamento, o rei era rude e indiferente a esposa, apenas ligava para a rainha com relação a procriação, exigindo dela o cumprimento de suas obrigações como esposa, porém ter filhos era apenas mais uma ferramenta para aumentar seu domínio, ele nem sequer hesitava em maltratar Ataliah sempre que podia, ele gritava com ela o tempo todo e deixava claro para todos a sua raiva, frustração e desgosto para com a rainha toda vez que a gravidez não vingava ou ela tinha uma menina "inútil" para os planos dele, culpando a mulher de coisas absurdas como estar dando a luz a meninas de forma proposital.

Quando finalmente ela deu a luz a um menino, ele ficou eufórico, começou seus planos e mal ouviu a parteira que foi até ele temendo que a morte da rainha fosse algo iminente devido a tudo que ela sofreu ao parir. Nenhum outro reino tinha herdeiros masculinos, ele podia planejar e tirar proveito disso para aumentar consideravelmente suas posses e território. Casar o menino com a princesa recém nascida do rei de Emder faria seu território dobrar de tamanho, seria fácil se livrar do rei depois do casamento e por o garoto no lugar dele

Ele então fingiu que escolheria a prometida para seu filho após vê-la pessoalmente pedindo para ver as meninas recém nascidas de famílias nobres a fim de não levantar qualquer suspeita ou deixar clara sua preferência, definindo logo de cara todos os passos para a realização do seu plano. O príncipe seria criado de acordo com suas especificações, e condicionado a ser totalmente obediente a ele, por fim isso o permitiria manipular das sombras todas as ações dele após sua subida ao trono de Emder.

Logicamente ele contava com um caminho livre, sem qualquer impedimento e resistência da parte de ninguém, mas, a personalidade do seu dito herdeiro começou a incômoda-lo assim que o menino aprendeu a falar e pensar por si mesmo, a criança era muito solícita, sorridente e curiosa, insistia em querer saber de tudo e mais um pouco, cheia de perguntas irritantes e era sempre gentil e doce com todos, ainda que o rei cortasse ao máximo essa atitude, se livrado das pessoas que a incentivavam ou supriam bons sentimentos, ele nada podia fazer com relação a influência da rainha e das irmãs sobre o príncipe. Já que qualquer ato direto contra elas seria mal visto pelo povo e pelos demais reinos prejudicando sua imagem e sua imagem precisava ser irrepreensível para manter sua credibilidade e boas relações políticas.

Quando Milan não aceitou se submeter e cumprir todos os planos do pai sua cerimônia de maioridade foi cancelada e ele foi preso em seus aposentos com a promessa do pai de que se ia se recusar a cumprir seus desejos só sairia dali morto ou por cima após a morte dele. Ele permaneceu ali pelo que pareceu uma eternidade, na absoluta solidão já que até mesmo as visitas de sua mãe e irmãs foram proibidas e a única pessoa que ele via era um criado assustado que vinha trazer sua parca refeição que lhe era fornecida diariamente e corria assim que o prato deixava sua mão. Orestes aparecia as vezes apenas para fazer a mesma pergunta.

Rei Orestes: - Então você finalmente deixará de ser caprichoso e seguirá com o casamento?

Milan: - Prefiro definhar aqui até morrer! - Diz irredutível.

Rei Orestes: Como preferir! - Vira e vai embora.

Com o tempo Milan passou a ignorar totalmente a pergunta, sem fornecer qualquer resposta ao pai que logo se enfurecia e saía, seus dias pareciam infinitos para ele, sem qualquer noção de quando um dia acabava e outro começava, tudo que lhe restava era sua mente e seu conhecimento que ele usava como distração, criando histórias na cabeça onde ele viajava para os mundos que adorava observar quando criança e conhecia e se tornava amigo de todo tipo de criatura por lá.

Milan: - Um dia eu ainda farei tudo isso, esse velho não vai viver mais que eu! - Mesmo enquanto falava isso ele sentia seu espírito se esforçando para não se quebrar.

O que tornou mais suportável o seu confinamento e solidão foi descobrir que uma das janelas do seu quarto não havia sido vedada como as outras, dali ele pode observar um planeta que era curiosamente bem visível dali, ver a interação dos seres vivos dele, o amor, o carinho e os relacionamentos que possuíam e construíam era algo lindo. Até mesmo quando tudo que tinha para observar eram guerras, sofrimento, mentiras e ódio ele se forçou a olhar na esperança de que o amor que sua mãe sempre lhe ensinou e lhe deu e que ele acreditava ser incondicional prevalecesse, o que quase sempre acontecia... Assistir a tudo isso amenizava e tornava quase que bons, os seus solitários dias.

85 anos se passaram, e a notícia que se espalhou era de que o príncipe estava doente, uma doença contagiosa e estranhamente sem cura e portanto ele não podia ser visitado. Apesar de ser incomum que estrelas ficassem doentes ou até mesmo feridas, em casos raros quando acontecia eram doenças violentas e terríveis, o resultado disso era que todas as demais estrelas evitavam a doente com medo e preconceito. A maior parte da sociedade comentava como tinham pena do rei, perdendo assim o herdeiro de que tinha tanto orgulho e ele tirava proveito disso e zombava do príncipe em sofrimento, por que ele ainda saiu ganhando mesmo com a teimosia do outro.