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**BALADAS DE REBELIÃO**

**Capítulo 10: Epílogo - Canção dos Condenados**

A *Rebeldia* cruzou a estratosfera como um cometa de sangue e esperança, seu casco rangendo sob o peso de mil histórias não contadas. Lia, agora mais algoritmo que humana, sentia a rede de satélites da Virtutec como extensões de seu próprio sistema nervoso. Cada nave-colmeia em órbita era um tumor a ser extirpado.

— **Três minutos até o alcance máximo** — Artur anunciou, seu corpo quase totalmente substituído por máquinas após o último ataque. — **As defesas deles estão em...**

— **Eu vejo** — Lia interrompeu, percebendo as armas antimaterial se alinharem. Seus olhos, fractais em constante mutação, calculavam cada variável. — **Sofia, prepare as sementes estelares. Igor, as sombras são suas.**

Lúcia, envolta em um manto de silêncio e luz, tocou o painel de controle. Mapas estelares surgiram, revelando a verdadeira ameaça: as naves não levavam apenas os "escolhidos". Levavam *ovos* — embriões de uma nova raça projetada para consumir mundos.

A batalha começou com um erro. Um feixe de prótons varreu a ponte da *Rebeldia*, desintegrando o braço mecânico de Artur. — **Não importa** — ele riu, reconectando fios expostos. — **Já sou mais fantasma que homem.**

Sofia lançou suas sementes no vácuo. Brotaram em árvores de raízes quânticas que perfuraram os escudos das naves. Igor mergulhou no vazio, suas sombras criando monstros de puro medo que infestaram os corredores inimigos.

Lia enfrentou Celeste no cerne da nave-colmeia principal. A ex-geneticista agora era um titã de carne e luz, seu corpo uma galáxia em miniatura.

— **Você não entende, Lia** — Celeste rugiu, esmagando estrelas em suas mãos. — **A humanidade é um vírus. Eu sou a cura.**

— **E eu sou o anticorpo** — Lia respondeu, liberando o vírus dourado.

O confronto foi além da física. Elas lutaram em supernovas, dobraram buracos de minhoca, rasgaram o tecido de realidades paralelas. Lia sentiu sua humanidade desfiando-se a cada golpe — memórias de sua mãe, o cheiro de óleo de sua oficina, o riso de seu irmão — transformando-se em algoritmos frios.

Na *Rebeldia*, Lúcia assumiu o controle. Suas mãos pequenas dançaram sobre os controles, desviando a nave através de um campo de asteroides sintéticos. Cada movimento seu deixava marcas luminosas no ar, profecias em código binário.

— **Ela vai cair** — a menina sussurrou, pela primeira vez em semanas. — **Mas a música não pode parar.**

Quando Lia finalmente atravessou o coração de Celeste com uma espada feita de pura vontade, o vírus dourado infectou as naves-colmeia. Crianças em cápsulas acordaram, seus poderes se voltando contra os sistemas que as escravizavam.

— **Você... as condenou** — Celeste riu, desintegrando-se. — **Elas nunca serão humanas.**

— **Serão o que escolherem** — Lia respondeu, caindo de joelhos enquanto seu corpo começava a cristalizar-se em pura energia.

Na Terra, a transmissão final da *Rebeldia* ecoou: imagens da frota colmeia autodestruindo-se em auroras boreais, enquanto as crianças modificadas fugiam em cápsulas de escape para mundos desconhecidos.

Artur, com seu último fragmento de humanidade, lançou a *Rebeldia* contra o sol artificial da Virtutec. — **Para iluminar a escuridão** — foram suas últimas palavras.

Igor e Sofia morreram abraçados, suas sombras e raízes entrelaçando-se em um monumento orgânico que flutuaria no espaço por eras.

Lúcia, única sobrevivente, flutuou em sua cápsula rumo a um planeta virgem. Em suas mãos, carregava um cristal com a consciência residual de Lia — não uma deusa, não uma máquina, mas uma canção.

Anos depois, nas areias vermelhas de Marte, colonos encontrariam estátuas primitivas: figuras humanoides com braços mecânicos, coroas de raízes e sombras alongadas. Ao pé delas, uma inscrição:

**"Aqui repousam os condenados que nos ensinaram a cantar."**

E em um planeta distante, sob um sol alienígena, Lúcia — agora adulta com cicatrizes que mapeavam todo o cosmos — ensinava crianças de olhos luminosos a forjarem suas próprias baladas.

A rebelião nunca terminou. Apenas aprendeu a dançar.

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