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**BALADAS DE REBELIÃO**

**Capítulo 7: O Legado da Chama**

A cidade respirava cinzas. Onde antes se erguia o Farol Virtude, agora havia um crânio geológico de concreto derretido e vergalhões retorcidos. Lia caminhava entre os escombros, seu exoesqueleto desativado pendurado como uma carcaça metálica nas costas. A chuva ácida lavava o chão, misturando-se ao ouro líquido que escorria das veias das crianças — resíduos da energia cósmica que haviam absorvido.

No acampamento provisório montado na Praça das Eras, Sofia alimentava fogueiras com sementes mutantes que purificavam o ar. As chamas verdes iluminavam rostos marcados: Artur, com um olho agora mecânico após o ataque das Sentinelas; Igor, cuja sombra às vezes ganhava vida própria, independente de sua vontade; e as crianças, cujas cicatrizes-relâmpago brilhavam como constelações sob a pele.

— Recebemos um sinal da Zona Leste — anunciou Artur, projetando um mapa holográfico manchado de interferência. — Um grupo de cientistas dissidentes oferece abrigo.

— É uma armadilha — Igor raspou uma lâmina contra a pedra, criando faíscas que desenhavam rostos desconhecidos na escuridão. — A Virtutec não morreu. Está se reorganizando.

Lia observou Lúcia, que brincava com gotas de chuva suspensas no ar, modelando-as em minúsculos exoesqueletos. Cada movimento da menina deixava rastros de luz fosforescente. *Ela está evoluindo*, pensou Lia, lembrando das palavras de Graham. *Nós todos estamos.*

A decisão foi interrompida por gritos na periferia. Um grupo de sobreviventes arrastava uma figura enlameada: uma mulher com uniforme da Virtutec, o rosto desfigurado por queimaduras de plasma.

— Encontramos ela espiando os poços de água — um homem acusou, apontando uma ferramenta enferrujada.

A mulher riu, mostrando dentes revestidos de prata. — Vocês realmente acham que venceram? O Projeto Divindade tem células em nove cidades. E o próximo Farol já está sendo construído.

Sofia aproximou-se, flores venenosas brotando entre seus dedos. — Quem é você?

— Drª. Celeste Vorn — ela estufou o peito, onde um emblema de fênix estava tatuado. — Geneticista-chefe do Programa Renascimento. E vocês... — Seus olhos fixaram-se em Lia com um misto de fascínio e nojo. — Você é o *Sujeito 09*. A falha que deu certo.

Lia sentiu o soro de Blight Bug queimar em suas veias novamente. — O que querem com as crianças?

Celeste inclinou-se para frente, corrente elétrica dançando em suas pupilas dilatadas. — Você entende errado. Não queremos as crianças... queremos *você*. Seu código genético é a ponte para a próxima evolução.

Antes que alguém reagisse, explosões iluminaram o horizonte. Aeronaves não identificadas despejavam uma névoa âmbar sobre a cidade. Onde o gás tocava o chão, o concreto se transformava em uma substância gelatinosa que engolia prédios inteiros.

— Neuroplasma — Artur identificou, cobrindo o rosto com um trapo. — Dissolve matéria orgânica e sintética. Eles querem apagar toda a evidência.

Lia correu para Lúcia, protegendo-a com seu próprio corpo enquanto o caos se instalava. — Para os túneis! — ordenou, mas as palavras perderam-se no rugido de um jato supersônico.

No céu, uma silhueta dourada cortava as nuvens. *Ele*. Captain Virtue, ou algo que havia ocupado seu lugar — mais alto, mais brilhante, com asas mecânicas que borravam o ar de distorções térmicas.

— Não pode ser... — Sofia murmurou, mas Lia já sabia a verdade.

Não era o mesmo homem. Era *pior*.

O novo Captain Virtue pousou como um meteoro, criando uma cratera que engoliu três sobreviventes. Seu rosto era uma máscara perfeita de aço vivo, e quando falou, foi com mil vozes sobrepostas:

— O ciclo recomeça. A chama nunca se apaga.

Lia empurrou Lúcia para os braços de Igor. — Levem-na! — gritou, enquanto ativava o exoesqueleto em modo de sobrecarga.

A batalha foi breve. Cada golpe de Lia desviava das placas biomecânicas do novo Capitão, que aprendia com seus movimentos em tempo real. Quando ele a prendeu pelo pescoço, Lia sentiu algo estranho — sua pele não era fria, mas *quente*, pulsando com vida artificial.

— Você é semente e fruto — a voz ecoou dentro de seu crânio. — Venha germinar onde pertence.

Foi Sofia quem interveio, lançando uma semente de árvore carnívora geneticamente modificada. A planta envolveu o Capitão, dando tempo para a retirada.

Na segurança relativa dos túneis, as crianças choravam. Lúcia agarrou-se a Lia, suas cicatrizes-relâmpago agora formando padrões complexos.

— Ele falou comigo — a menina sussurrou. — Disse que você é minha mãe agora.

Artur examinava os dados roubados da Drª. Celeste. — O Programa Renascimento não é só sobre clonagem. Eles estão fundindo consciências em redes neurais. Captain Virtue é uma IA alimentada por milhões de mentes... incluindo a do original.

Lia olhou para suas mãos, onde veias douradas começavam a surgir sob a pele. O soro, as exposições à energia cósmica, seu DNA — tudo convergia para uma transformação inevitável.

— Precisamos ir para as Montanhas de Silício — ela decidiu, apontando para uma região no mapa coberta de símbolos de radiação. — Se querem jogar deuses, vamos dar-lhes um *inferno*.

Enquanto a noite caía sobre a cidade moribunda, o grupo se moveu sob a cobertura de tempestades artificiais criadas por Artur. Nas mãos de Lia, a foto de sua mãe grávida incendiou-se, as chamas revelando um código oculto nas bordas: **PROJETO FÊNIX**.

E em um laboratório enterrado sob o deserto, o novo Captain Virtue observava seu exército de seres híbridos — meio máquina, meio criança — despertar.

A rebelião havia mudado de forma. Agora, era uma guerra entre espécies.

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