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**Capítulo 6: Sementes da Revolta**

A noite em Neo-Luz respirava inquietação. As ruas, antes dominadas pelo brilho frio de holofotes e telas de propaganda, agora fervilhavam com murmúrios e olhares desconfiados. A transmissão da verdade ecoava em cada canto, despedaçando a ilusão de heroísmo que por anos encobrira a cidade. Enquanto Lia e Artur se esgueiravam por becos escuros, evitando patrulhas de segurança reforçadas, sentiam o peso do que haviam desencadeado.

"Está diferente," sussurrou Artur, observando um grupo de jovens pintando grafites com os rostos de Captain Virtue riscados. "O medo está se transformando em raiva."

Lia assentiu, segurando os documentos contra o peito como um talismã. "Mas raiva sem direção vira caos. Precisamos canalizar isso." Ela pensou nas palavras de sua mãe, morta anos atrás em um "acidente" durante uma intervenção do Capitão: *"A verdade é uma semente, Lia. Plante-a onde o medo secou a terra."*

O esconderijo era um apartamento abandonado no Distrito 9, região esquecida pelos heróis e pelas câmeras. Sofia e Igor já os aguardavam, cercados por telas mostrando notícias fragmentadas.

— A mídia corporativa está tentando desacreditar os vazamentos, — anunciou Sofia, apontando para um repórter que falava sobre "hackers terroristas". — Mas as redes alternativas estão explodindo. Olhem isso.

Um vídeo caseiro mostrava uma multidão cercando a estátua de Captain Virtue na Praça Central. Uma mulher idosa jogava tinta vermelha no pedestal, gritando: *"Assassino!"*

— As pessoas estão prontas, — disse Igor, seu rosto iluminado pelo brilho azulado das telas. — Mas sem organização, serão massacradas.

Artur esboçou um sorriso irônico. — Então vamos organizá-las. Que tal um show de hologramas? Imagine o Capitão Virtue dançando valsa com o logotipo da corporação.

— Precisamos de mais que truques, — Lia interrompeu, abrindo os documentos em uma mesa. — Aqui há nomes. Políticos, juízes, executivos... todos financiados pelas corporações que os heróis protegem. Se expusermos cada um, a estrutura deles desmorona.

— Dividamos as informações, — sugeriu Sofia. — Vazamentos coordenados, um por dia. Mantenha o fogo aceso.

O plano foi traçado com urgência. Enquanto Sofia e Igor cuidariam da rede de comunicação, Artur usaria seus hologramas para projetar mensagens revolucionárias em prédios icônicos. Lia, porém, tinha uma missão mais perigosa: infiltrar-se no Quartel-General da Liga Heroica para obter provas físicas — algo incontestável, mesmo pela mídia controlada.

— É suicídio, — advertiu Igor, cruzando os braços. — Eles estarão em alerta máximo.

— Justamente por isso, — ela respondeu, ajustando uma jaqueta reforçada com placas de metal. — Ninguém espera um ataque direto agora.

***

A madrugada trouxe uma chuva ácida que corroía as placas de metal das construções. Lia avançou pelo sistema de esgotos, usando sua habilidade para sentir vibrações no metal ao redor. Cada passo era calculado, cada respiração, controlada. Quando emergiu sob o Quartel-General, uma estrutura imponente de aço e vidro inteligente, sentiu o coração acelerar.

O lugar era protegido por campos de força e guardas geneticamente modificados. Mas Lia conhecia cada parafuso da construção — seu pai havia sido um dos engenheiros que ergueram aquele símbolo de opressão. Antes de morrer, lhe contara sobre uma falha intencional no sistema de ventilação: um duto de emergência revestido com liga metálica sensível à bioassinatura de sua família.

— Você sempre soube que esse dia chegaria, pai? — sussurrou, tocando a parede. O metal respondeu, abrindo-se como uma flor mecânica.

Dentro, os corredores estavam desertos, iluminados por uma luz azulada. Lia seguiu até o arquivo central, onde relatórios de missões eram armazenados. Foi então que ouviu vozes.

— ...não podemos permitir que essa insurreição cresça. — Era Captain Virtue, falando em um comunicador. — Ative o Protocolo Fênix.

*Protocolo Fênix.* O nome ecoou na memória de Lia. Seu pai mencionara isso uma vez, embriagado de raiva e remorso: um plano para incinerar "elementos subversivos" em praças públicas, disfarçado de acidente industrial.

— Não tão rápido, herói, — Lia sussurrou, conectando um dispositivo ao terminal. Dados começaram a fluir para seu pendrive, mas uma luz vermelha piscou.

Alarme.

Ela correu, os passos ecoando atrás dela. Guardas apareceram em todas as saídas, armas apontadas. Captain Virtue surgiu no fim do corredor, seu manto imaculado flutuando como uma asa negra.

— Pensei que viria, — ele disse, com uma calma aterradora. — Você é persistente, como sua mãe.

A menção dela fez Lia estremecer. — Cale a boca. Você não tem direito de falar dela.

— Ela entendeu o preço da desobediência. Você também entenderá.

O Capitão avançou, mas Lia ergueu as mãos. Todo o metal ao redor — canos, vigas, até as balas das armas — curvou-se à sua vontade, formando uma tempestade de estilhaços.

— Você subestima o poder daqueles que não têm nada a perder, — ela gritou, lançando o ataque.

A batalha foi breve e brutal. Lia escapou por um triz, carregando não apenas os dados, mas uma nova ferida no ombro — e a certeza de que o Protocolo Fênix seria executado em 48 horas.

De volta ao esconderijo, enquanto Sofia tratava seu ferimento, Lia olhou para os companheiros.

— Eles planejam um massacre. Milhares morrerão se não agirmos.

Artur cerrou os punhos. — Então vamos transformar o Protocolo deles em sua própria fogueira.

Na tela, ao fundo, as projeções de hologramas mostravam cidadãos destruindo símbolos dos heróis. A revolta crescia, mas o verdadeiro teste estava por vir. Lia sorriu, amargo.

— A faísca se tornou chama. Agora, vamos incendiá-los.

Enquanto a chuva ácida dava lugar ao amanhecer, Neo-Luz suspirava em uma encruzilhada. E em algum lugar nas sombras, uma nova mensagem piscava nos dispositivos da população: *"O Fênix deles queimará mentiras. Nossa fogo trará a verdade. Amanhã, resistimos."*

A contagem regressiva começara.

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