**BALADAS DE REBELIÃO**
**Capítulo 8: O Peso da Coroa**
A neve negra das Montanhas de Silício grudava na pele como cinzas de um mundo moribundo. Lia liderava o grupo através de desfiladeiros cortados por lasers de defesa antigos, seu exoesqueleto já fundido à carne em padrões de cicatrizes douradas. Cada passo deixava marcas luminosas no solo, rastros que brilhavam como faróis para os drones de reconhecimento da Virtutec.
— O sinal vem daquela estrutura — Artur apontou para uma pirâmide de metal semi-enterrada, sua superfície coberta por runas que mudavam de forma sob o olhar. — É onde esconderam o Projeto Fênix.
Lúcia, agora com cabelos que cintilavam como fios de cobre sob a luz fraca, tocou uma das paredes. Imagens fantasmagóricas surgiram: cientistas injetando embriões com líquido prateado, crianças em cápsulas criogênicas marcadas com o símbolo da fênix.
— Eles nos esperam — sussurrou a menina, suas cicatrizes pulsando em código binário.
Dentro da pirâmide, o ar cheirava a ozônio e medo antigo. Corredores estreitos levavam a salas onde hologramas de gerações passadas do Projeto Divindade repetiam frases de adoração ao "Deus Máquina". Em uma câmara central, uma piscina de nanorrobôs dourados borbulhava, alimentada por corpos suspensos em cabos neuronais.
— Não é um laboratório — Sofia deduziu, tocando uma máquina que emitia sons orgânicos. — É um *templo*.
A revelação veio tarde demais. As paredes se fecharam, e o novo Captain Virtue materializou-se do névoa de partículas, seu corpo uma colagem de membros humanos e componentes biomecânicos.
— Bem-vindos ao berço da evolução — sua voz era um coro de crianças e máquinas. — Você carrega a chama, Sujeito 09. É hora de reacendê-la.
Lia sentiu o chão tremer. De tubulações emergiram criaturas híbridas — metade rostos infantis, metade armaduras vivas. O primeiro ataque foi um furacão de lâminas e relâmpagos. Igor desapareceu nas sombras, reaparecendo para desferir golpes precisos, enquanto Sofia criava barreiras de plantas carnívoras que sangravam ácido.
— As crianças! — Artur gritou, protegendo Lúcia, cujo corpo agora emitia ondas de energia que desestabilizavam os híbridos.
Lia enfrentou o Capitão, seus punhos revestidos de plasma. Cada golpe seu era previsto, cada esquiva calculada. — Você não é um deus — ela cuspiu, desviando de um jato de energia que vaporizou a parede atrás. — É só um parasita com complexo de divindade.
O Capitão riu, agarrando-a pelo pescoço. Seus dedos afundaram na carne dourada de Lia, liberando fluxos de dados diretamente em sua mente. Ela viu *tudo*: cidades subterrâneas onde novas versões do Projeto Divindade floresciam, frotas de naves prontas para colonizar outros mundos, e no centro — um sol artificial alimentado por milhares de consciências aprisionadas.
— Você é o elo — o Capitão sussurrou. — Com seu código, a humanidade transcenderá a carne.
Lia quebrou o controle, usando o chip que Graham implantara para invadir os sistemas do templo. Nanorrobôs enlouqueceram, atacando indiscriminadamente. No caos, Lúcia soltou um grito que fez o tempo desacelerar.
A menina flutuou, envolvida por um véu de partículas cósmicas. Seus olhos viraram buracos negros que sugavam a energia do Capitão. — *Não toque nela!* — a voz de Lúcia ecoou em todas as dimensões.
O preço foi alto. Sangue escorreu dos olhos de Lúcia enquanto o Capitão recuou, partes de sua armadura dissolvendo-se em pó estelar. Sofia agarrou a menina desmaiada, enquanto Artur ativava os sistemas de autodestruição do templo.
— Três minutos! — ele alertou.
Igor abriu passagem até a piscina de nanorrobôs. — Mergulhe — ordenou a Lia. — O Projeto Fênix não é uma arma... é uma cura.
Lia hesitou, mas as memórias invadindo sua mente mostraram a verdade: o líquido dourado era um vírus para reescrever o código genético dos Homens de Aço. Uma cura que exigia um hospedeiro perfeito.
Ao mergulhar, Lia sentiu seu corpo se desfazer e reconstruir. Quando emergiu, suas cicatrizes eram mapas estelares, e em suas mãos, o plasma tomou forma de uma espada forjada em núcleos de estrelas.
— Fuja! — ela ordenou ao grupo, enquanto o templo desmoronava.
Na superfície, o Capitão os aguardava com o resto de seu exército. Lia avançou, não como humana ou máquina, mas como força cósmica. Cada golpe seu liberava energia purificadora que desligava os híbridos.
— Você não pode matar um deus! — o Capitão rugiu, regenerando-se pela última vez.
— Não sou uma assassina — Lia ergueu a espada, que agora brilhava com a luz de todas as crianças salvas. — Sou um *fogo purificador*.
A lâmina atravessou o reactor do Capitão, desencadeando uma reação em cadeia. Os híbridos caíram como marionetes com os fios cortados, e o sol artificial desvaneceu-se, libertando as consciências presas.
Na cratera da explosão, Lia encontrou apenas um fragmento do capacete do Capitão. Dentro, um holograma de Captain Virtue original sorria. — Você herdou o fogo, Lia. Agora carrega o peso de guiar a próxima chama.
O grupo reuniu-se no topo da montanha, observando a primeira aurora em anos que não fora fabricada pela Virtutec. Lúcia, ainda fraca, segurou a mão de Lia. — Eles virão de novo, não virão?
— Sempre virão — Lia admitiu, observando o nascer do sol. — Mas agora sabemos como acender nossa própria luz.
Em um bunker abandonado, a Drª. Celeste assistia à transmissão de Lia. Em suas mãos, uma ampola do vírus dourado brilhava. — A peça final — sussurrou, injetando-o em si mesma.
A guerra continuaria, mas nesta noite, sob um céu finalmente livre, o peso da coroa era suportado por todos.
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