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**BALADAS DE REBELIÃO**

**Capítulo 5: Filhas da Tormenta**

O esconderijo cheirava a terra molhada e medicação rudimentar. As oito crianças salvas do Setor 9 ocupavam colchonetes no canto mais quente da Linha 7, suas cicatrizes-relâmpago pulsando em sincronia com as descargas elétricas que escapavam dos fios expostos no teto. Lia observava a mais nova, uma garota de cinco anos chamada Lúcia, cujos olhos brilhavam como faróis em noite de nevoeiro. *Assim como os meus devem ter brilhado*, pensou, tocando a foto amassada de sua mãe grávida.

— A Oráculo mandou novos dados — Artur anunciou, projetando hologramas acima da mesa improvisada. Imagens de laboratórios subterrâneos da Virtutec piscavam, mostrando câmaras de vidro com fetos suspensos em líquido azulado. — Eles não estão apenas modificando crianças... estão *cultivando* uma nova geração.

Sofia ergueu uma das mãos, onde uma videira fina brotava de seu pulso, envolvendo-se em padrões hipnóticos. — Algumas dessas crianças já manifestam habilidades. A Lúcia... — Ela hesitou, olhando para a menina que agora fazia gotas d’água dançarem acima de sua palma. — Elas são como sementes plantadas em solo envenenado.

Igor emergiu das sombras, carregando um estojo de instrumentos cirúrgicos roubados. — O Graham acordou. E não vai gostar do que vou fazer. — Seus olhos negros fixaram-se em Lia. — Precisamos saber onde ficam esses laboratórios.

Lia ajustou o exoesqueleto, agora modificado com peças das Sentinelas destruídas. — Eu vou com você.

— Você está muito envolvida — advertiu Sofia. — Isso é uma armadilha emocional.

— Toda a nossa existência é uma armadilha — Lia respondeu, passando por ela.

Na sala de interrogatório improvisada, Edward Graham estava acorrentado a uma cadeira de metal, seus implantes neuraléticos desativados por inibidores de frequência. Seu rosto, antes impecável, estava marcado por queimaduras do pulso eletromagnético.

— Quantas gerações? — Lia perguntou, segurando a foto de sua mãe diante de seus olhos. — Quantas crianças foram modificadas antes mesmo de nascerem?

Graham riu, um som rouco de quem havia perdido a fé até na própria voz. — Você realmente acha que foi a primeira? O Projeto Divindade começou há 40 anos. Seus avós foram *voluntários* na fase inicial.

A revelação atingiu Lia como um soco no plexo. Ela recuou, sentindo o exoesqueleto tremer em sintonia com seu pulso acelerado.

— Mentiras — sussurrou.

— Por que você acha que sua família morava no Bairro Esperança? — Graham inclinou-se para frente, as correntes rangendo. — Era um centro de monitoramento. Seu irmãozinho não foi um "dano colateral". Ele foi a primeira criança da segunda geração a apresentar compatibilidade total.

Igor prendeu a cabeça de Graham contra a mesa com uma sombra solidificada. — Onde estão os laboratórios?

— Sob o Farol Virtude — o cientista cuspiu sangue. — Onde mais um deus construiria seu Olimpo?

Uma explosão abalou o esconderijo. Nos monitores, câmeras de segurança mostravam três figuras descendo do céu: DEEP IMPACT com seu manto de água pressurizada, Blight Bug envolto em uma nuvem de insetos metálicos, e uma nova figura com asas de energia plasmática — Seraphiel, a "mão direita" de Captain Virtue.

— Eles vieram pelo Graham — Artur gritou, enquanto hologramas de defesa surgiam ao redor das crianças.

Lia correu para o arsenal, ativando seu exoesqueleto em modo de combate total. — Sofia, leve as crianças pelos túneis! Igor, crie distrações. Artur...

— Já estou dentro — ele respondeu, dedos dançando sobre teclados luminosos. — Desativei os sistemas antigravidade deles por... três minutos.

— O suficiente — Lia sorriu, sem alegria.

A batalha foi breve e brutal. DEEP IMPACT inundou o corredor principal com jatos de água capazes de cortar aço, mas Lia redirecionou a energia para seus propulsores, voando em espiral para evitar Blight Bug, cujos insetos perfuravam paredes de concreto. Seraphiel, porém, era diferente — suas asas emitiam uma frequência que fazia o exoesqueleto de Lia vibrar dolorosamente, como se quisesse se desmontar.

— Você carrega o sangue deles, mas não a graça — a nova Heroína sussurrou, tocando a máscara de Lia. — Vamos te levar para onde pertence.

Foi então que Lúcia apareceu, pequena e frágil, suas cicatrizes-relâmpago brilhando como supernovas. Com um grito que ecoou nas fundações da cidade, uma onda de energia pura explodiu da criança, desintegrando as asas de Seraphiel e lançando Blight Bug contra uma parede.

O preço foi alto. Sangue escorreu do nariz de Lúcia enquanto ela caía, inconsciente.

— RETIRADA! — Lia ordenou, agarrando a criança.

Enquanto fugiam pelos túneis de raízes que Sofia mantinha abertas, Lia olhou para trás uma última vez. No centro da destruição, Seraphiel se levantava, suas asas se regenerando com partículas de energia roubadas do ar.

— O Farol Virtude — Lia murmurou, sentindo o peso de Lúcia em seus braços. — É lá que isso termina.

Na sala de servidores da Linha 7, Artur descobriu a verdade mais cruel: as transmissões de Captain Virtue continham subfrequências que alteravam a química cerebral. A "devoção" que as massas sentiam era tão artificial quanto os poderes dos Heróis.

E no bolso de Lia, a foto de sua mãe revelava uma inscrição microscópica no verso: *"Sujeito 09 - Compatibilidade 97%. Proceder com fase de ativação."*

Enquanto o sol nascia, tingindo de dourado as ruínas de mais um esconderijo perdido, Lia entendeu que para vencer os deuses, teria que se tornar algo maior que humana.

Mas no laboratório sob o Farol Virtude, Captain Virtue assistia a tudo através dos olhos de Seraphiel. E sorria.

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