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# BALADAS DE REBELIÃO

## Capítulo 3: Tempestade Conduzida

O ar dentro da estação abandonada crepitava com eletricidade estática. As luzes piscavam freneticamente enquanto o sistema elétrico improvisado lutava contra a crescente tempestade do lado de fora. Através das claraboias rachadas, raios cortavam o céu em padrões impossíveis, desenhando símbolos de advertência.

"Ele está brincando conosco," murmurou Artur, observando os monitores que mostravam a dança elétrica acima. "Graham sempre teve um senso teatral exagerado."

Lia terminou os ajustes em seu exoesqueleto, os servomotores sibilando suavemente quando ela testou a mobilidade dos braços. O dispositivo era uma obra-prima de engenharia improvisada, feito de peças sucateadas e componentes roubados dos laboratórios da Virtutec.

"Teatralidade é uma fraqueza," respondeu ela, verificando as conexões no sistema de comunicação embutido no pulso. "Qualquer um que precise de um show para parecer poderoso tem inseguranças que podemos explorar."

Sofia moveu as mãos em um padrão complexo e as raízes que havia feito crescer nas paredes da estação se entrelaçaram, formando um escudo natural que começava a absorver a energia eletromagnética que vazava do céu.

"As plantas estão captando a assinatura energética dele," ela disse. "É mais forte do que da última vez. Ele está canalizando algo novo."

Igor emergiu das sombras no canto da sala, segurando uma pasta desgastada de couro. Seus olhos, quase completamente negros quando usava seus poderes, voltavam lentamente ao cinza-claro habitual.

"Projeto Prometeu," anunciou ele, entregando a pasta a Lia. "Encontrei isso nos arquivos que baixamos da Torre. Graham não é apenas uma bateria humana; ele está sendo usado como condutor para algo maior."

Lia abriu a pasta, examinando rapidamente os documentos. Esquemas técnicos mostravam implantes neurais conectados a um dispositivo chamado "Amplificador Tempestade", capaz de canalizar energia atmosférica em escala global.

"Malditos sejam," ela sussurrou. "Não é só um sistema de armas; é controle climático. Eles estão literalmente brincando de deuses."

Um estrondo ensurdecedor sacudiu a estação inteira, fazendo poeira e concreto caírem do teto. No monitor central, uma figura desceu do céu, envolta em um halo de relâmpagos azul-esbranquiçados. Edward Graham havia chegado.

"Ativem o Faraday," ordenou Lia, ajustando uma última conexão em seu exoesqueleto. O dispositivo em seu braço esquerdo começou a emitir um zumbido baixo.

Artur correu para o painel de controle principal e iniciou uma sequência de comandos. Imediatamente, filamentos metálicos ocultos nas paredes da estação começaram a brilhar com um tom azulado.

"Gaiola de Faraday ativada," ele confirmou. "Temos noventa segundos antes que as células de energia se esgotem."

"Tempo suficiente," Lia acenou com a cabeça para Igor e Sofia. "Vocês sabem o que fazer."

Os dois assentiram e desapareceram — Igor fundindo-se com as sombras e Sofia descendo por uma escotilha cercada por vinhas protetoreas.

Lia se dirigiu para a entrada principal da estação, os passos de seu exoesqueleto ecoando no chão de concreto. O plano era simples e desesperado, como todos os bons planos de batalha: atrair Graham para dentro da gaiola de Faraday, sobrecarregar seus sistemas com um pulso eletromagnético reverso e extrair informações sobre o ataque planejado ao Setor 9.

Ao abrir as portas da estação, Lia foi recebida por uma visão que faria qualquer pessoa comum recuar de terror. Edward Graham pairava três metros acima do solo, seu sobretudo preto esvoaçando em um vento antinatural. Relâmpagos corriam por seu corpo como serpentes luminosas, e seus olhos brilhavam com a mesma intensidade de um farol em noite de tempestade.

"Lia Campos," sua voz ribombou como trovão distante. "A mecânica que se tornou terrorista. Você causa muitos problemas para alguém sem poderes reais."

Lia deu um passo à frente, sentindo a energia do exoesqueleto amplificar cada movimento. "Engraçado. Eu ia dizer o mesmo sobre você, Graham. Um cientista brilhante reduzido a brinquedo da Virtutec."

Uma expressão de raiva crispou o rosto normalmente composto de Graham. Ele desceu até tocar o solo, relâmpagos chicoteando o ar ao seu redor.

"Você não sabe nada sobre a importância do que estamos construindo," ele respondeu, avançando em direção a ela. "Os Homens de Aço são a única coisa que impede esta cidade, este mundo, de mergulhar no caos."

"É mesmo?" Lia recuou estrategicamente em direção à entrada da estação. "Porque da última vez que verifiquei, eram vocês que afogavam bairros inteiros, experimentavam com civis e extorquiam empresas por 'proteção'."

Graham lançou um relâmpago diretamente contra ela — um aviso, não um ataque completo. Lia deixou que o raio atingisse seu exoesqueleto, os absorvedores eletromagnéticos instalados nas juntas capturando a energia e redirecionando-a para as baterias.

"Você é mais resistente do que parece," observou Graham, genuinamente surpreso.

Lia sorriu. "Você nem imagina o quanto."

Com um movimento fluido, ela recuou para dentro da estação, cada passo calculado para atrair Graham mais profundamente na armadilha. Ele seguiu, relâmpagos iluminando seu caminho, a arrogância evidente em cada passo confiante.

"Sabe qual é o problema com vocês, Homens de Aço?" Lia continuou provocando, observando os indicadores em seu pulso que mostravam a carga dos capacitores aumentando. "Vocês começaram acreditando em suas próprias mentiras. Captain Virtue com sua justiça seletiva, DEEP IMPACT com sua falsa preocupação ecológica, e você... o brilhante Dr. Edward Graham, que sacrificou sua humanidade por poder."

"Eu não sacrifiquei nada," Graham rosnou, eletricidade crispando entre seus dedos. "Eu evoluí. Nós evoluímos. É a próxima etapa para a humanidade."

Lia parou no centro exato da estação, sob o domo principal. As luzes acima piscaram quando Graham entrou completamente no perímetro da gaiola de Faraday.

"Evolução forçada não é evolução, é experimento," respondeu Lia, sua voz endurecendo. "E vocês estão experimentando com vidas inocentes." Ela ativou o comunicador. "Trickster, agora!"

As paredes da estação ganharam vida quando os filamentos metálicos ocultos começaram a brilhar intensamente. Graham olhou ao redor, percebendo tarde demais a armadilha. Tentou lançar um relâmpago massivo contra o teto, mas a eletricidade simplesmente correu pelos condutores nas paredes, formando um circuito fechado ao redor dele.

"O que é isso?" ele exigiu, a confiança dando lugar à confusão.

"Ciência básica," Lia respondeu, ativando o mecanismo final em seu exoesqueleto. "Algo que você deveria se lembrar dos seus dias pré-divindade."

O dispositivo em seu braço emitiu um pulso eletromagnético direcionado, amplificado pela energia que seu exoesqueleto havia absorvido do próprio ataque de Graham. O pulso atingiu Graham como uma onda invisível, fazendo-o cambalear. Pequenas fagulhas saltaram dos implantes ocultos sob sua pele, e por um momento aterrorizante, seus olhos piscaram como telas de computador reiniciando.

"Você tem implantes de controle," Lia observou, avançando cautelosamente. "Como todos os outros Homens de Aço, não é? Virtutec não confia em vocês o suficiente para deixá-los com total autonomia."

Graham caiu de joelhos, seu corpo convulsionando enquanto sistemas complexos tentavam se recalibrar. Relâmpagos ainda corriam por sua pele, mas caóticos, incontroláveis.

"Vocês... não entendem..." ele conseguiu dizer entre espasmos. "O Projeto Divindade não é... o que vocês pensam."

Lia se ajoelhou diante dele, mantendo uma distância segura. "Então nos diga. O que é o ataque planejado ao Setor 9? Por que Captain Virtue ativou o Protocolo Arcanjo?"

Graham levantou a cabeça, e por um instante, Lia viu algo inesperado em seus olhos: medo.

"Não é um ataque," ele sussurrou. "É uma colheita."

Antes que Lia pudesse questionar mais, um som agudo irrompeu do comunicador em seu pulso.

"Ferro, temos problemas!" A voz urgente de Sofia preencheu o canal. "Esquadrões da Virtutec estão se movendo para o Setor 9 agora. Não é apenas Graham; eles enviaram Lady Vex e um esquadrão completo de Sentinelas."

Graham sorriu fracamente, sangue escorrendo de seu nariz. "Vocês nos subestimaram... como sempre. Isso... foi apenas uma distração."

O estômago de Lia afundou. Eles haviam caído em uma armadilha enquanto pensavam estar preparando a sua própria.

"O que está acontecendo no Setor 9, Graham?" ela exigiu, agarrando a lapela de seu sobretudo.

"A próxima fase," ele respondeu, seus olhos girando para cima quando uma convulsão mais forte o dominou. "Os... escolhidos."

Na parede oposta, um monitor mostrava transmissões ao vivo de câmeras de segurança pirateadas. No Setor 9, crianças estavam sendo separadas de suas famílias e escoltadas para transportes da Virtutec. Soldados em exoesqueletos avançados mantinham os pais desesperados à distância com campos de força, enquanto a elegante figura de Lady Vex, com seu traje violeta e capacidade de manipular emoções, caminhava entre eles, acalmando-os com seus poderes.

"Meu Deus," murmurou Lia, horrorizada. "Eles estão levando as crianças."

Graham começou a rir, um som entrecortado por espasmos. "Não são apenas crianças... são a próxima geração de Homens de Aço. Os nascidos da tempestade."

Lia olhou novamente para o monitor, notando algo que havia perdido inicialmente. Todas as crianças sendo levadas tinham uma marca semelhante no antebraço — um pequeno padrão de cicatrizes que lembrava um relâmpago ramificado.

O mesmo padrão que ela havia visto nos documentos do Projeto Prometeu.

O mesmo padrão que agora notava, visível pela camisa rasgada de Graham, espalhando-se pelo peito dele como veias elétricas.

"O que vocês fizeram?" ela sussurrou, a compreensão do horror tão esmagadora que mal conseguia respirar.

Graham sorriu uma última vez antes de seus olhos rolarem para trás e ele cair inconsciente. "Evoluímos... a espécie."

No silêncio que se seguiu, interrompido apenas pelo zumbido da gaiola de Faraday e os alarmes distantes do Setor 9, Lia entendeu que a batalha que haviam imaginado era apenas o início de algo muito maior. Não era apenas sobre corrupção e poder; era sobre o futuro da humanidade em si.

"Artur," ela chamou pelo comunicador, sua voz estranhamente calma diante da magnitude da revelação. "Prepare o transporte. Igor, assegure Graham. Sofia..."

Ela pausou, olhando para as crianças no monitor, suas faces aterrorizadas enquanto eram separadas dos pais.

"Sofia, encontre-nos no Setor 9. Vamos salvar essas crianças."

Enquanto Lia se erguia, ajustando seu exoesqueleto para a batalha que viria, uma certeza cristalizou-se em sua mente: a rebelião precisava se transformar. Não era mais apenas sobre expor a verdade — era sobre salvar o futuro.

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