ciúmes Sr?

Enquanto Melissa seguia para a faculdade, animada e ansiosa pelo segundo dia de aula, a mansão voltava ao silêncio habitual da noite. Aurora dormia tranquila em seu berço, após mais uma rotina carinhosa de banho e mamadeira preparada com o mesmo cuidado que Melissa vinha demonstrando desde que chegou àquela casa.

Mathew havia subido para seu escritório pouco depois. Trocara o terno por uma camisa leve e calça de moletom escura, tentando se desligar das obrigações do dia — mas sua mente teimava em não descansar.

Sentado na poltrona de couro próximo à estante, com um copo de uísque na mão, ele fitava o notebook aberto à sua frente. A tela exibia um contrato de negócios que exigia sua atenção, mas seus olhos vagavam, sua mente distraída.

Na verdade… ele estava esperando.

Não era uma espera consciente, planejada. Mas era real. Desde que Melissa havia saído, ele se pegava lançando olhares furtivos para o relógio digital sobre a escrivaninha. Seu peito se apertava com a lembrança do beijo da noite anterior. Daquele garoto. Do toque entre os dois.

De si mesmo, encarando a cena pela janela, com um nó incômodo na garganta e uma pontada que ele preferia chamar de "irritação".

Mas sabia o que era.

Era ciúme. Um tipo estranho de possessividade que ele não queria sentir — e que, mesmo assim, estava ali, pulsando com força.

Levantou-se da poltrona quando ouviu o portão externo se abrir. Apagou a tela do notebook com um clique seco e caminhou até a janela com passos lentos, mas atentos. O copo de uísque ainda em mãos, quase esquecido.

Do lado de fora, as luzes dos postes iluminavam a calçada. Um ônibus escolar parou perto da entrada.

Melissa desceu sozinha.

Ela ajeitou a mochila nas costas, colocou o capuz do casaco por causa do vento e seguiu caminhando calmamente até o portão. Seus passos eram leves, despreocupados, e havia um sorrisinho tímido nos lábios, como se estivesse lembrando de algo engraçado que alguém disse — ou das conversas com as amigas.

Mathew observou em silêncio. Esperava vê-la novamente com aquele garoto. Mas não. Não naquela noite.

"Hoje não teve beijo", murmurou, como quem faz uma constatação vazia. Mas havia algo por trás da voz — um alívio escondido, uma inquietação ainda presente.

Ele deu um longo gole no uísque e desviou os olhos para a taça por alguns segundos, como se tentasse recuperar o controle de si mesmo.

"Ridículo", disse em voz baixa, quase se repreendendo.

Mas não conseguia impedir.

A imagem dela voltando sozinha despertava nele uma estranha paz… e também uma frustração: por não entender o que Melissa significava na sua vida. Ainda não.

Sentou-se novamente na poltrona e apoiou os cotovelos nos joelhos, afundando o rosto nas mãos por um instante. Quando ergueu a cabeça, olhou para o berço pela babá eletrônica no canto da estante. Aurora ainda dormia.

— Pelo menos alguém aqui está em paz — disse, com um meio sorriso cansado.

Mas a verdade é que desde que Melissa chegou, a paz naquela casa vinha mudando de forma.

E Mathew estava começando a perceber que o silêncio que sempre o confortou, agora, doía.

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