Melissa e Vinicius

A noite caía suave, com um vento fresco atravessando a entrada da faculdade. As luzes dos postes se refletiam nas calçadas molhadas pela garoa fina que havia caído mais cedo. Melissa caminhava em direção ao portão principal da universidade, onde Isabella e Hanna a esperavam.

— Até que enfim, dona Mel! — brincou Hanna ao vê-la se aproximar. — Já achamos que você tinha desistido da gente.

— Nunca! — disse Melissa, sorrindo, enquanto as abraçava. — Tô meio perdida ainda com o novo horário... Mas que bom que estamos juntas.

— Ainda bem que conseguimos transferir juntas. As aulas à noite são um pouco mais puxadas, mas pelo menos estamos no mesmo barco — comentou Isabella.

— E como foi o seu dia com a baby Aurora? — perguntou Hanna, enquanto caminhavam juntas em direção ao portão de saída.

— Foi um dia cheio. Ela acordou de madrugada, dei a mamadeira, ficamos ali na poltrona até ela dormir... E eu acabei adormecendo junto — contou Melissa, com um risinho cansado.

— Fofura pura — comentou Isabella. — Mas sério, Mel, você tá com olheiras. Precisa descansar.

— Estou me acostumando ainda. Mas vou dar conta — respondeu firme.

Enquanto conversavam, Vinicius apareceu por trás, encostando no ombro de Melissa com leveza.

— E aí, meninas? Boa aula? — perguntou ele com um sorriso encantador.

— Nada que uma dose de cafeína e paciência não resolva — respondeu Hanna.

— Você sempre tão sedutor e agora simpático também? — provocou Isabella, arqueando uma sobrancelha.

Vinicius riu. — Faço o possível. Mel, quer carona hoje?

Ela hesitou, olhando para as amigas.

— Pode levar a gente também ou é charme seletivo? — perguntou Hanna em tom brincalhão.

— Claro que posso. Entrem aí. — Ele sorriu e destravou o carro com um clique.

Durante o trajeto, o carro ficou animado com a conversa das três garotas. Vinicius, dirigindo com calma, ia se metendo nos assuntos quando podia.

— Sério que vocês fazem medicina? — perguntou ele, curioso.

— Medicina com foco em pediatria — respondeu Melissa. — É o que eu sempre quis.

— Não duvido. Você tem cara de quem nasceu pra cuidar dos outros — disse ele, lançando um olhar mais intenso no espelho retrovisor.

Isabella e Hanna trocaram olhares e sorriram, percebendo o clima.

Pouco depois, ele parou em frente à casa das amigas.

— Meu motorista particular, obrigada — brincou Hanna, saindo.

— Se não quiser que a Mel fuja, trate-a bem — disse Isabella antes de fechar a porta.

Vinicius apenas riu, e o carro seguiu em silêncio por alguns segundos.

— Agora me diga o endereço? — ele perguntou.

— Já coloquei no GPS — respondeu Melissa. — Condomínio Jardins do Vale.

Ele arregalou os olhos e riu, surpreso.

— Sério? Eu moro lá!

— Coincidência, né? — disse ela, surpresa também.

— Ou destino. Mas como nunca te vi por lá?

— Provavelmente porque eu não moro. Trabalho. Sou babá da bebê do senhor Mathew D’Arcy.

— Ah... isso explica. — A voz dele ficou mais suave. — E ainda faz faculdade à noite. Você me surpreende cada vez mais.

Já próximos ao portão, ele parou o carro e saiu para abrir a porta para ela.

— Vinicius, obrigada pela carona. Foi gentil da sua parte.

Ele se aproximou devagar, os olhos fixos nos dela.

— Me diz uma coisa... por acaso você tem noção do quanto é encantadora?

Melissa riu, sem graça.

— Não joga esse charme todo pra cima de mim, Vinicius.

— É sincero. Desde que te conheci, tem algo em você que me prende... Não sei explicar. Mas sei que quero continuar descobrindo.

Antes que ela pudesse responder, ele se inclinou e a beijou no canto da boca — um toque leve, mas carregado de intenção.

— Boa noite, Mel.

Ela tentou conter o sorriso, ainda meio sem acreditar. Ele então a envolveu num abraço quente, apertado e inesperadamente carinhoso.

Quando ela entrou pela porta de serviço da mansão, senhor Mathew D’Arcy estava parado na janela do andar superior, observando com atenção.

Viu o carro, o rapaz, o beijo discreto e o abraço. Aquilo acendeu um incômodo silencioso dentro dele. Ele não entendia o motivo, mas o desconforto era inegável.

Seus olhos seguiram Melissa até ela desaparecer da vista.

A taça de vinho que segurava foi deixada de lado. E ele permaneceu ali, olhando para o escuro, com o cenho franzido e o silêncio da noite envolvendo seus pensamentos.

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