conexão de alma

O sol mal havia iluminado o céu de Paris quando Melissa acordou com o chorinho de Aurora. Seu corpo ainda cansado da noite anterior reagia lentamente, mas seu instinto era mais rápido que qualquer despertador. Ela se levantou, com o cabelo bagunçado e as pálpebras pesadas, e seguiu até o berço.

— Calma, meu amor... mamãe Mel já está aqui — disse, com um tom doce.

Segurou Aurora com cuidado e a aconchegou nos braços. A pequena choramingava, os olhinhos brilhando de sono e fome. Melissa pegou a mamadeira que havia deixado preparada na noite anterior e se sentou na poltrona ao lado do berço. Enquanto Aurora se alimentava, Melissa cantava baixinho uma canção que sua mãe costumava cantar para ela quando era pequena.

Depois de trocar a fralda e embalá-la novamente, Melissa caminhou pelo quarto com passos lentos, observando os detalhes do lugar. As paredes delicadamente decoradas, o perfume leve que pairava no ar. Havia paz ali... pelo menos, enquanto Aurora dormia.

Com a bebê adormecida, Melissa voltou para seu quarto, tomou um banho rápido e vestiu roupas confortáveis. Ainda era cedo. Sentou-se no chão com cadernos abertos ao redor, tentando revisar algumas anotações da faculdade enquanto tomava um café simples que Madame Lacroix havia deixado para ela.

Mais tarde, no andar de cima, Mathew estava em seu escritório, revisando relatórios do hospital. Embora concentrado, seus pensamentos escapavam vez ou outra. Na tela do notebook, o nome do hospital piscava entre gráficos e números, mas o que vinha à mente era a imagem de Melissa rindo com Aurora na tarde anterior.

Suspirou fundo, tentando afastar o pensamento. Era só gratidão, ele se dizia. Nada mais do que isso.

Na cozinha, Madame Lacroix preparava o almoço enquanto observava Melissa pela janela, no jardim com Aurora no colo.

— Essa menina tem o dom... nunca vi alguém se adaptar tão rápido a uma criança. — ela disse consigo mesma, sorrindo de canto.

— Madame? — Melissa entrou na cozinha um tempo depois, Aurora dormindo em um daqueles cangurus de pano junto ao peito. — Eu só vim buscar a toalhinha que deixei aqui ontem...

— Está na gaveta, ma petite. E tome um suco. Você precisa se cuidar também.

— Merci, madame.

À tarde, Melissa cuidou de Aurora com dedicação: hora do banho, uma caminhada curta no jardim, brinquedos coloridos e músicas suaves. A conexão entre elas se fortalecia a cada dia.

— Você é o meu raio de sol, sabia disso? — disse, beijando a barriguinha da bebê que soltou um som indecifrável. — Ah, se eu entendesse sua língua, Aurora...

Enquanto isso, Mathew desceu brevemente para almoçar. Como sempre, comia em silêncio. Mas ao ver Melissa brincando com Aurora na sala, seus passos diminuíram. Ele ficou ali por um segundo, observando sem ser notado. Havia algo de familiar na forma como Melissa segurava a bebê... algo que mexia com um canto adormecido dentro dele.

No fim da tarde, Melissa subiu para o quarto para se arrumar. Era o primeiro dia de aula no novo turno da faculdade. Separou a roupa com carinho: calça jeans, camiseta preta e uma jaqueta fina. Prendeu os cabelos em um rabo de cavalo, colocou os cadernos na mochila e respirou fundo diante do espelho.

Desceu as escadas com cuidado e encontrou Madame Lacroix na sala.

— Está indo?

— Sim, vou encontrar Hanna e Isabella na faculdade.

— Você cuida de tudo aqui como se fosse sua casa, menina. Tenho orgulho de você.

Melissa sorriu, emocionada.

— Obrigada por tudo, madame.

Antes de sair, foi até o berço de Aurora, beijou sua testa adormecida e sussurrou:

— A titia volta logo, minha estrelinha...

Mathew estava no escritório. Ao ouvir a porta se fechar, aproximou-se da janela por instinto. Viu Melissa atravessar o jardim e sair pelo portão, com os livros apertados contra o peito. Havia algo nela que o deixava inquieto... e ao mesmo tempo, estranhamente em paz.

Ele não sabia o nome daquilo. Ainda não.

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