O céu estava acinzentado, como se refletisse a ansiedade que Melissa sentia ao caminhar pelas ruas nobres da cidade. A mochila pendurada em um ombro, os sapatos simples batendo na calçada luxuosa, contrastavam com os portões dourados e os jardins impecáveis que cercavam as mansões dali.
Ela dobrou a última esquina com o coração acelerado, o papel do jornal amassado em sua mão suada. Parou em frente a um portão imponente de ferro forjado, com detalhes em ouro e um brasão elegante gravado no centro.
"Família D’Arcy", leu no letreiro sutil fixado ao lado.
Melissa engoliu em seco. O nome não lhe era estranho — ela já ouvira em algum lugar, mas a mente estava ocupada demais com a ansiedade para lembrar.
Apertou o interfone com os dedos trêmulos.
— Residência D’Arcy. — A voz feminina soou do outro lado, firme e séria.
— Oi… é… meu nome é Melissa. Vim para a entrevista da vaga de babá. Estava no jornal…
Silêncio por dois segundos.
— Pode entrar.
O portão se abriu com um rangido elegante. Melissa respirou fundo e atravessou o jardim impecável, onde as flores pareciam ter sido posicionadas com régua. A mansão à sua frente era colossal, de arquitetura clássica, janelas altas e portas duplas que pareciam ter saído de um filme.
A porta se abriu antes que ela pudesse bater. Diante dela estava uma mulher de estatura média, cabelos grisalhos presos em um coque rígido, vestida com um uniforme preto impecável. Seus olhos eram frios e atentos, como se pudessem ler a alma de Melissa.
— Senhora…? — Melissa começou, hesitante.
— Madame Lacroix. Sou a governanta da casa. Venha comigo. — E sem mais uma palavra, virou-se e começou a caminhar.
Melissa entrou. O chão de mármore branco, o brilho dos lustres de cristal e os quadros antigos nas paredes a deixaram deslumbrada — e um pouco intimidada.
— A vaga é para cuidar de uma criança de quatro meses — disse Lacroix, sem sequer olhar para ela. — Uma menina. Delicada. Sensível. Inteligente. O senhor D’Arcy exige descrição, pontualidade, responsabilidade. A babá será avaliada diariamente. Há acomodação nos fundos, caso a babá precise ficar durante a noite. O salário é acima da média. Mas não pense que será fácil.
— Eu entendo… — Melissa respondeu, tentando esconder o nervosismo. — Eu gosto muito de crianças. Sempre cuidei dos filhos de vizinhos, dos primos. E estudo enfermagem, então… talvez isso ajude.
Lacroix finalmente a olhou nos olhos. Avaliou com frieza, do tipo que desmonta qualquer sorriso.
— Veremos.
Passaram por corredores longos até chegarem à ala infantil da mansão. Um quartinho decorado em tons de lavanda e branco, com brinquedos organizados, cheirando a talco e paz.
No berço, dormia uma bebê de olhos fechados e bochechas coradas, respirando suavemente.
— Essa é a pequena Aurore. — A governanta falou com um leve carinho na voz, o único tom de doçura que demonstrara até então.
Melissa se aproximou com cuidado, os olhos marejando sem aviso. Talvez pela pureza da cena, talvez pela lembrança da infância perdida. Talvez pela certeza de que, pela primeira vez em muito tempo, estava pisando em um lugar que não era caos.
— Ela é… linda. — sussurrou.
— A entrevista termina amanhã — Lacroix disse, voltando ao tom firme. — Retorne às 10h. E venha pronta para provar que pode cuidar não apenas de uma criança, mas do bem mais precioso de um homem que não acredita mais no amor.
Melissa franziu a testa com a última frase, mas não perguntou. Apenas agradeceu e se retirou.
Lá fora, respirou fundo, olhando para o céu que agora começava a abrir algumas brechas de luz. Ela ainda não sabia, mas acabara de cruzar a porta de um novo destino. Um onde dor, recomeços e segredos dormiam lado a lado.
E onde, atrás de paredes silenciosas, Mathew D’Arcy a observaria pela primeira vez — sem ela saber.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 53
Comments
GAMER W (TITANS BR)
do adorando, que começo incrível, parabéns autora/escritora
2025-04-13
1