Olhares que Falam

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Melissa atravessou o jardim com passos leves, tentando não fazer barulho ao abrir a porta. Ainda era cedo, mas o silêncio da mansão a fazia se sentir como se estivesse invadindo um templo sagrado. A lembrança do beijo de despedida no canto da boca a fazia sorrir involuntariamente. Vinicius era simpático, atencioso… e charmoso. Mas havia algo que a impedia de se entregar completamente ao encanto daquele gesto.

Ao fechar a porta, ela ergueu os olhos e o viu.

Mathew estava no topo da escada, de camisa branca e calça de moletom escura, os cabelos bagunçados como se também tivesse passado a noite em claro. O olhar dele caiu direto sobre ela, como se estivesse esperando, como se já soubesse a hora exata em que ela voltaria.

Melissa congelou por um segundo. Os olhos dele… diziam tanto. Algo entre surpresa, incômodo e uma curiosidade silenciosa.

— Boa noite, senhor Mathew — ela disse, tentando soar natural, mesmo com o coração acelerado.

— Boa noite — respondeu, com a voz mais grave do que o normal. Seus olhos se demoraram um pouco demais nos lábios dela, como se ainda houvesse vestígios do beijo que vira da janela.

Melissa percebeu o olhar e desviou o rosto, disfarçando o rubor que subia pelas bochechas.

— Aurora dormiu bem?

— Está tranquila… Só acordou uma vez, perto das duas. Madame Lacroix me avisou. Mas voltou a dormir rápido.

Ela assentiu, e começou a subir as escadas.

— Você se divertiu? — Mathew perguntou de repente, a voz baixa, quase num tom casual, mas carregada de algo que ela não conseguiu identificar de imediato.

_Foi só mais um dia de aula .

— Boa noite, senhor Mathew — disse ela, apertando a alça da bolsa nos ombros, encerrando o assunto ali mesmo.

— Boa noite.

Ela passou por ele, mas antes que chegasse ao corredor, a voz dele ecoou de novo:

— Aquele rapaz. Ele é seu namorado?

Melissa virou-se de leve, surpresa.

— Vinicius? Não… só somos amigos. Estudamos juntos.

Mathew encarou a caneca por um segundo antes de erguer o olhar de volta para ela.

— Amigos? — murmurou, quase como se testasse a palavra na boca. — Amigos costumam beijar assim?

Ela piscou, sentindo o coração acelerar.

— Foi só um gesto. Ele é carinhoso, só isso… — respondeu, tentando parecer natural.

Mathew assentiu devagar. O silêncio entre eles durou alguns segundos, mas foi cheio de algo não dito. Algo que fez Melissa se sentir observada, analisada.

— Só achei curioso — disse ele, por fim. — Você parece ser… mais reservada.

Melissa sorriu de lado, ainda com os pensamentos confusos.

— Boa noite, senhor Mathew — murmurou novamente, antes de subir as escadas.

— Boa noite, Melissa — ele respondeu, observando-a desaparecer pelo corredor.

Assim que entrou no quarto, o celular vibrou. Três mensagens no grupo com as amigas.

Hanna: Já chegou, mulher?

Isabella: E esse Vinicius hein… aquele olhar não era de amigo, não!

Melissa riu, deitou-se na cama e respondeu:

Melissa: Cheguei sim. Depois eu conto… teve beijo.

Ela mordeu os lábios, sentindo uma onda de confusão — não apenas por Vinicius, mas por outro olhar que insistia em ficar na memória.

O olhar de Mathew.

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