O sol ainda nem tinha aparecido completamente quando Melissa despertou com o barulho do despertador antigo no criado-mudo. Ela se espreguiçou, limpou os olhos e, com o corpo ainda pesado, levantou-se. O quarto era simples, com paredes descascadas, mas ela o mantinha limpo e arrumado como podia. Apressada, fez sua higiene matinal, vestiu jeans, uma camiseta básica e prendeu os cabelos em um coque despretensioso.
Saiu de casa fechando o portão com cuidado, para não acordar a mãe — ou ao menos não a provocar logo cedo. O caminho até a faculdade era longo, mas ela estava acostumada. Com o fone nos ouvidos e a playlist favorita tocando, Melissa atravessou as ruas de Marselha como quem não podia se dar o luxo de parar.
Na porta da faculdade, foi recebida por Isabela, com seu sorriso sempre escancarado.
— Ô, minha médica preferida! — disse Isabela, abrindo os braços pra um abraço.
— Pelo amor de Deus, Isa, nem passei do terceiro período ainda — riu Melissa.
— Detalhes! — interrompeu Hanna, se aproximando com um copo de café na mão. — O importante é que tu já tá no caminho, mana. E outra: a professora hoje vai pegar pesado, viu?
— Como sempre — Melissa suspirou. — Mas melhor do que ficar em casa...
As amigas trocaram olhares cúmplices, já sabendo do que ela estava falando. Isabela passou o braço pelos ombros de Melissa e puxou as duas para dentro do prédio.
— Bora vencer mais um dia, minha filha. Depois a gente se acaba no croissant da lanchonete. Eu pago!
O dia passou entre aulas, cadernos rabiscados, risadas contidas e a velha esperança de um futuro diferente. Melissa se concentrava como se a vida dependesse disso — e no fundo, dependia mesmo.
Ao fim da tarde, despediu-se das amigas e tomou o ônibus de volta. O céu nublado parecia um presságio. Ao girar a chave de casa, o cheiro forte de álcool a fez prender a respiração.
— Mãe? — chamou, com receio.
Encontrou Katherine jogada no sofá, segurando uma garrafa pela metade, olhos vermelhos e expressão desorientada.
— Olha quem resolveu aparecer — disse com a voz arrastada. — A estudante de medicina... acha que é melhor do que eu, né?
— Mãe, não começa, por favor... — Melissa colocou a mochila no chão, tentando manter a calma. — Eu tô cansada, só quero tomar um banho e...
— Tá cansada de quê? De ficar o dia todo fingindo que estuda? — Katherine se levantou cambaleando. — Eu quero saber é quando você vai arrumar um emprego! Não vou sustentar vagabunda aqui dentro!
— Vagabunda?! — Melissa piscou, surpresa. — Eu dou tudo de mim nessa faculdade, mãe. Você acha que é fácil? Acordar cedo, passar horas em sala de aula, estudar até tarde? Eu tô tentando construir uma vida melhor pra nós duas!
— Eu não te pedi isso! — gritou. — Se quiser continuar aqui, arruma um trabalho ou pega tuas coisas e some!
O coração de Melissa se apertou. A voz embargou, mas ela permaneceu firme.
— Eu não sou um fardo, mãe. Eu tô lutando… e sei que você não é mais a mulher que me criou. Mas um dia, você vai lembrar que eu nunca te abandonei, mesmo quando você se esqueceu de mim.
Sem esperar resposta, Melissa subiu pro quarto, sentindo o peso do mundo sobre os ombros. Lágrimas silenciosas rolaram em seu rosto enquanto ela olhava para o teto, tentando lembrar por que ainda acreditava num amanhã melhor.
Mas no fundo, ela sabia: era por ela. E por aquela parte da mãe que ainda morava em seu coração.
O sol ainda nem tinha aparecido completamente quando Melissa despertou com o barulho do despertador antigo no criado-mudo. Ela se espreguiçou, limpou os olhos e, com o corpo ainda pesado, levantou-se. O quarto era simples, com paredes descascadas, mas ela o mantinha limpo e arrumado como podia. Apressada, fez sua higiene matinal, vestiu jeans, uma camiseta básica e prendeu os cabelos em um coque despretensioso.
Saiu de casa fechando o portão com cuidado, para não acordar a mãe — ou ao menos não a provocar logo cedo. O caminho até a faculdade era longo, mas ela estava acostumada. Com o fone nos ouvidos e a playlist favorita tocando, Melissa atravessou as ruas de Marselha como quem não podia se dar o luxo de parar.
Na porta da faculdade, foi recebida por Isabela, com seu sorriso sempre escancarado.
— Ô, minha médica preferida! — disse Isabela, abrindo os braços pra um abraço.
— Pelo amor de Deus, Isa, nem passei do terceiro período ainda — riu Melissa.
— Detalhes! — interrompeu Hanna, se aproximando com um copo de café na mão. — O importante é que tu já tá no caminho, mana. E outra: a professora hoje vai pegar pesado, viu?
— Como sempre — Melissa suspirou. — Mas melhor do que ficar em casa...
As amigas trocaram olhares cúmplices, já sabendo do que ela estava falando. Isabela passou o braço pelos ombros de Melissa e puxou as duas para dentro do prédio.
— Bora vencer mais um dia, minha filha. Depois a gente se acaba no croissant da lanchonete. Eu pago!
O dia passou entre aulas, cadernos rabiscados, risadas contidas e a velha esperança de um futuro diferente. Melissa se concentrava como se a vida dependesse disso — e no fundo, dependia mesmo.
Ao fim da tarde, despediu-se das amigas e tomou o ônibus de volta. O céu nublado parecia um presságio. Ao girar a chave de casa, o cheiro forte de álcool a fez prender a respiração.
— Mãe? — chamou, com receio.
Encontrou Katherine jogada no sofá, segurando uma garrafa pela metade, olhos vermelhos e expressão desorientada.
— Olha quem resolveu aparecer — disse com a voz arrastada. — A estudante de medicina... acha que é melhor do que eu, né?
— Mãe, não começa, por favor... — Melissa colocou a mochila no chão, tentando manter a calma. — Eu tô cansada, só quero tomar um banho e...
— Tá cansada de quê? De ficar o dia todo fingindo que estuda? — Katherine se levantou cambaleando. — Eu quero saber é quando você vai arrumar um emprego! Não vou sustentar vagabunda aqui dentro!
— Vagabunda?! — Melissa piscou, surpresa. — Eu dou tudo de mim nessa faculdade, mãe. Você acha que é fácil? Acordar cedo, passar horas em sala de aula, estudar até tarde? Eu tô tentando construir uma vida melhor pra nós duas!
— Eu não te pedi isso! — gritou. — Se quiser continuar aqui, arruma um trabalho ou pega tuas coisas e some!
O coração de Melissa se apertou. A voz embargou, mas ela permaneceu firme.
— Eu não sou um fardo, mãe. Eu tô lutando… e sei que você não é mais a mulher que me criou. Mas um dia, você vai lembrar que eu nunca te abandonei, mesmo quando você se esqueceu de mim.
Sem esperar resposta, Melissa subiu pro quarto, sentindo o peso do mundo sobre os ombros. Lágrimas silenciosas rolaram em seu rosto enquanto ela olhava para o teto, tentando lembrar por que ainda acreditava num amanhã melhor.
Mas no fundo, ela sabia: era por ela. E por aquela parte da mãe que ainda morava em seu coração
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Atualizado até capítulo 53
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