capítulo 5: A escolha nunca foi sua

O dia seguinte começou com uma pressão que Luísa nunca havia sentido antes. Rodrigo estava com ela, como prometido, e a visita à fazenda de tia Clara foi cheia de gestos educados e conversas superficiais. A cada palavra trocada com ele, Luísa sentia como se estivesse se distanciando daquilo que realmente queria para sua vida.

Rodrigo, com seu ar de homem bem-sucedido e sua educação refinada, não fazia ideia do turbilhão emocional que Luísa estava vivendo. Ela sorria para ele, tentando manter a aparência de uma noiva feliz, mas seu pensamento estava em outro lugar. O cheiro do campo, a imagem de Pedro cuidando dos cavalos, a conversa franca que tivera com ele... tudo aquilo se misturava dentro dela.

A visita de Rodrigo à fazenda foi marcada por eventos sociais, com almoços e jantares organizados por tia Clara e dona Inês. Embora tivesse tentado se envolver nas conversas e ser a noiva que todos esperavam, Luísa não conseguia evitar a sensação de que sua alma estava sendo arrancada a cada momento.

À noite, quando todos estavam reunidos na sala de jantar, Luísa sentiu um peso crescente sobre seus ombros. Sua mãe a observava com um sorriso forçado, enquanto Rodrigo tentava impressionar os tios de Luísa com suas histórias de negócios e viagens.

Mas Luísa não conseguia se concentrar. Seus pensamentos estavam em Pedro. A conversa com ele ainda ressoava em sua mente. O que ele dissera sobre a liberdade e a coragem estava como uma chama acesa dentro dela, aquecendo sua alma, mas também a deixando angustiada.

Quando o jantar terminou, Luísa saiu para a varanda, precisando de um momento de paz. Ela respirou fundo, observando as estrelas no céu, tentando acalmar sua mente. Não demorou para que Pedro aparecesse, como sempre, sem avisar.

"Não está com Rodrigo?" Pedro perguntou, com uma curiosidade calma.

Luísa olhou para ele, os olhos cheios de tristeza e indecisão.

"Não aguento mais essa vida, Pedro. Não aguento mais fingir. Não sei o que fazer."

Pedro se aproximou, seus olhos suavizando com a dor que ela demonstrava. Ele sabia que o sofrimento de Luísa era real, mas também sabia que ela estava dividida. E talvez ele fosse o culpado por ter plantado uma semente de dúvida dentro dela.

"Luísa", ele começou com voz baixa, "não se trata de fazer o que é fácil. O que você sente é real. Mas, no fim, a única pessoa que pode escolher o que fazer com sua vida é você."

Ela olhou para ele com um olhar intenso, como se tentando encontrar ali a resposta para a sua confusão.

"Eu sei disso", disse ela com um suspiro. "Mas e se eu não souber o que realmente quero? E se eu perder tudo... a minha família, a segurança, a vida que sempre conheci?"

Pedro deu um passo mais perto dela, sem pressa, e falou com a sinceridade que sempre a tocava.

"A vida é feita de escolhas difíceis, Luísa. Mas você não vai saber o que realmente quer até se permitir. Até se libertar daquilo que foi imposto a você."

Luísa olhou para ele, o peito apertado. Ela sabia que ele estava certo. Mas a dor da escolha parecia insuportável. Ela tinha medo de perder tudo o que sempre conheceu. Mas, ao mesmo tempo, o desejo de ser livre, de ser ela mesma, estava cada vez mais forte.

"Eu preciso de tempo", ela murmurou, quase sem som.

Pedro assentiu, sem palavras, e a observou enquanto ela retornava para dentro da casa, deixando-o sozinho na varanda.

No dia seguinte, a tensão aumentou. Dona Inês havia marcado uma reunião para discutir os preparativos do casamento de Luísa e Rodrigo, e a atmosfera era pesada. A mãe de Luísa estava empolgada, falando sobre os detalhes do evento, mas Luísa mal conseguia prestar atenção. Sua mente estava longe, perdida em pensamentos.

Quando a conversa se aprofundou, Luísa não suportou mais. Ela se levantou, tentando manter a compostura, e disse:

"Eu preciso de um tempo sozinha. Não consigo pensar em mais nada agora."

Sua mãe a olhou com reprovação, mas não disse nada. Luísa se afastou rapidamente, sentindo o olhar dela em suas costas.

Foi nesse momento que ela percebeu: ela estava começando a se afastar de tudo o que sua mãe queria para ela. E isso a assustava.

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