Na manhã seguinte, Luísa acordou mais cedo do que o habitual. Ela sabia que o dia seria longo, mas, ao mesmo tempo, seu coração estava inquieto. Durante toda a noite, os pensamentos sobre Pedro a haviam rondado, mais intensos do que ela gostaria de admitir. Ele havia tocado uma parte dela que estava guardada, escondida sob camadas de convenções sociais e a imposição da mãe. Aquelas palavras de Pedro ainda ecoavam em sua mente: "Às vezes, é preciso coragem para ver o que realmente importa."
A vida dela sempre fora marcada por expectativas. Luísa fora criada para ser esposa de um homem rico e socialmente influente. Rodrigo, com seu sorriso perfeito e modos educados, era o futuro que sua mãe sempre desejara para ela. Mas agora, após um simples encontro com Pedro, as certezas que Luísa tinha sobre seu destino estavam começando a se desfazer.
Ela desceu para o café da manhã com a mente tumultuada, mas sua mãe, como sempre, não deu margem a discussões. Dona Inês estava com seu sorriso falso e os olhos sempre atentos, calculando as palavras que saíam de sua boca. O café da manhã foi uma troca superficial de palavras sobre negócios, festas e a próxima visita de Rodrigo. Nada de realmente importante. Nada que pudesse aliviar a pressão que Luísa sentia.
Tia Clara estava mais relaxada, parecendo perceber o clima tenso, mas não insistiu em perguntar sobre a viagem de Luísa. Ela, por outro lado, parecia ver o que a jovem estava passando. Quando o café terminou, tia Clara sorriu para ela, como se quisesse oferecê-la uma fuga.
"Que tal dar uma volta pela fazenda hoje, Luísa? O dia está lindo, e você poderia conhecer mais dos lugares que ainda não viu. Eu estou certa de que vai gostar."
Luísa hesitou. Ela sabia que Pedro estaria por ali, e o simples fato de saber que ele estaria perto fazia seu coração bater mais rápido. Mas o desejo de fugir da monotonia da vida que sua mãe planejava para ela falou mais alto.
"Sim, acho uma boa ideia. Talvez eu possa dar uma volta pelos campos. Conhecer melhor como as coisas funcionam por aqui."
Tia Clara sorriu e fez um gesto afirmativo. Antes que Luísa pudesse dizer mais alguma coisa, a tia se afastou para cuidar de outros afazeres, deixando-a sozinha com seus pensamentos. A sensação de liberdade, ainda que curta e limitada, era boa, mas Luísa sabia que logo sua mãe exigiria explicações detalhadas sobre cada movimento que ela fizesse.
No final da manhã, Luísa se dirigiu até os campos. A caminhada era tranquila, com o calor do sol acariciando sua pele e o vento suave balançando as árvores. Ela se sentia estranhamente calma, mas ao mesmo tempo, algo dentro de si a mantinha alerta. Quando chegou perto do estábulo, ela viu Pedro, mais uma vez lidando com os cavalos. Ele estava de costas, concentrado em amarrar uma corda em uma das cercas. Luísa hesitou, mas, logo, tomou coragem e se aproximou.
"Oi, Pedro", disse Luísa, sua voz soando mais firme do que ela imaginava.
Pedro se virou lentamente, e, ao vê-la, seus olhos brilharam por um momento, mas logo ele recuperou a compostura e acenou.
"Oi, senhora Luísa. Veio ver mais de perto o trabalho aqui?"
Luísa deu um leve sorriso, sentindo o nervosismo crescer dentro de si, mas tentando manter a conversa fluindo.
"Sim... Eu achei interessante todo o processo. Sempre ouvi falar da vida no campo, mas nunca entendi muito bem como as coisas funcionam. Gostaria de aprender mais sobre os cavalos."
Pedro observou-a por um instante, como se estivesse avaliando suas palavras. Ele parecia perceber que ela não estava ali apenas por curiosidade, mas também por uma necessidade de algo mais, algo que ela não conseguia identificar ainda.
"Os cavalos são fáceis de lidar quando se tem paciência", disse ele, e Luísa percebeu que ele falava com a mesma sinceridade com que abordara as questões do trabalho rural. "Eles são como qualquer ser vivo. Não adianta tentar apressar o tempo deles. Cada um tem seu ritmo."
Luísa não sabia o que dizer, mas as palavras de Pedro tocavam algo em sua alma. Ela se sentou ao lado dele, mais próxima do cavalo que ele estava cuidando.
"Eu... eu nunca entendi muito bem a paciência", disse ela, sem perceber que estava se abrindo com ele de uma maneira inesperada. "Sempre fui ensinada a correr atrás do que eu queria. Tudo na minha vida foi sempre planejado. Agora, estou prestes a me casar com Rodrigo, e tudo parece tão... certo. Mas ao mesmo tempo, sinto que estou perdendo algo. Eu me sinto... presa."
Pedro a observou em silêncio, por um momento, antes de responder. Seus olhos pareciam entender, mais do que palavras poderiam expressar.
"Às vezes, a gente é ensinado a seguir um caminho sem perceber que existe um outro, que a gente nem sabia que poderia trilhar. Não sei o que você está sentindo, Luísa, mas sei que ser feliz não tem a ver com fazer o que é esperado. Tem a ver com ser fiel ao que você realmente deseja. E se o que você quer não é o que as pessoas esperam de você, é preciso ter coragem de mudar."
Luísa sentiu um aperto no peito, como se aquelas palavras, simples e diretas, tivessem tocado algo profundo dentro dela. Era como se ele tivesse falado diretamente com o que ela mais temia: perder-se nas expectativas dos outros e nunca se permitir viver para si mesma.
Ela olhou para ele, buscando uma resposta, mas a única coisa que viu foi um homem comum, com um olhar sincero, que parecia não ter pressa de julgar, mas, ao contrário, queria ajudar a libertá-la de suas amarras internas.
"Eu... não sei se consigo fazer isso", ela murmurou, mais para si mesma do que para ele. "Eu não sei como sair disso. A minha mãe... ela nunca me deixaria."
Pedro ficou em silêncio por um momento, como se estivesse absorvendo suas palavras. Então, ele soltou o arreio do cavalo e olhou para ela com um sorriso discreto, mas cheio de compreensão.
"Às vezes, Luísa, as coisas mais difíceis de fazer são as que mais nos libertam. Mas você precisa ter coragem. E eu não posso tomar essa decisão por você. Só você sabe o que é melhor para o seu coração."
Luísa sentiu uma onda de emoção, como se finalmente tivesse encontrado alguém que a entendia. Mas sabia que o que Pedro estava sugerindo seria impossível em seu mundo. Mesmo que seu coração desejasse estar com ele, ela não poderia ir contra tudo o que sua mãe planejara para ela.
Mas algo dentro dela mudou naquele momento. Ela sabia que tinha que tomar uma decisão, e essa decisão iria mexer com sua vida de uma forma que ela nunca imaginara.
O resto do dia passou rapidamente, mas Luísa não conseguiu tirar Pedro da cabeça. Suas palavras a perseguiam, e, ao retornar para a casa de sua tia, ela sentiu o peso da realidade esmagando-a. A decisão que ela tomasse dali em diante definiria seu destino. Mas o que ela realmente queria? O que seu coração verdadeiramente desejava?
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Atualizado até capítulo 38
Comments
Anamaria Costa Melgaço de Almeida
fotos por favor tao linda historia
2025-03-29
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Eliana Jacinto
coragem luisa .
2025-03-29
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