Levi observava Jhonatan com um leve sorriso, quebrando o silêncio com uma pergunta inesperada:
— Sua amiga é linda?
Jhonatan, que estava mordendo o sanduíche, engasgou, tossindo para limpar a garganta.
— Mano, ela é linda, sim! E o melhor: não cobra nada para cuidar da minha irmã de 12 anos. Eu queria levar algo pra ela, um presente, sabe? Algo que mostre que eu me importo. Mas tá difícil encontrar comida que não esteja vencida ou estragada.
Levi arqueou as sobrancelhas.
— Sua irmã tem 12 anos, é? Que coisa... — ele fez uma pausa, pensativo, antes de completar —, temos um problema. Com sua amiga e sua irmãzinha.
Jhonatan, que tinha acabado de pegar outro sanduíche, parou no meio do movimento, seus olhos arregalados.
— O que foi, mano?
Levi cruzou os braços, sua expressão ficando sombria.
— Parece que queriam te tirar do jogo para ficarem com elas. Sua amiga... e sua irmãzinha.
As palavras atingiram Jhonatan como uma pancada. Seu rosto ficou vermelho de raiva, as veias do pescoço saltando.
— Desgraçados! Ela é só uma criança!
Levi permaneceu calmo, seus olhos avaliando Jhonatan.
— Amanhã vamos pra base. Sua perna já deve estar melhor.
Jhonatan respirou fundo, tentando controlar a raiva. Após alguns segundos, ele se acalmou e deu um sorriso nervoso.
— Por um momento, achei que você estivesse interessado na minha irmã. Mas, pensando bem... você deve ter uns vinte e poucos anos, né?
Levi deu uma risada baixa e sacudiu a cabeça.
— Que nada, sou novinho. Tenho 15 anos.
Jhonatan, que estava tomando água, engasgou novamente, cuspindo uma parte.
— Que mentira, mano!
— É verdade, cara. Na real, meu pai errou minha data de nascimento no cartório. Faço aniversário duas vezes por ano. Se contar direito, ainda tenho 14 anos.
Jhonatan piscou, incrédulo.
— Caramba! Achei que fosse mais velho.
Levi deu de ombros.
— Tive que amadurecer mais rápido que a maioria. Então... o que acha de eu ser o tio da sua irmãzinha?
Jhonatan, já mais calmo, deu uma risada leve.
— Não parece tão ruim.
O ambiente ficou tranquilo por um momento até Jhonatan, ainda curioso, perguntar:
— Pode tirar a máscara?
O sorriso de Levi desapareceu, e ele ficou em silêncio, encarando Jhonatan com um olhar frio.
— Desculpa, mano. Falei sem pensar... — começou Jhonatan, sem jeito.
Antes que Levi pudesse responder, ele deu um passo à frente e murmurou:
— Vão embora... ou vão sentir minha lâmina.
Jhonatan gelou, mas rapidamente percebeu que aquelas palavras não eram para ele. Virando-se lentamente, ele viu o motivo da mudança repentina em Levi. Sombras grotescas começaram a se formar no limite da luz do abajur. Criaturas com garras longas e dentes afiados sorriam de maneira macabra, seus olhos brilhando na escuridão.
— Que merda é essa? — sussurrou Jhonatan, recuando para mais perto de Levi.
Levi não respondeu, seus olhos roxos com pupilas fendidas encarando as criaturas sem medo. Ele não sacou a lâmina, apenas manteve sua postura firme, o olhar intenso como uma lança atravessando o coração dos monstros.
As criaturas hesitaram, recuando alguns passos. Os sorrisos grotescos se desfizeram, e, um a um, começaram a desaparecer na escuridão da noite, como se tivessem sido vencidas apenas pelo olhar de Levi.
Jhonatan, com o coração ainda disparado, murmurou:
— Mano, agora eu entendo. Se eu tivesse sozinho, tava ferrado.
Levi finalmente quebrou o silêncio, sua voz séria e carregada de sabedoria.
— Jhonatan, não tenha medo. Mesmo quando estiver em desvantagem, seu olhar pode falar mais que mil palavras.
Jhonatan piscou, confuso com a frase.
— Não entendi...
Levi deu um pequeno sorriso antes de se sentar novamente na cadeira.
— Um dia, você vai entender.
°°°
Levi observava a escuridão ao redor, mantendo sua postura relaxada, mas vigilante. O silêncio da noite era quebrado apenas pelo som do vento passando pelas ruínas e pelos passos ocasionais de criaturas à distância. Após um tempo, ele quebrou o silêncio:
— Amanhã, vamos sair daqui. Os donos do mundo vieram nos visitar. Ou melhor, checar a ameaça que sou.
Jhonatan, que estava se ajeitando na cadeira improvisada, olhou surpreso para Levi.
— Donos do mundo? Você tá falando daqueles... zumbis? Aquelas sombras grotescas eram zumbis?
Levi assentiu calmamente.
— Isso mesmo. Eles são os verdadeiros governantes desse mundo agora. Dizem que enquanto as bases humanas controlam pequenos territórios, o restante do planeta pertence a eles. Esse é o "mundo Z".
Jhonatan ficou pensativo por alguns segundos antes de perguntar:
— Sabe, mano, agora que parei pra pensar... qual é o seu nome mesmo?
Levi deu um pequeno sorriso.
— Me chamo Levi Winchester. Mas só Levi é o bastante.
— Obrigado, Levi, pela comida e... por me salvar hoje.
Levi deu de ombros.
— Sem problemas.
Ele se levantou e, tirando um colchão e travesseiros do anel, os colocou no chão.
— Pode dormir, Jhonatan. Eu fico de guarda.
Jhonatan hesitou, ainda desconfortável com a ideia de deixar Levi sozinho.
— Mano, eu posso ficar de vigia também. Não quero te sobrecarregar.
Levi, sentado na cadeira de praia e olhando para a escuridão ao redor, respondeu com uma voz firme:
— A noite não é dos humanos, Jhonatan. A noite é dos predadores. Pode dormir.
Jhonatan, percebendo que Levi não cederia, suspirou e se deitou no colchão improvisado.
— Boa noite, Levi.
Levi continuou olhando para frente enquanto falava, como se conversasse com outra presença.
— Tô com fome, Máscara. Posso comer?
A máscara que cobria o rosto de Levi começou a se dissolver lentamente, revelando suas feições. Ele pegou os sanduíches restantes e começou a comer, mastigando devagar enquanto mantinha os olhos atentos.
Jhonatan, que estava quase dormindo, não conseguiu conter sua curiosidade. Ele pensou consigo mesmo: Quero olhar o rosto do Levi... Minha curiosidade tá aumentando.
Antes que pudesse virar para espiar, Levi falou, como se lesse seus pensamentos:
— A curiosidade matou o gato, Jhonatan.
A voz de Levi era tranquila, mas carregava um tom de aviso.
— E, além disso, Máscara tem ciúmes do meu rosto. Acho que ela não confia completamente em você. Melhor não arriscar.
Jhonatan, envergonhado, se virou para o outro lado, evitando olhar para Levi.
— Desculpa, mano. Sou curioso.
Levi observou Jhonatan se ajeitar no colchão, suspirou e respondeu com um tom mais leve:
— Boa noite, Jhonatan.
Enquanto Jhonatan caía no sono, Levi continuou comendo em silêncio, seus olhos atentos ao ambiente, como um verdadeiro predador que não permite que nada o surpreenda.
Levi terminou o último gole de água, limpando os lábios com as costas da mão. Ele olhou para a máscara que lentamente começava a cobrir seu rosto novamente.
— Que protetora você é, hein? — murmurou, permitindo que a máscara completasse seu trabalho.
Levi cruzou os braços e olhou para o horizonte escuro. Os pensamentos corriam por sua mente como peças de um quebra-cabeça, encaixando-se em um plano maior.
"Esse mundo Z... engraçado como tudo mudou tão rápido. A invasão não tem nem alguns anos, e já estão agindo como governantes. Os zumbis evoluídos estão caçando as ameaças restantes para consolidar a dominação. Mas isso não vai acontecer... não enquanto eu estiver aqui."
Seus olhos brilharam em um tom roxo sob a máscara. Ele olhou para Jhonatan, que dormia tranquilamente, e voltou a refletir.
"Se essas criaturas pensam que podem dominar o mundo sem resistência, estão subestimando o espírito humano. As bases estão lotadas de gente que não percebe ser tratada como gado. Mas esse jogo... eu vou virar. Já está na hora de formar uma equipe. Um grupo de verdade, não só sobreviventes, mas caçadores capazes de derrubar os 'peixes grandes' por trás dessa invasão."
Levi se recostou na cadeira, rindo consigo mesmo.
— Zumbis mais inteligentes que humanos... que absurdo. O problema é que eles têm estratégia, e a maioria das pessoas ou não percebe, ou não quer acreditar.
Ele fez uma pausa, observando a noite.
— Aqueles de hoje à noite vieram me testar. Mas isso significa que algo maior está por vir. Alguém mais forte. Eles não vão parar até terem certeza de que sou uma ameaça... — Levi sorriu atrás da máscara. — Que hilário. Mas eles vão falhar.
Levi fechou os olhos por um momento, respirando fundo.
"O motivo de eu nunca morrer no jogo é simples: eu penso como meu inimigo. Sempre um passo à frente. Se esses zumbis acham que sou apenas um caçador comum, vão descobrir que sou a força contrária que este mundo precisa. A questão agora é encontrar pessoas úteis. Talvez os 'Escolhidos'. Dizem que são fortes. Vamos ver se têm o que é preciso para mudar esse jogo."
O silêncio da noite foi interrompido de repente.
— Socorro! Alguém me ajude!
A voz feminina ecoou pelas ruínas, carregada de desespero. Levi abriu os olhos e sorriu atrás da máscara.
— Chegaram.
Ele se levantou calmamente, ajustando as lâminas presas às botas e verificando o punhal em sua cintura.
— Jhonatan... — murmurou, olhando para o rapaz ainda dormindo. — Melhor você continuar dormindo. Isso vai ser divertido.
Sem fazer barulho, Levi caminhou em direção à origem do grito, seus olhos roxos brilhando como duas lanternas na escuridão.
Continua...
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Atualizado até capítulo 28
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