A Jornada Interna

A névoa da floresta dissipava-se enquanto os primeiros raios de sol despontavam no horizonte. Após o confronto no templo, o grupo retornou à Fortaleza. Porém, o alívio que deveria acompanhar a fuga de Raijin não veio. Aya sabia que ele estava mais forte do que nunca, e a voz do Vazio em sua mente parecia crescer a cada dia que passava.

Na manhã seguinte ao retorno, Kaoru encontrou Aya no jardim interno da Fortaleza. Ela estava sentada no chão, com a lança repousando ao seu lado, os olhos fixos nas flores que balançavam suavemente ao vento.

— Não conseguiu dormir? 

Ele perguntou, aproximando-se.

Aya balançou a cabeça.

— Não paro de pensar no que ele disse. Sobre o Vazio dentro de mim.

Kaoru sentou-se ao lado dela, mantendo uma distância confortável.

— Ele está tentando te manipular. Raijin sabe que você é a maior ameaça ao plano dele, então tenta te enfraquecer.

— E se ele não estiver errado? 

Aya perguntou, a voz trêmula. 

— O que eu sinto… É como se o Vazio realmente fizesse parte de mim.

Kaoru a observou em silêncio por alguns segundos antes de responder.

— Talvez faça. Mas isso não significa que você pertence a ele. Você escolhe quem quer ser, Aya. Sempre escolheu.

As palavras dele a confortaram, mas apenas por um momento. Ela sabia que a resposta para suas dúvidas não estava nas palavras de outros, mas dentro de si mesma.

Mais tarde, no salão de reuniões, os guardiões estavam reunidos, discutindo os próximos passos. O líder do conselho, um homem idoso de nome Tsukihara, bateu a bengala no chão para chamar a atenção.

— A ameaça de Raijin cresce, e o Vazio parece se expandir mais rápido a cada dia. Precisamos de uma solução antes que seja tarde demais.

Aya, que estava no fundo da sala, levantou-se.

— Eu preciso ir até o Nexus do Vazio.

Os murmúrios começaram imediatamente, e Kaoru a olhou com surpresa.

— Aya, isso é loucura! O Nexus é o coração do Vazio. Ninguém que tentou chegar perto sobreviveu.

Tsukihara levantou a mão, pedindo silêncio.

— Aya, você tem certeza disso?

Ela assentiu.

— Se há alguma chance de entender o que está acontecendo comigo e como podemos derrotar Raijin, está lá.

O conselho hesitou, mas Aya não esperou pela aprovação. Seu coração já havia decidido.

Kaoru insistiu em acompanhá-la, apesar das objeções dela.

— Se você acha que vou te deixar enfrentar isso sozinha, está muito enganada.

Aya sabia que discutir seria inútil, então cedeu. Eles partiram no dia seguinte, levando apenas o necessário para a jornada.

O caminho até o Nexus do Vazio era traiçoeiro. A floresta densa dava lugar a terras desoladas, onde o céu parecia mais escuro e o ar mais pesado a cada passo.

Enquanto caminhavam, Kaoru tentava manter o moral elevado. Ele contava histórias das missões que realizara antes de conhecer Aya, fazendo-a sorrir ocasionalmente.

— Sabe, eu costumava pensar que meu maior desafio seria convencer o conselho a me deixar liderar os guardiões. Agora, enfrentar o Vazio parece brincadeira de criança em comparação.

Aya riu levemente, mas o som era tingido de melancolia.

— Você sempre encontra algo para dizer, não é?

— Faz parte do meu charme. 

Respondeu com um sorriso.

Mas mesmo Kaoru não podia esconder sua preocupação quando finalmente chegaram ao limite do Nexus.

O Nexus era um abismo infinito, rodeado por colunas de energia negra que pulsavam como corações gigantescos. Aya sentiu o ar se tornar denso, quase impossível de respirar. O Vazio parecia chamá-la, um sussurro insistente em sua mente.

— Aya, temos que ser rápidos. Esse lugar não é seguro. 

Disse Kaoru, segurando sua espada com força.

Ela assentiu, mas sabia que essa jornada era dela.

— Preciso entrar sozinha.

Kaoru protestou imediatamente.

— De jeito nenhum. Se algo acontecer…

— Se algo acontecer, você será o único capaz de voltar e avisar os outros. 

Ela o interrompeu, a voz firme. 

— Por favor, Kaoru. Confie em mim.

Kaoru hesitou, mas finalmente cedeu. Ele segurou a mão dela, olhando-a nos olhos.

— Volte para mim.

Aya sorriu, tentando transmitir mais confiança do que sentia.

— Eu voltarei.

Ela entrou no abismo, o mundo ao redor desaparecendo em um turbilhão de sombras.

Dentro do Nexus, Aya sentiu como se estivesse flutuando em um oceano de trevas. As vozes do Vazio eram mais altas aqui, sussurrando verdades e mentiras em igual medida.

De repente, ela não estava mais sozinha. Uma figura surgiu das sombras, alta e imponente. Era Raijin, mas sua forma parecia menos humana, mais fundida com o Vazio.

— Bem-vinda, herdeira. 

Ele disse, os olhos brilhando.

Aya ergueu sua lança, mas Raijin apenas riu.

— Não vim lutar com você. Não ainda. Quero que veja o que eu vejo.

Antes que ela pudesse reagir, as sombras ao redor dela mudaram. Aya viu imagens do passado — guerras, destruição, sofrimento. E então, viu algo que a deixou sem fôlego: ela mesma, mas diferente. Uma versão de si fundida ao Vazio, liderando exércitos de sombras.

— Isso é o que o Vazio pode oferecer.

Disse Raijin, aproximando-se. 

— Paz através do controle. Ordem através do poder.

Aya fechou os olhos, tentando afastar as imagens, mas elas continuavam lá, insistentes.

— Não… Isso não é paz. É escravidão.

Raijin balançou a cabeça, desapontado.

— Você realmente acredita que o mundo que você protege é melhor? Caos, guerra, traições… O Vazio oferece algo maior.

Aya abriu os olhos, a determinação brilhando neles.

— Talvez o mundo seja imperfeito, mas é real. E não importa o que você diga, eu lutarei por ele.

Ela sentiu algo despertar dentro de si, uma chama que queimava contra as trevas. A lança em sua mão brilhou intensamente, irradiando luz.

Raijin recuou, protegendo os olhos.

— Então você escolhe o sofrimento…

Aya avançou, a lança cortando as sombras ao redor dela.

— Eu escolho a liberdade!

Com um grito, ela golpeou o Nexus, a luz da lança explodindo em todas as direções.

Aya abriu os olhos, deitada no chão fora do abismo. Kaoru estava ao lado dela, segurando sua mão.

— Aya! Você está bem? 

Ele perguntou, a voz carregada de preocupação.

Ela assentiu, sentindo-se mais leve do que em meses.

— Eu vi… Eu vi o que o Vazio realmente é.

Kaoru a ajudou a levantar, observando o abismo que agora parecia menos ameaçador.

— E o que faremos agora? 

Ele perguntou.

Aya segurou sua lança com firmeza, a luz ainda brilhando em sua ponta.

— Agora, acabamos com isso.

Os dois trocaram um olhar cheio de determinação antes de se virarem para o horizonte. A batalha final estava se aproximando, e eles estavam prontos para enfrentá-la.

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