A Fortaleza das Sombras parecia maior por dentro do que Aya poderia imaginar. Cada corredor era preenchido com uma aura misteriosa, como se as paredes sussurrassem histórias antigas. Ela seguiu Kaoru até uma grande sala iluminada por tochas que queimavam com chamas negras. O teto era tão alto que se perdia em sombras, e o piso polido refletia os movimentos de todos que se aproximavam.
Ao redor de uma mesa circular, os Guardiões das Sombras permaneciam em silêncio, observando Aya com olhos que brilhavam por trás de suas máscaras enigmáticas. Cada máscara representava um símbolo diferente: um corvo, uma serpente, um lobo, uma coruja e um dragão. Seus mantos ondulavam como se fossem feitos da própria escuridão.
Kaoru parou no centro da sala e fez um sinal para que Aya se aproximasse. Ela hesitou por um momento, sentindo o peso daqueles olhares, mas caminhou até ele, tentando ignorar o nervosismo.
— Aya Nakamura, herdeira das Sombras, você passou pelo primeiro teste.
Anunciou Kaoru, sua voz ecoando pelo salão.
— Mas o caminho está apenas começando. Agora, deve provar sua força e aprender a controlar o poder que despertou.
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O Guardião com a máscara de corvo deu um passo à frente. Sua voz era firme, mas carregada de sabedoria.
— Você enfrenta o desconhecido, jovem. As sombras são poderosas, mas não perdoam a fraqueza. Está pronta para aceitar o treinamento?
Aya apertou os punhos e assentiu, tentando ignorar o nó que se formava em sua garganta.
— Sim. Estou pronta.
Os Guardiões trocaram olhares silenciosos, como se testassem sua determinação apenas com o olhar. Por fim, o Guardião da máscara de serpente falou:
— Então começaremos agora. Kaoru, leve-a para a Arena das Sombras.
Aya olhou para Kaoru, surpresa.
— Arena? Vamos lutar?
— Treinar, na verdade.
Kaoru sorriu de forma enigmática.
— Confie em mim, você precisará disso.
Antes que Aya pudesse perguntar mais, Kaoru fez um gesto e um dos tapetes ao chão se afastou, revelando uma escadaria que descia às profundezas da Fortaleza. Uma rajada de vento frio subiu, carregada de um cheiro antigo, como livros velhos e terra molhada.
— Venha, Aya.
Kaoru desceu primeiro, deixando-a com pouca escolha a não ser segui-lo.
A Arena das Sombras ficava no subsolo da Fortaleza. Era um espaço amplo e circular, com pilares de pedra negra que se erguiam ao redor. O teto era baixo, feito de rochas que pareciam pulsar levemente, como se o lugar estivesse vivo. No centro da arena, havia um círculo de símbolos brilhantes que Aya não conseguia decifrar.
— Este é o coração do treinamento.
Explicou Kaoru, girando lentamente para encará-la.
— Aqui, as sombras responderão ao seu chamado. Mas lembre-se: elas não são escravas. Se você as tratar como armas e nada mais, elas o rejeitarão.
Aya sentiu o peso das palavras dele. Tudo parecia tão confuso ainda, mas havia algo dentro dela — um instinto primal, talvez — que dizia que aquelas sombras eram parte dela.
— O que preciso fazer?
Perguntou, erguendo os olhos.
Kaoru estalou os dedos e, de repente, cinco figuras de sombra começaram a surgir ao redor da arena. Eram humanoides, mas não tinham rosto ou corpo definido, apenas silhuetas negras que se moviam como fumaça.
— Estas são manifestações básicas das sombras. Seu treinamento será enfrentá-las e controlá-las. Elas testarão sua vontade, sua força e, acima de tudo, sua conexão com a escuridão dentro de você.
Aya arregalou os olhos, sentindo o coração acelerar.
— Você quer que eu lute contra… isso?
Kaoru sorriu levemente.
— Acredite, isso é apenas o começo.
Antes que pudesse responder, uma das sombras avançou. Aya saltou para trás, sentindo o pânico subir à medida que a criatura avançava rapidamente. Seus movimentos eram fluidos, impossíveis de prever. Instintivamente, Aya ergueu as mãos para conjurar a lança que usara antes, mas nada aconteceu.
—Concentre-se, Aya!
Gritou Kaoru, de algum lugar fora de seu campo de visão.
— Não force! Convide as sombras, sinta-as!
— Convidar? Como se isso fosse fácil!
Ela desviou de outro ataque, rolando pelo chão de pedra fria.
A sombra atacava de novo, uma lâmina negra surgindo em seu braço, cortando o ar onde Aya estivera um segundo antes. Seu corpo estava exausto, os músculos queimavam, mas, em vez de desistir, ela se forçou a respirar fundo.
— Concentre-se… Concentre-se…
Ela murmurou para si mesma, fechando os olhos por um breve instante.
Aya se lembrou da sensação que tivera no teste anterior: aquele momento em que aceitou o medo e a escuridão como parte dela.
Uma onda de calor tomou conta de seu peito e, de repente, ela sentiu. As sombras não eram estranhas. Eram familiares. Ela podia ouvir um murmúrio suave, como se elas sussurrassem seu nome.
— Venham a mim…
Sussurrou Aya, estendendo a mão.
Uma energia negra se concentrou na palma dela, crescendo e tomando forma até que a lança negra apareceu novamente. Desta vez, a arma estava mais sólida, brilhando levemente com runas prateadas ao longo da lâmina.
— Isso!
Gritou Kaoru, sua voz carregada de aprovação.
— Agora lute!
A sombra atacou mais uma vez, mas Aya estava pronta. Ela desviou com agilidade, girando a lança em suas mãos. Com um golpe rápido, ela acertou o inimigo, e a sombra se despedaçou em névoa negra, desaparecendo.
— Consegui…
Murmurou, ofegante, encarando a lança em suas mãos.
Mas não havia tempo para comemorar. As outras sombras avançaram juntas. Aya precisou se mover rapidamente, usando seus instintos e a lança para se defender. Cada movimento dela parecia mais fluido, como se as sombras estivessem lhe ensinando a dançar. A arena ecoava com o som de seus passos e da arma cortando o ar.
Uma por uma, as sombras foram derrotadas, até que restasse apenas Aya, parada no centro da arena, suada e ofegante, mas triunfante.
Kaoru se aproximou lentamente, batendo palmas.
— Excelente, Aya. Você está começando a entender.
— Isso foi…
Ela tentava recuperar o fôlego.
Incrível. Eu senti… como se as sombras fossem minhas amigas.
— E são, desde que as trate com respeito.
Kaoru sorriu, colocando uma mão em seu ombro.
— Mas lembre-se: esse é apenas o começo.
Aya assentiu, olhando para a lança que começava a se dissolver em névoa negra. Ela sabia que o caminho adiante seria longo e perigoso, mas, pela primeira vez, sentia que podia enfrentar qualquer coisa.
Aquele era o início de sua transformação.
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Atualizado até capítulo 41
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