1.4 Ecos do Passado

O silêncio pesado da Fortaleza das Sombras contrastava com a tempestade que rugia dentro de Aya. Depois do treinamento exaustivo na Arena, Kaoru a guiou até uma sala lateral, mais simples, mas ainda carregada daquela aura antiga e desconhecida. O espaço era pequeno, iluminado apenas por uma lanterna que lançava sombras longas e instáveis nas paredes de pedra negra. Uma mesa de madeira ocupava o centro, com um pergaminho envelhecido aberto sobre ela

— Sente-se.

Disse Kaoru, apontando para um banco.

Aya obedeceu, sentindo cada músculo do corpo reclamar. Seus dedos ainda formigavam com a lembrança da lança negra que ela conjurara. Fechou os olhos por um instante, deixando o peso de seu cansaço dominá-la, até ouvir o som da cadeira rangendo enquanto Kaoru se sentava do outro lado da mesa.

— Você fez um bom progresso hoje.

Ele começou, a voz mais branda do que de costume.

— Mas há mais que precisa saber.

—**Mais?

**Aya levantou a cabeça, a voz carregada de frustração.

— Derrotei aquelas sombras, aprendi a controlá-las. O que mais eu preciso?

Kaoru a encarou por alguns segundos, os olhos dele, embora gentis, transmitiam uma seriedade esmagadora.

— Precisa entender o que realmente é o poder que carrega. De onde veio.

Aya franziu o cenho. Desde que pisara naquela Fortaleza, nada fizera sentido por completo. Treinar, lutar, aceitar as sombras… mas o porquê de tudo ainda era um vazio.

— O que você quer dizer?

Perguntou, a voz um pouco mais baixa.

*Kaoru puxou o pergaminho à sua frente, virando-o para que Aya pudesse ver. Nele, havia um desenho: uma figura sombria de pé no topo de uma montanha, com um manto escuro que se estendia como asas ao vento. Ao seu redor, uma legião de sombras ajoelhadas, como se obedecessem àquela presença***.**

—**A primeira Herdeira das Sombras.

Explicou Kaoru.**

—**Seu nome foi esquecido ao longo do tempo, mas sua história nunca morreu. Ela foi a primeira a ouvir o chamado das sombras e a dominá-las. Durante séculos, as sombras escolheram herdeiros, guerreiros que pudessem protegê-las e equilibrar sua força no mundo.**

*Aya observava o desenho, sentindo uma estranha conexão com ele, como se já tivesse visto aquela figura em algum lugar***.

—E o que aconteceu com ela?**

*Kaoru respirou fundo***.

—Ela foi consumida.**

*A palavra pareceu atravessar Aya como uma lâmina gelada***.

—Consumida?**

—**O poder das sombras é infinito, mas perigoso. Se você perder o controle, se deixar que o medo ou a raiva tomem conta…

Ele parou, os olhos fixos nos dela.

—As sombras a devoraram.**

*Aya desviou o olhar, sentindo o peso das palavras. A memória da arena ainda era fresca em sua mente: a sensação de estar cercada por sombras, sufocada por elas, até que decidiu aceitá-las. Ser consumida… aquilo não parecia impossível***.**

—**Por que fui escolhida?

Ela perguntou, com uma voz quase inaudível.

—Sou só… uma garota comum.**

—**Você nunca foi comum, Aya.

Kaoru se levantou, caminhando até uma pequena janela no canto da sala. Ele observou as nuvens pesadas que encobriam o céu do lado de fora, a escuridão pairando como uma ameaça.**

—**As sombras escolhem aqueles que têm algo especial dentro de si. Algo que pode ser tanto uma bênção quanto uma maldição.**

*Aya apertou os punhos sobre o colo. A sensação de ser arrastada para algo muito maior do que ela nunca fora tão forte***.

—E se eu não quiser ser a Herdeira das Sombras?**

*Perguntou, baixinho***.

—E se eu não quiser esse poder?**

*Kaoru não respondeu de imediato. Ele ficou em silêncio por longos segundos antes de se virar***.

—Não é uma questão de querer. É uma questão de ser. As sombras a escolheram, Aya. Rejeitá-las… só tornará tudo pior.**

*As palavras de Kaoru ecoaram pela sala, fazendo com que Aya desviasse o olhar, frustrada. Antes que pudesse responder, no entanto, um som distante interrompeu a conversa: um uivo longo e baixo que parecia vir das profundezas da Fortaleza***.**

*Aya arregalou os olhos***.

—O que foi isso?**

*Kaoru franziu o cenho, sua expressão se tornando dura***.

—Algo que não deveria estar aqui. Venha comigo.**

*Aya levantou-se apressada, seguindo Kaoru pelo corredor escuro. O uivo ecoava cada vez mais alto, como se as paredes da Fortaleza o carregassem por todos os lados. Uma sensação estranha começou a crescer dentro dela, como um aperto frio no peito***.**

*Eles desceram uma nova escadaria, chegando a um salão ainda mais amplo e antigo. O teto era sustentado por colunas retorcidas, e no centro da sala havia uma grande porta dupla selada com correntes brilhantes e runas protetoras***.**

*Diante das portas, uma sombra se contorcia, tentando atravessar a barreira. A criatura não tinha uma forma definida, mas seus olhos brilhavam em um vermelho intenso, e seu uivo preenchia o espaço com um som agourento***.**

—**O que é aquilo?

Aya perguntou, parando bruscamente.**

—**Uma Sombra Corrompida.

Respondeu Kaoru, retirando uma adaga de sua capa.

—Ela não pertence a este lugar.**

—**Corrompida?**

—**São sombras que foram tomadas pelo ódio ou pela ambição. Perderam sua essência original e se tornaram predadores.**

*Antes que Aya pudesse processar a explicação, a criatura lançou um ataque. Uma onda de energia negra atravessou o salão, rachando o chão onde tocou. Kaoru saltou para o lado, desviando, mas a força do ataque fez com que Aya fosse jogada para trás***.**

*Ela bateu no chão com força, gemendo de dor. Quando abriu os olhos, viu a criatura avançando em sua direção. Seu corpo inteiro paralisou por um segundo, o medo tomando conta dela***.**

—**Aya! A lança!

Gritou Kaoru.**

*Ela olhou para suas mãos vazias, sentindo o coração disparar. “As sombras são parte de mim”, pensou, tentando se concentrar, mas a criatura estava rápida demais. O tempo parecia desacelerar à medida que o monstro se aproximava, sua boca distorcida se abrindo como se fosse engoli-la inteira***.**

—**Não…

Murmurou Aya.

—Eu não vou deixar você vencer.**

*Uma onda de energia negra explodiu ao seu redor. A lança apareceu em suas mãos, maior e mais brilhante, como se respondesse ao seu desespero. Aya se ergueu de um salto e, com um grito, atacou a criatura. A lâmina cortou o ar, e a sombra soltou um uivo de dor antes de se desfazer em névoa***.**

*Por alguns segundos, tudo ficou em silêncio. Aya permaneceu parada no centro da sala, ofegante, com as mãos tremendo ao redor da lança***.**

*Kaoru aproximou-se devagar, observando-a com um misto de orgulho e preocupação***.**

—**Você está começando a entender…  isse ele, em voz baixa.**

*Aya olhou para ele, o coração ainda acelerado***.

—O que essa coisa queria?**

*Kaoru encarou as portas seladas, suas correntes agora reluzindo mais fracas***.

—Algo está despertando, Aya. E temo que isso seja apenas o começo.**

*Ela apertou ainda mais a lança em suas mãos, sentindo o peso das sombras ao seu redor. O que quer que estivesse por vir, sabia que não seria fácil. E, pela primeira vez, ela entendeu o quão perigoso era o caminho que estava trilhando***.**

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