O Chamado do Vazio

O silêncio no Salão dos Reflexos era pesado, mas dentro de Aya, algo havia mudado. A chama que ela descobrira não era apenas luz — era uma conexão profunda com as sombras, um entendimento que ia além do medo.

— Então, o que vem agora? 

Aya perguntou, com a voz firme, mas ainda carregada pelo peso do que enfrentara.

Kaoru inclinou a cabeça, observando-a atentamente.

— Agora, você precisa aprender a usar isso. A força que você despertou é um fragmento do que o Herdeiro verdadeiro deve carregar. Mas dominar as sombras não é suficiente, Aya. Você deve harmonizá-las com sua luz.

Aya franziu o cenho.

— Luz? Achei que o poder dos herdeiros fosse unicamente baseado nas sombras.

Kaoru balançou a cabeça, caminhando até o centro do salão.

— Essa é a ilusão. As sombras não existem sem a luz, e a luz não se define sem as sombras. O equilíbrio é tudo, Aya. É o que mantém o Vazio preso e o mundo seguro. Sem isso… 

 Ele deixou a frase no ar, mas o significado era claro.

Antes que Aya pudesse responder, o chão sob seus pés tremeu. Um som grave ecoou pelas paredes da Fortaleza, como o gemido de algo imenso se movendo. Kaoru imediatamente colocou-se em guarda, suas mãos formando, selos rápidos no ar.

— O que foi isso? 

Aya perguntou, já erguendo os punhos instintivamente.

Kaoru olhou para ela, o olhar alarmado.

— O Vazio está tentando se libertar novamente. E não está sozinho.

Seguindo Kaoru, Aya correu pelos corredores da Fortaleza. As paredes pulsavam com uma energia estranha, e a cada passo, o som de rachaduras aumentava. Finalmente, eles chegaram ao salão principal, onde as portas seladas do Vazio estavam localizadas.

Aya parou abruptamente ao ver a cena diante dela. As correntes prateadas que protegiam as portas estavam trincadas, e uma névoa negra saía pelas fendas, serpenteando como tentáculos vivos. Ao redor das portas, figuras encapuzadas entoavam cânticos em uma língua que Aya não compreendia.

— Quem são eles? 

Ela perguntou, tentando controlar o medo que subia em sua garganta.

— Seguidores do Vazio. Fanáticos que acreditam que o libertar trará uma nova era.

Kaoru cuspiu as palavras como se fossem veneno. 

— Eles estão enfraquecendo o selo.

Aya sentiu uma onda de raiva. Como alguém poderia querer libertar algo tão destrutivo? Sem pensar, ela avançou, a energia negra começando a se concentrar em suas mãos.

— Espere! 

Kaoru tentou detê-la, mas Aya já estava correndo.

Um dos encapuzados percebeu sua aproximação e virou-se, levantando as mãos. Um turbilhão de sombras disparou em sua direção, mas Aya reagiu instintivamente. Com um movimento rápido, ela ergueu um escudo de energia negra, dissipando o ataque.

— Eu não vou deixar vocês fazerem isso! 

Gritou Aya, a lança negra se materializando em sua mão.

A batalha começou. Os seguidores atacavam com magias de sombra, mas Aya usava sua nova conexão para repelir os golpes. Cada movimento parecia mais natural, como se ela finalmente estivesse compreendendo como as sombras fluíam dentro dela.

Enquanto lutava, percebeu algo estranho. As sombras dos seguidores eram caóticas, como se não tivessem controle total sobre o poder que estavam usando. Era diferente do que ela sentia — o equilíbrio entre controle e caos.

Kaoru juntou-se à batalha, seus movimentos precisos e letais. Ele usava as sombras como lâminas, cortando através das defesas dos seguidores. Apesar da situação desesperadora, Aya não pôde deixar de admirar sua habilidade.

— Aya, concentre-se! 

Gritou Kaoru, interrompendo seus pensamentos.

Aya voltou a atenção para os seguidores restantes. Com um giro da lança, ela dispersou um grupo que estava tentando fortalecer o cântico. Os outros recuaram, percebendo que estavam em desvantagem.

Mas antes que Aya pudesse respirar aliviada, uma nova onda de energia negra explodiu do selo. As portas trincaram ainda mais, e uma voz profunda e distorcida ecoou pelo salão.

— Vocês não podem me impedir. Eu estou além do controle. Além da luz e das sombras.

Aya sentiu uma dor lancinante em sua cabeça, como se a voz estivesse tentando invadir sua mente. Ela caiu de joelhos, apertando as têmporas.

— Aya, lute contra isso! 

Kaoru gritou, colocando-se ao lado dela.

— É tão… forte… 

Murmurou Aya, a visão turva.

Kaoru tocou seu ombro, e uma onda de energia a atravessou, dissipando a dor. Aya piscou, recuperando o foco, e olhou para ele.

— Como vamos selá-lo novamente?

Kaoru hesitou.

— O selo está enfraquecido demais. Precisamos de algo mais poderoso. Algo que apenas você pode fazer.

Aya arregalou os olhos.

— Eu?

Kaoru assentiu.

— Como Herdeira, você pode criar um selo temporário diretamente com sua energia. Mas… isso vai custar muito. Talvez até mesmo sua vida.

Aya ficou em silêncio, as palavras dele ecoando em sua mente. Ela sabia que não tinha outra escolha. Se o Vazio escapasse, o mundo inteiro estaria condenado.

— O que eu preciso fazer? 

Perguntou, finalmente, sua voz firme.

Kaoru a encarou por um momento, depois começou a desenhar símbolos no chão com energia negra.

— Fique no centro e concentre toda a sua energia. Pense no equilíbrio, na luz e nas sombras coexistindo. O selo responderá à sua vontade.

Aya caminhou até o centro do círculo que Kaoru criara. Sentiu o chão vibrar sob seus pés, como se o próprio espaço estivesse reagindo à presença do Vazio.

Fechando os olhos, ela se concentrou. Lembrou-se do Salão dos Reflexos, do equilíbrio que encontrara dentro de si. A energia começou a fluir, primeiro hesitante, depois mais forte.

— Você acha que pode me prender novamente? 

Zombou a voz do Vazio. 

— Você é apenas uma criança jogando com forças que não entende.

Aya ignorou as palavras, concentrando-se ainda mais. A lança negra em sua mão se desfez, a energia fluindo para o selo. Ela sentiu uma dor profunda em seu peito, como se algo estivesse sendo arrancado dela, mas não parou.

Kaoru observava de perto, pronto para intervir se algo desse errado. Os seguidores do Vazio haviam sido derrotados, mas ele sabia que o verdadeiro inimigo ainda estava à espreita.

Finalmente, o selo começou a se formar. Linhas brilhantes de energia envolveram as portas, e as rachaduras começaram a se fechar. Aya abriu os olhos, agora brilhando com um misto de luz e escuridão.

Com um último grito, ela canalizou toda sua força no selo. As portas se fecharam completamente, as correntes prateadas reaparecendo e brilhando mais forte do que antes.

Aya caiu de joelhos, exausta, mas viva.

Kaoru correu até ela, ajudando-a a se levantar.

— Você conseguiu

Ela deu um sorriso fraco, mas antes que pudesse responder, sentiu algo estranho. A voz do Vazio ecoou novamente, mas desta vez, apenas em sua mente.

— Isso é apenas o começo, Herdeira. Eu ainda estou aqui. Sempre estarei.

Aya olhou para Kaoru, o coração pesado. Ela sabia que a luta estava longe de terminar.

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