Descobertas

Aurélio chega à fazenda com a ansiedade de um adolescente, como chegou anos atrás, quando se mudou com a sua família e descobriu na natureza a paz e a alegria de viver em contato com a vida simples do campo.

Os seus olhos brilham ao ver a casa da fazenda e o enorme terreiro de café que exala um perfume adocicado do café verde secando no terreiro. Fechando os seus olhos, respira o ar puro e úmido da serra, uma brisa fria e o cheiro de terra molhada, que exala seu aroma com o sol que aquece a terra e o mato molhado.

__ Ficará aí parado e não vem dar um abraço no seu velho pai!? __ Fala o senhor Estanislau\, com um sorriso surpreso e cheio de saudades.

__ Pai! Como é bom ver o senhor novamente. __ Aurélio\, fala caminhando na sua direção e lhe abraçando forte\, o beijando no rosto\, ficando agarrados por alguns minutos\, sentindo uma forte emoção do reencontro de pai e filho.

Abraçados, entram pela varanda e sorrindo contam as novidades e falam de como as lavouras estão bem tratadas e os animais bem cuidados.

__ O senhor tem visto o Pedro? Eu o pedi para vir aqui e ele não me respondeu.__ Aurélio pergunta ao pai que lhe responde com uma ponta de mágoa.

__ Pedro está muito diferente, ele apareceu por aqui algumas vezes, me pedindo apoio político e desapareceu, quando eu lhe respondi que não o apoiaria.

__ Mas\, por que o senhor lhe negou apoio? Ele é meu amigo e o senhor o conhece há muito tempo e ele me parece apto ao cargo.__ Aurélio o questiona\, pois não está entendendo a sua atitude e parece conhecer muito pouco do tão grande amigo.

__ Eu soube que ele está envolvido com uma elite política que não presta e só querem o poder por pura ambição e depois que colocarem as mãos na máquina pública levarão esta cidade à miséria. São ervas daninhas e não quero me envolver com essa gente e não me vejo em condições para concorrer como opositor\, muito menos como apoiador de gente gananciosa. __ Estanislau lamenta por sua saúde e Aurélio fica preocupado.

__ O senhor está doente? Tem se sentido mal?

__ Não há nada para se preocupar\, a pressão está desregulada e a glicose tem dado os seus gritos\, só preciso de sossego e tranquilidade. Mexer com política é entrar num vespeiro.__ Aurélio ouve o seu pai e o questiona:

__ Onde está a cozinheira da casa? Estes problemas são controlados com uma boa alimentação e um rigor nos horários. Quero conversar com ela e faremos alguns exames. __ Aurélio o examina com as mãos no pulso e no peito\, está preocupado e teme por sua saúde\, mas percebe que ele se exaltou com o assunto do Pedro.

__ Já disse que estou bem e não quero que se preocupe. Quanto a cozinheira, estou sem ajudante, pois a cidade é pequena e no vilarejo ninguém quer trabalhar para um homem divorciado.

__ Então teremos que arrumar alguém\, não gosto do seu tempero e ficarei aqui com o senhor por um bom tempo. __ Aurélio fala sorrindo e o seu pai fica desacreditado.

Aurélio conta que terminou com Samanta e que já conseguiu uma vaga no hospital da cidade e ficará por um bom tempo juntos, o que o deixa muito feliz. A alegria está completa na casa, mas Estanislau está incomodado com alguma coisa.

__ O que foi? O senhor parece preocupado\, posso lhe ajudar? __ Aurélio se disponibiliza e seu pai responde:

__ A veterinária vem hoje fazer a inseminação das vacas e eu acabei esquecendo. Preciso esperá-la no curral para acompanhar o processo\, já estou atrasado. __ Aurélio desperta a curiosidade e pensa que possa ser a tão falada Pilar.

__ Quem é a veterinária\, eu conheço? __ Ele pergunta como quem não quer nada e seu pai na inocência o responde:

__ É a Pilar e o Caio, ela, eu não conhecia, ele é primo do Pedro, veio para a cidade a pouco tempo, você vai gostar deles, são excelentes profissionais.

__ Então\, irei com o senhor\, quero muito os conhecer. __ Aurélio fica de pé rapidamente para acompanhar o seu pai e caminham até o curral\, onde ao longe já se vê a caminhonete do haras.

__ Bom dia\, Caio! Onde está a doutora Pilar? __ Estanislau pergunta\, já apresentando o seu filho para Caio que o cumprimenta e responde:

__ Ela foi ao estábulo\, o seu funcionário disse que tem um cavalo com a pata machucada. __ Aurélio logo se dispõe a ir ao estábulo e diz:

__ Pode ajudá-lo aqui\, eu verei se ela precisa de ajuda. __ Estanislau concorda e brincando diz:

__ Não deixe que ela te encante com o seu olhar\, pois tem os olhos mais lindos que eu já vi. __ Aurélio sorrindo pensa:

“__ Isso, porque ele nunca viu o olhar da Lívia!”

Na entrada do estábulo ele ouve o cavalo relinchando e um movimento na baia, de duas pessoas conversando. Ele caminha lentamente e ao se aproximar não vê o rosto da mulher, que está abaixada e de costas olhando a pata dianteira do animal que sente dores e rejeita interações com as pessoas que estão cuidando dele.

Tico, o empregado da fazenda, logo percebe a chegada do homem e o cumprimenta:

__ Bom dia, senhor! Já estamos terminando aqui e, se o senhor precisar de outro cavalo, eu arreio para o senhor, só me aguarde alguns minutos.

__ Não precisa se preocupar\, Tico! Eu só vim saber como está o Fúria. __ Aurélio responde e ao ouvir a sua voz\, Lívia gela a alma e as suas pernas tremem\, sentindo um frio na espinha.

__ Como ele está\, doutora? __ Ela ergue o corpo ainda de costas e virando-se lentamente\, encara o homem que parado a sua frente se encontra em choque.

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