Piquenique

O trajeto é o mesmo, mas parece mais comprido, com a pressa de chegar. Ela olha o lugar, encantada com as mudanças no cenário que antes era tão simples e agora está limpo, com flores e um balanço de cordas e tábua.

Ao pé da imensa mangueira, um banco e uma mesa, para os lanches das tardes que passarão juntos, e do outro lado da árvore, o lugar para colocarem as suas toalhas e sentarem juntos para a leitura.

Ela o procura em terra e não o vê, de repente olha para cima e ele está sentado num galho, segurando um buquê de flores-do-campo e o seu embrulho de presente.

__ Ela retribui o sorriso sincero e diz:

__ Você me surpreende, onde já se viu mudar o meu lugar preferido, sem me consultar primeiro!?

__ Queria ter lhe perguntado e até mesmo ter a sua ajuda\, mas você não veio por duas semanas e eu não podia esperar mais tempo. __ Ele fala descendo por uma escada de madeira\, que dá acesso ao topo da árvore.

__ Espero que goste! __ Ele lhe entrega o presente e as flores\, ela o agradece e o abraça num gesto carinhoso de gratidão.

Abrindo o presente, ela se encanta com um novo livro: “Orgulho e Preconceito” de Jane Austen.

__ Obrigada! __ Diz ela em deslumbre e cheirando as páginas do livro\, como um perfume dos amantes por leitura.

__ Abra! Eu fiz uma dedicatória, tem um mimo aí dentro que pedi para a minha avó fazer para você.

O Seu jeito de falar lhe arranca mais sorrisos de felicidades e abrindo o livro, encontra um lindo marcador de texto, feito numa corrente de pedrinhas claras e pingentes de bichinhos.

__ Que fofo! __ Ela diz o abraçando novamente e ainda com a cabeça no seu peito\, abre na página da dedicatória e lê:

“__ A amizade vai além das barreiras compreendidas pela razão. Ela transpõe sentimentos e distâncias, devemos priorizá-las, sermos fiéis e amar os nossos amigos. Por isso digo que a amo muito e cultivarei para sempre no meu coração o que sinto, para que nada, nem ninguém destrua este sentimento nobre. Seremos eternos amigos.”

Ass.: Marco Aurélio Chaves

Ela chora, pois nunca imaginou ter um amigo tão verdadeiro e sensível. Eles se abraçam e ficam por um instante nos braços um do outro, pedindo para que o mundo pare de girar e que este momento se eternize.

Durante os meses seguintes esta amizade foi se consolidando, Francisco o conheceu por acaso, num domingo de chuva, em que Aurélio foi até a sua casa levar alguns livros para Lívia, agora, materiais de estudo para ela se dedicar e não perder as matérias da escola. Francisco nem imagina de quem o rapaz é filho, pois lhe foi apresentado como um amigo que está lhe ajudando a estudar. Situação amenizada por Laura, sabendo que, se o seu marido souber que família pertence, não deixará a sua filha se aproximar.

Passou outono, inverno, primavera e agora o verão chegou. Aurélio se prepara para viajar e prestar o vestibular. Lívia faz promessas e preces para o amigo ser aprovado. Ele agradece e se despede da amiga, com abraços e sentimentos de saudades antecipadas, pois eles se veem praticamente todos os dias e são como carne e unha.

A viagem demorou mais que o esperado, a família Chaves, decidiu passar o final de ano na capital e as chuvas de final de ano, destruiu as estradas, impossibilitando a volta.

Lívia não deixou de frequentar o lago e a mangueira a sua margem. A sua sombra, ela o espera todos os domingos e a demora foi tanta que já leu o livro presenteada, isso pela terceira vez.

Com o sol batendo em seu rosto e os olhos fechados, ela senta-se no balanço e sente a brisa no seu rosto, de uma linda manhã de domingo. O silêncio a encanta e aquieta o seu coração. De repente, ela é abordada por duas mãos que tampam os seus olhos e com uma voz rouca diz:

__ Sentiu saudades de Mim? __ Aurélio fala ao seu ouvido e tirando as mãos do seu rosto\, sente a alegria de ver a sua amiga que o espera.

Num abraço apertado, ambos matam a saudade sincera que sentiram um do outro. Ela toca o seu rosto com as duas mãos e olhando nos seus olhos o questiona:

__ Você demorou, pensei que não voltaria e que ficaria de vez na capital.

__ Ainda não! Não fui bem nas provas e terei que me esforçar mais um pouco. A minha mãe está furiosa\, diz que eu me distrai com bobagens e que acabou me prejudicando. Ela culpa a nossa amizade\, sem mesmo te conhecer e agora está cada vez mais no meu pé. __ Ele fala caminhando até a mesa onde tem frutas e alguns lanches\, que Lívia sempre traz para as tardes de domingo.

__ Eu sinto muito! Você não precisa vir sempre aqui\, dedique-se aos seus estudos e dê prioridade ao seu objetivo. __ Ela fala pegando a sua mão por sobre a coxa e ele a encara\, lhe causando arrepios no corpo.

__ Não deixarei de vir! Quero que me ajude e estude comigo\, trarei os meus livros e leremos juntos\, deixará os seus romances por um tempo e se dedicará comigo. __ Eles sorriem concordando com a estratégia de estudos e em seguida começam a lanchar e contar as novidades.

Assim eles se dedicam durante mais um ano, passando muito tempo juntos e, por fim, chega o dia da avaliação e novamente ele não consegue a nota necessária para o tão sonhado curso de medicina.

Rosa, mãe de Aurélio decide dar um basta na amizade dos dois, culpando-a por seu filho não conseguir passar no vestibular.

Manhã de quarta-feira, uma chuva caindo mansa e molhando o chão lamacento do curral, que deixa a roupa suja e encharcada, da moça bonita que tira o leite das poucas vacas que tem. No seu rosto escorre a água da chuva, na mesma proporção que as lágrimas de injustiça, que ouviu da boca da mãe do seu melhor amigo.

No dia anterior, Rosa veio até a sua casa em confronto com a família da jovem e descobriu de quem era a filha, melhor amiga do seu filho. Furiosa ela diz:

__ Eu não quero o meu filho de conversas com a sua filha\, eu a proíbo que entre em nossas terras novamente e exijo que ela se afaste dele\, pois essa amizade já o prejudicou demais. __ Rosa tem mágoas estranhas\, não diferente de Francisco que ao descobrir quem são os pais de Aurélio\, também exige distância entre os dois.

A confusão se estende ao ponto de Francisco sentir-se mal e ser levado ao hospital. Aurélio sabendo o que aconteceu, vai até a casa da sua amiga e debaixo de chuva a procura pelo pequeno sítio.

Célio o comunica que é para ele ir embora, pois os seus pais não estão e Lívia está proibida de vê-lo. Viviane sorri debochada e diz:

__ Se não for embora\, eu contarei para o meu pai e ele dará uma surra na minha irmã. __ Viviane já está maior e com os seus doze anos\, sabe bem o que é maldade.

__ Você não falará nada! Ou contarei para a mamãe o que encontrei nos seus materiais de escola. __ Célio a ameça\, referindo-se a bilhetinhos de um garoto mais velho que a está seduzindo. Sabendo ele que se trata de Pedro e que ele não serve para nenhuma de suas irmãs.

__ Lívia está no curral\, seja rápido e vá embora\, pois se o meu pai descobrir ele ficará pior.__ Diz Célio\, apontando a direção.

Aurélio está com o corpo ensopado pela chuva fina e ao longe avista Lívia que solta as vacas no pasto, debaixo de chuva.

__ O que faz aqui? __ Ela pergunta\, sentindo uma forte dor no peito.

__ Precisamos conversar\, eu não tenho culpa pelas ações da minha mãe! Dê-me uma chance para explicar os seus motivos. __ Ele fala desesperado e com lágrimas nos olhos.

Ela passa pela porteira e vai na sua direção, com os pés atolados na lama e no esterco do curral, ele com o tênis molhado e cheio de barro.

__ Diga! Ela me culpa por seu atraso nos estudos e disse que não sou do seu nível de amizades e que não ficaria bem para um futuro médico ter contato comigo\, uma caipira que tem as unhas sujas de terra e os cabelos maltratados pelo sol e a chuva. Como irá me explicar os motivos que levam a sua mãe ser tão arrogante e prepotente\, existe defesa para esse tipo de gente? __ Ela joga o que pensa na sua cara e passa por ele\, pegando o latão de leite e caminhando em direção à casa da família.

__ Espera! Ele segura o seu braço com força e a puxa para o seu corpo, os colocando cara a cara, num confronto entre o tudo ou nada.

__ Não me interessa o que minha mãe pensa ou diz\, mas o que eu sinto e o que eu penso. __ Ele a puxa pelo pescoço e toma os seus lábios com paixão e a beija com ternura\, não sendo hostilizado por ela\, mas correspondido na mesma proporção\, deixando o latão de leite cair ao chão e se entregando ao momento de sentimentos.

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Comments

Hanah Oliveira

Hanah Oliveira

Infelizmente esta mulher terá um triste fim.

2025-02-12

0

Joelma Rocha

Joelma Rocha

Triste a desigualdade social deles 😌😌😌ser motivo da mãe dele maltratá-la😡😡😡

2024-11-14

1

Eva Araújo

Eva Araújo

Cruel demais essa mãe do Aurélio, tenho pra mim que ela vai aprontar muito ainda pra atrapalhar a amizade dos dois.

2024-11-10

2

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