Capítulo 17

Fecho a porta e, assim que estou sozino, finalmente deixo escapar a única lágrima que estava lutando para não aparecer na frente dele. Tranco a porta e, enquanto me arrasto pelo chão, fico pensando em que decisão absurda eu tomei. Como pude deixar as coisas chegarem a esse ponto? Sinto um nó na garganta ao perceber que preciso apresentar alguém ao conselho, mas a pessoa de quem eu realmente estava gostando simplesmente não me aceita por completo, não da forma que eu esperava. A frustração e a tristeza tomam conta de mim, e a sensação de desamparo se intensifica à medida que me questiono sobre o que fiz de errado.

Eu só precisava de um minuto para refletir sobre o que eu estava prestes a fazer. Sentado no chão, encostado na porta, sentia como se a única solução para toda essa pressão que estava sufocando minha mente fosse disparar uma bala na minha cabeça e acabar com tudo de uma vez. A carga emocional estava tão insuportável que eu já não aguentava mais. Em um momento de desespero, me levantei e fui até o chuveiro. Liguei a água fria, esperando que o contato gelado pudesse clarear meus pensamentos e esfriar minha mente tumultuada.

Depois de me banhar, vesti meu paletó, tentando impressionar e esconder o turbilhão que se passava dentro de mim. Ao sair do banheiro, avistei João, que estava no closet. Passei por ele sem dizer uma palavra, apenas mergulhando em meus próprios pensamentos. Minhas mãos tremiam ligeiramente enquanto pegava minha pequena mala. João me olhou, mas não proferiu nada. Havia um silêncio denso entre nós, onde as palavras não ditas pesavam mais do que qualquer conversa que poderíamos ter tido.

Rodrigo_Estou saindo agora e não voltarei nem hoje nem amanhã. Pode dormir tranquilo nesse quarto e, quem sabe, quando eu voltar, você já estará livre de mim.

João_ Como assim? O que está acontecendo? Já conseguiram pegar o cara?

Rodrigo_Não, ainda não. Eu estou saindo para resolver alguns problemas, e ele é o meu maior problema. Enfim, eu preciso encontrar uma solução para isso. Assim, você poderá ficar livre.

Peguei a chave do carro e comecei a descer as escadas. No caminho, avistei meu irmão envolvido em uma discussão acalorada com a Sofia. Enquanto os observava, percebi que as palavras estavam altas e carregadas de emoção. A forma como eles se comunicavam deixava claro que havia um desentendimento sério entre os dois.

Enquanto me aproximava, pude ouvir a Sofia dizendo coisas que pareciam desproporcionais e irritantes. Nesse momento, percebi que, na realidade, tanto meu irmão quanto Sofia estavam agindo de maneira imatura e arrogante, ambos refletindo a falta de educação que haviam herdado dos pais. Era evidente que eles não estavam sendo racionais e estavam apenas perpetuando um ciclo de desentendimento.

Com isso em mente, resolvi intervir:

Rodrigo_ posso saber o que está acontecendo aqui?

Sofia_ ao me ouvir, respondeu com uma ironia provocativa:

Sofia_Ah, claro! Olha quem vem: o defensor dos errados!

Fiquei surpreso com a resposta dela e percebi que a tensão no ar apenas aumentava. Era necessário encontrar uma forma de acalmar a situação e, quem sabe, fazer com que eles se entendessem de uma vez por todas.

Vicente: Ela estava de biquíni na área da piscina, e você sabe que naquele local sempre tem alguns seguranças fazendo a vigilância. Eu só fiz uma reclamação porque lá tem muitos homens, e se ela tivesse me avisado que iria usar o biquíni, eu teria liberado os seguranças para que ela pudesse se sentir mais à vontade. Mas parece que, na verdade, ela estava gostando da situação.

Sofia_o que tem? Estou presa nessa situação. Olha, não tira pedaço.

Rodrigo_ não está se referindo a olhar Sofia, mas sim à importância do respeito. Ele acredita que tanto ele quanto Vicente merecem consideração, mas eles têm uma visão negativa sobre você, achando que você está apenas se exibindo. vincent está tentando te proteger, mas não pode estar ao seu lado a todo momento, além de não saber o que se passa na cabeça das pessoas ao seu redor.

Sofia_esse homens são seus seguranças e têm a obrigação de respeitar você e a todos aqueles que estão dentro da sua casa.

Rodrigo_você deve entender que tem total liberdade para agir como achar melhor. No entanto, quando um deles tocar em você, peço que não venha reclamar comigo, pois já te avisei sobre essa possibilidade.

Vicente_ eu já me envolvi demais, mas agora decidi que não irei mais interferir nas escolhas dela. Quanto a você, Sofia, eu realmente amo minha profissão, e mesmo que você não goste, é importante que você encontre uma forma de apreciar ou respeitar isso, pois faz parte de quem eu sou.

Olho para Sofia, que está envolvida em uma série de raciocínios profundos e pensativos. Sem entender completamente a situação, meu olhar se dirige para Vicente, mas não consigo compreender o que se passa. Ouço um leve pigarro, e então volto minha atenção para a escada, onde vejo João observando sua irmã com uma expressão intrigada. Sinto um impulso de desviar meu olhar dele, como se não quisesse me envolver na cena.

João_posso saber o que aconteceu aqui? ele pergunta, tentando entender a situação.

Rodrigo_com uma atitude de urgência, fala: Vamos, Vicente!

Vicente responde rapidamente: Então tá, vou pegar tudo!

Rodrigo completa_Sim, sim, precisamos passar no conselho e resolver a mesma coisa.

Eu e o Vicente saímos da casa envoltos em um silêncio absoluto, causado pela presença dos irmãos. A tensão no ar era palpável, especialmente porque eu havia ignorado o João, que me lançara um olhar enquanto fazia uma pergunta. Ele é do tipo que fala tudo o que lhe vem à mente, sem se importar com os sentimentos dos outros. Para mim, isso é inaceitável; não posso viver com alguém que não se adapta ao meu mundo, às minhas emoções e necessidades.

Sinto que não há como continuar assim, mesmo que eu quisesse. Meu olhar se voltou para o meu irmão, que estava imóvel, perdido em seus pensamentos. Com isso, entrei no carro e, enquanto dirigia, decidi perguntar a Vicente sobre o que estava acontecendo, tentando entender melhor a situação.

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