Um corpo sem coração

...Anteriormente:...

" Assim, em silêncio e sem alarde, a rainha Flora partiu para se juntar a seu amado Anthony, deixando para trás um reino que nunca mais seria o mesmo."

Na manhã seguinte Evelyn acorda os seus olhos ainda vermelhos e inchados pelas lágrimas que derramou durante a noite, por saber o que havia feito sendo cúmplice da rainha Flora na sua morte.

Ela lavou o seu rosto e aprontou-se para ir até os aposentos da princesa Emily, mas precisava fingir que não sabia nada sobre a morte da rainha.

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...Voltando a noite anterior ...

A noite no palácio de Ahort estava pesada, como se o próprio ar pressentir a tragédia que havia acontecido. Evelyn, com o coração apertado, caminhava pelos corredores em direção aos aposentos da princesa Emily. Cada passo parecia ecoar em sua mente, ressoando com o peso do segredo que agora carregava. Ao chegar à porta dos aposentos da princesa, ela fez uma pausa, respirou fundo e forçou-se a vestir a máscara de serva leal e despreocupada.

— Princesa Emily? — chamou Evelyn, batendo levemente na porta.

— Entre, Evelyn — respondeu a voz suave de Emily, convidando-a a entrar.

Emily estava sentada em frente ao espelho, penteando seus longos cabelos loiros com uma expressão serena. Apesar da dor da recente perda de seu pai, ela tentou se manter firme. Evelyn sabia que isso só tornava o que estava prestes a acontecer ainda mais difícil.

— Boa noite, minha princesa — disse Evelyn, curvando-se com respeito. — Como está se sentindo esta noite?

— Estou bem, Evelyn. Acho que nunca me acostumarei com a ideia de que meu pai não está mais conosco, mas tento seguir em frente. E minha mãe? Você a viu hoje?

O coração de Evelyn apertou-se dentro do peito, mas ela manteve a expressão tranquila.

— Sim, Majestade. Ela estava quieta, mas creio que isso é compreensível. A dor do luto é difícil para todos nós. Eu trouxe um chá para ajudá-la a relaxar antes de dormir.

Emily suspirou, deixando o pente sobre a mesa.

— Obrigada, Evelyn. Eu tenho medo de estar tão sozinha, mesmo estando cercada por tantas pessoas. Sinto que estou perdendo a todos.

Evelyn sentiu uma dor profunda ao ouvir essas palavras, mas forçou um sorriso suave.

— A senhora é forte, princesa. Sei que a senhorita vai conseguir superar isso. E sua mãe ainda está aqui. Vocês têm uma à outra.

Emily sorriu, agradecida pelo conforto de Evelyn.

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Na manhã seguinte Evelyn acorda os seus olhos ainda vermelhos e inchados pelas lágrimas que derramou durante a noite, por saber o que havia feito sendo cúmplice da rainha Flora na sua morte.

Ela lavou o seu rosto e aprontou-se para ir até os aposentos da princesa Emily, mas precisava fingir que não sabia nada sobre a morte da rainha.

Chegando no quarto da princesa, ela fez uma pausa, respirou fundo e forçou-se a vestir a máscara de normalidade. E assim entrou no quarto, encontrando Emily sentada de frente para a janela, olhando os pássaros e o ar que não demonstrava o que estava por vir.

— Bom dia! princesa. Evelyn chegou a falar.

— Dormiu bem, majestade?

Emily olhou desaprovando o termo majestade direcionado a ela vindo de sua criada. E foi levantando para falar.

No entanto, antes que pudesse responder, a porta dos aposentos foi aberta abruptamente por dois guardas, suas expressões tensas e solenes. Emily levantou de imediato, o coração acelerado pela súbita intrusão.

— O que está acontecendo? Perguntou Emily, com a voz ligeiramente trêmula.

Um dos guardas, o capitão da guarda real, deu um passo à frente e curvou-se respeitosamente antes de falar.

— Princesa Emily, trazemos notícias de maior gravidade. Esta manhã, a rainha Flora foi encontrada em seus aposentos... Ela faleceu durante o sono.

Por um momento, o mundo pareceu parar para Emily. As palavras do capitão ecoavam na sua mente, mas não faziam sentido.

* a sua mãe... morta? Como isso podia ser verdade?*

Ela sentiu as pernas fraquejarem, e Evelyn rapidamente a segurou, apoiando a princesa antes que ela desabasse no chão.

— Não... isso não pode ser. Sussurrou Emily, seus olhos cheios de lágrimas.

— Eu... eu falei com ela ontem... Ela estava... viva.

O capitão abaixou a cabeça, respeitando a dor de Emily.

— Sentimos muito, Vossa Alteza. Ela foi encontrada sem sinais de sofrimento. Parece que partiu pacificamente, mas estamos todos devastados por sua perda.

Evelyn, ainda segurando Emily, manteve sua expressão inalterada, fingindo surpresa e choque diante da notícia. Seu coração, porém, estava aos pedaços. Ela havia prometido à rainha que guardaria seu segredo e agora estava presa a essa promessa, mesmo diante do sofrimento da princesa.

— Majestade... Começou Evelyn, a voz suave e cheia de empatia.

— Não há palavras para expressar o quanto lamento essa perda. A rainha foi uma mulher extraordinária. A senhora precisa ser forte agora, como ela sempre foi.

Emily afundou-se nos braços de Evelyn, chorando incontrolavelmente. As lágrimas corriam por seu rosto, enquanto soluços dolorosos escapavam de seus lábios. Evelyn, por mais que quisesse confortá-la, sabia que nada poderia aliviar a dor de Emily naquele momento.

Os guardas se retiraram discretamente, deixando as duas mulheres sozinhas em meio ao silêncio sombrio da perda. Evelyn continuou a segurar Emily, permitindo que ela chorasse até que as lágrimas se esgotasse. Enquanto isso, ela lutava com sua própria dor, sabendo que a morte da rainha, que parecia tão pacífica e natural, era na verdade o resultado de um ato desesperado que ela ajudou a realizar.

— Evelyn... o que eu vou fazer? Perguntou Emily num sussurro, quando finalmente conseguiu controlar os soluços.

— Eu estou tão sozinha.

— Você não está sozinha, princesa Respondeu Evelyn, com a voz firme.

— Estou aqui com você. Sempre estarei.

Emily olhou para Evelyn com gratidão, e por um breve momento, Evelyn sentiu que estava traindo a confiança da jovem princesa. Mas a promessa que fizera à rainha pesava mais. Ela sabia que, por mais que doesse, era necessário proteger Emily da verdade cruel sobre a morte de sua mãe.

O dia avançava enquanto Emily, exausta pelo luto, finalmente adormeceu nos braços de Evelyn. Sentada ao lado da cama da princesa, Evelyn ficou acordada, vigiando-a. Seus pensamentos, no entanto, estavam distantes, presos no momento em que a rainha Flora lhe confiava seu último pedido. Ela sabia que aquela noite iria ficar marcado em sua mente pelo resto de sua vida, carregando o fardo de um segredo que jamais poderia revelar.

No silêncio da noite, Evelyn fez uma promessa silenciosa para si mesma:

" Protegeria Emily com todas as suas forças, assim como Flora desejava. E, por mais doloroso que fosse, manteria o segredo da rainha para sempre. "

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