Traição fatal

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" O ritual terminou, mas o luto estava apenas começando. O reino chorava por seu rei, mas nenhum coração estava mais quebrado do que o de Flora e Emily, que agora precisariam encontrar forças uma na outra para enfrentar um futuro incerto sem o pilar das suas vidas. "

Ainda no reino de Ahort, a princesa Emily, agora rainha do reino de Morsaden, passava os dias após o funeral e enterro do seu pai, o Rei Anthony, com a sua mãe.

Ainda sofrendo pela perda do marido, a rainha Flora não via mais motivos para continuar a existir.

O crepúsculo caía sobre o reino de Ahort, tingindo o céu de tons dourados e alaranjados. A rainha Flora observava a paisagem de sua sacada, onde havia passado incontáveis momentos ao lado de seu marido, o falecido Rei Anthony. Agora, sozinha e afundada em uma dor que parecia esmagar seu peito, ela sentia o peso da solidão e do vazio que o luto trazia.

Flora era uma mulher forte, que sempre havia desempenhado seu papel como rainha com dignidade e firmeza. Mas sem Anthony, tudo parecia perder o sentido. O palácio, antes tão vibrante com a presença do rei, agora era um lugar frio, assombrado por lembranças dolorosas. Cada canto, cada corredor sussurrava a ausência dele, um eco constante de sua perda.

Naquela noite, enquanto todos no castelo se preparavam para mais uma longa noite de vigília, Flora chamou por Evelyn, a criada de sua filha Emily. Evelyn, uma jovem de aparência doce, mas com olhos que refletiam uma vida cheia de segredos e sacrifícios, era conhecida por sua lealdade e discrição. Ao entrar nos aposentos da rainha, Evelyn inclinou a cabeça em reverência, sem saber o que a aguardava.

— Majestade, como posso servi-la? perguntou Evelyn, sua voz suave quebrando o silêncio.

Flora permaneceu em silêncio por um momento, olhando para o retrato de Anthony que pendia na parede. Finalmente, com uma voz baixa e trêmula, ela começou a falar.

— Evelyn, há algo que preciso pedir a você... algo que nunca imaginei que faria.

Evelyn se aproximou, preocupada com o tom sombrio da rainha.

— O que deseja, minha rainha?

Flora virou-se, seus olhos cheios de uma tristeza tão profunda que fez Evelyn recuar por um momento.

— Eu não consigo mais suportar esta dor, Evelyn. A vida sem Anthony é insuportável... um peso que me esmaga a cada segundo que passa. Eu quero que acabe.

Evelyn ficou em choque, seus olhos se arregalando enquanto as palavras da rainha penetravam sua mente. Ela tinha ouvido rumores, sussurros entre os servos sobre o estado mental da rainha desde a morte do rei, mas nunca imaginou que Flora chegaria a tal ponto.

— Majestade, por favor, não diga isso. Emily... ela ainda precisa da senhora.

— Emily é forte. Interrompeu Flora, sua voz firme, mas com um traço de desespero.

— Ela tem Angus, tem um futuro à sua frente. Mas eu... meu futuro acabou com a morte de Anthony. Não quero arrastar essa existência vazia por mais tempo.

Evelyn lutou para encontrar palavras, mas nenhuma parecia adequada para consolar a rainha. Ela sabia que o que estava sendo pedido era mais do que qualquer servo deveria suportar, mas também compreendia a profundidade da dor de Flora.

— O que deseja que eu faça, minha rainha? Perguntou Evelyn, sua voz baixa e resignada.

Flora olhou para Evelyn com uma expressão de gratidão e tristeza.

— Eu preciso que você me ajude a encontrar a paz. Há uma poção... em minha câmara secreta. Ela foi feita por um alquimista muitos anos atrás, para garantir que, caso algo terrível acontecesse, eu pudesse partir sem dor.

Evelyn sentiu um calafrio percorrer sua espinha. A responsabilidade que a rainha estava lhe confiando era pesada demais. No entanto, ao ver a determinação nos olhos de Flora, percebeu que argumentar seria inútil.

— Se é isso que deseja, Majestade... eu farei.

Flora sorriu levemente, um sorriso triste, mas agradecido.

— Sim, é o que desejo. Quando a noite cair por completo, traga-me a poção. Quero que tudo termine de forma tranquila, sem alarde. Apenas você saberá. Cuide para que minha partida não traga vergonha para Emily.

Evelyn assentiu, sentindo lágrimas se formarem em seus olhos. Ela sabia que, ao cumprir esse pedido, estaria cruzando uma linha da qual não haveria retorno. Mas, para a rainha, não havia mais escolhas, apenas o desejo de finalmente se reunir com seu amado.

Mais tarde, naquela noite, Evelyn retornou ao quarto da rainha com um pequeno frasco em mãos. Flora estava sentada em sua cadeira favorita, vestida em sua camisola de seda, seus olhos fixos no vazio. Quando Evelyn entrou, a rainha levantou os olhos, sorrindo levemente.

— Obrigada, Evelyn. Flora disse, sua voz suave.

— Você tem um bom coração. Prometa-me que vai cuidar de Emily, que não vai deixar que ela saiba o que realmente aconteceu.

— Eu prometo, Majestade.

Flora pegou o frasco, seus dedos trêmulos enquanto abria a tampa. Ela olhou para Evelyn uma última vez, seus olhos cheios de uma paz recém-encontrada.

— Diga a Emily que eu a amo, e que ela foi a maior alegria da minha vida.

Com essas palavras, Flora levou o frasco aos lábios e bebeu o conteúdo de uma vez só. A poção era rápida e silenciosa em sua ação, e em questão de minutos, a rainha Flora fechou os olhos, seu corpo relaxando enquanto ela finalmente encontrava a paz que tanto desejava.

Evelyn ficou ao lado da rainha, segurando sua mão até o último suspiro. Quando tudo terminou, ela cobriu o corpo de Flora com um cobertor de veludo, como se a rainha estivesse apenas dormindo.

As lágrimas caíam silenciosamente pelo rosto de Evelyn enquanto ela se despedia da rainha. Ela sabia que o peso desse segredo a acompanharia pelo resto da vida, mas também sabia que havia cumprido o último desejo de uma mulher que amava profundamente.

Assim, em silêncio e sem alarde, a rainha Flora partiu para se juntar a seu amado Anthony, deixando para trás um reino que nunca mais seria o mesmo.

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