Voltando para casa

Marisa disse que precisaria trocar de roupa antes de ir embora, mas estava receosa, então a conduzi até o quarto e ela colocou a roupa, pegou o celular e disse:

Eu preciso vender esse telefone, é o meu, falei ao meu pai que viria trabalhar e se voltar sem dinheiro ele vai ficar louco- ela disse.

Não vai vender, eu quero seu número, não se preocupe que te darei o valor para falar com seu pai, basta uma palavra sua que eu acabarei com tudo- falei e ela me olhou tensa.

Eu não quero que alguém se machuque por minha causa, se você soubesse o quanto eu não valho a pena - ela falou e percebi que ela mexia as mãos sem parar, se sentia incomodada e constrangida na presença de outros homens, e me deixou puto saber que estar na minha presença a deixava assim.

Minha presença te incomoda?- falei enquanto estávamos no carro indo em direção ao hangar.

Não, não é isso, te conheço a poucas horas, mas sei que posso confiar sim em você, eles mexem com coisas perigosas e não quero que mais ninguém se machuque, não por mim- ela falou e senti pena dela, Marisa não se sentia bonita, atraente ou sequer valida para algo, queria poder arrancar dela esse sentimento, mas não posso, não assim, seguimos o restante do tempo em silêncio e quando fomos em direção ao vilarejo eu a dei 300 euros, ela não queria aceitar, mas eu precisava sentir que isso a manteria segura.

Obrigado senhor Julian, vou comprar alguns mantimentos amanhã- ela falou e continuou sentada olhando pela janela, pude ver ela limpar o rosto rapidamente e me senti impotente em não poder ajudar.

Marisa...

O senhor Julian me trouxe até o vilarejo e me deu 300 euros, fiquei constrangida, mas no fim aceitei, ele demonstrou cuidado e disse que bastaria um pedido e ele resolveria, no fim fiquei tentada a tentar, mas se ele sabia que eu tinha sofrido abuso não ia querer algo comigo, eu não tenho psicológico para sofrer mais, então é melhor ficar quieta em casa mesmo.

Obrigado por me trazer senhor Julian- falei enquanto descia no vilarejo, ele me deu o seu número e disse que eu deveria ligar sempre que precisasse, que se eu quisesse o conhecer de verdade valeria a pena.

Ele voltou para o jato e seguiram viagem e eu fui em direção a minha casa, como eu já imaginava estava cheio de homens, virei para meu pai e lhe entreguei o dinheiro e voltei para o quarto, ele não falou nada e agradeci por isso, durante a noite os pesadelos me assolaram como de costume, mas dessa vez tinha um rosto diferente, "no sonho meu pai me enforcava e eu implorava por socorro, não tinha forças para lutar contra ele e quando ia me entregar apareceu o meu salvador, o rosto de Julian veio ao meu encontro e ele arrancou meu pai de cima de mim, fiquei aliviada até que ele de forma agressiva ele subiu em cima de mim, não acreditei que ele faria isso também, e foi o que aconteceu, ele abusou de mim".

Acordei assustada e foi impossível não chorar, ele não faria isso, ou faria? Não o conheço o suficiente para dizer algo, eu tinha pesadelos com o abuso todos os dias e não parava nunca, levantei da cama e diante do espelho tirei a blusa, olhei meu corpo marcado, marcas arroxeadas, esverdeadas, amareladas, de diferentes épocas, cicatrizes de cortes e fora tudo isso as marcas que tem dentro de mim, fui escondida até a biblioteca e com a ajuda da professora que estava lá comecei a tomar medicação para prevenir gravidez, se qualquer coisa me acontecer quero ter certeza que nunca engravidarei, não para trazer ao mundo uma criança que sofreria como eu.

No outro dia meu pai não apareceu, olhei e não tinha água, então peguei as garrafas e fui encher no poço, ali alguns homens me pararam.

Está andando com que tipo de pessoa vadia- ele falou trancando a minha passagem.

Não é da sua conta, me deixe passar- falei sério.

Vem de jato, entrega dinheiro ao seu pai, está dando por dinheiro? Eu também tenho dinheiro e quero uma horinha com você, acho que por baixo dessa blusa larga tem uma delicinha - ele falou colocando a mão na minha camiseta me deixando apavorada.

__ Se tocar em mim ele vai te matar, conhece os Rossi né, basta uma palavra minha e ele virá- falei mentindo, eu estava apavorada, mas surtiu efeito e ele se afastou.

Voltei para casa rápido e tentei não surtar, se ele falasse algo para meu pai com certeza eu apanharia mais uma vez.

Julian...

Voltei para casa com meu coração apertado, saber que Samira e Luna não viveriam nunca mais na vida qualquer tipo de agressão, quando cheguei fui dormir e logo cedo as meninas já perguntaram por ela:

__ Não se preocupe que o pai dela será castigado- falei e sai, não queria que ficasse algo no ar e não tinha como explicar nada, na minha cabeça veio a traição da Cassy e meu coração se fechou rapidamente.

Ela me deu seu telefone e eu liguei, ela não atendeu e me perguntei se o seu pai fez alguma coisa com ela, tentaria depois, eu precisava ouvir sua voz, mas também precisava trabalhar, Ethor o novo soldado vai ficar conosco em teste, será o soldado da Luna e preciso prestar atenção nele, essa noite tem uma festa e iremos cuidar da segurança.

Você as chama pelo nome Luna e Samira, escutei chamar a Samira de Sami, posso as chamar assim então já que você chama- ele falou.

Não, senhora Luna e Samira, não iremos comparar meu contato com o seu- falei sério e ele sorriu de forma contida.

__ Entendi, vou cuidar disso, a chamarei por senhora então- falou e saímos, essa festa era uma apresentação das meninas da máfia e fechavam contratos de casamento, muitos soldados aproveitam a noite e saem com algumas mulheres também, eu nunca me envolvi com meninas da máfia e sabia dos riscos que tinham em fazer, quando voltamos para casa no outro dia cedo Luna chegou na mansão nervosa e perguntando pela Samira, quando falou que algo tinha acontecido com a Marisa ganhou imediatamente minha atenção

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