desculpas

Cheguei no apartamento e Marisa estava no quarto, ela via um filme encolhidinha e seu olhar estava confuso, quando me viu ela sorriu e apressadamente levantou e pegou no frigobar do quarto uma caixinha, fiquei atento aos seus passos e ela se virou e esticou o braço para mim.

Comprei um presente, tecnicamente você que pagou, mas o que vale é a intenção — ela disse sorrindo, olhei na caixa e era um coração de chocolate, ela estava tão radiante me entregando aquilo e eu fiquei parado sem entender, mas peguei e sorri de volta para ela.

Trouxe um coração para mim? — perguntei.

Sim, com amendoim, uma delícia, prova ele, vem senta aqui — ela falou me puxando, sentei e abri com cuidado, parti e dei um pedaço a ela, que logo pôs na boca, fiz igual e realmente era delicioso.

Marisa, agradeço e gostei muito do presente, mais ainda por saber que em seu passeio lembrou de mim, mas quero falar com você, me desculpar pelo comportamento da Cassy — falei — ela não podia ter se aproximado de você, a alguns meses atrás tínhamos um relacionamento, mas ela me traiu e eu não a quis mais, ela está até casada com alguém, já resolvi, você é importante para mim e não quero ninguém te agredindo nem com palavras, nem nada do tipo, te peço perdão por isso — finalizei.

— Está tudo bem, se eu fosse ela e tivesse perdido alguém bom como você também ficaria furiosa—ela falou e neguei com a cabeça.

— Está enganada sobre mim Marisa, eu não sou um homem bom — falei — Mato homens diariamente, inclusive seu pai está bem e esperando seu castigo.

Falei para ela na tentativa de tirar a imagem de príncipe encantado que ela tinha de mim, não queria que ela me visse como monstro, mas não iria destruir uma menina que já está tão machucada.

— Eu quero vê-lo, não vou interceder por ele não, mas quero falar algumas coisas sim, por favor — ela falou e se aproximou, com as mãos no meu peito suplicando que a levasse, eu não conseguia prestar atenção em nada que não fosse seus lábios, minhas mãos com vontade própria tocaram seu rosto e seus lábios rosados, seu olhar tinha tanta súplica, fogo e inocência que me confundia, seu cheiro era tão bom e minha vontade era beijá-la, jogar ela na cama e transar o dia inteiro, mas cai em mim e me afastei.

— Então vamos, mas só depois do seu horário no médico, não quero que você sofra vendo aquele maldito, mas sua vontade sempre será válida para mim — falei e ela foi se vestir.

Fiquei ali tentando administrar a ereção na minha calça e a bagunça no meu pensamento.

Marisa…

Julian veio aqui mais cedo, ele queria se desculpar pela atitude da ex namorada, mas aquilo não me incomodava nada, eu sentia tanta verdade nas palavras e atitudes dele que acreditava em tudo, talvez até cegamente, mas todo tempo que ele esteve ao meu lado nunca foi ruim, ousado, desrespeitoso e qualquer outra coisa que me lembrava aquele povo do vilarejo.

De tudo que conversamos no quarto ouvi-lo falar sobre meu pai foi a parte tensa, ele vai matá-lo, eu sei disso e não sinto nada a respeito, sinceramente eu não me importo com a vida dele, já estava achando que a dor no braço era toda psicológica por voltar a doer no momento que conversávamos, levantei suplicando que me levasse e por um minuto fiquei paralisada com tamanha beleza, seu rosto proeminente e seu perfume forte, seus músculos super definidos e olhar quente, olhar de quem sentia o mesmo que eu, tinha a impressão de que ele tinha receio de se aproximar, talvez me ache perturbada demais ou ande com mulheres perfeitas e não quer me iludir.

__ Julian? Posso colocar um vestido né, ou acha que uma calça é melhor? — Perguntei e ele respondeu:

— Vá com um vestido, mas não curto demais, quem vai te atender é um médico — ele falou e eu procurei um, gostei de um rosa clarinho, mas me senti transparente porque minha pele é muito clara, então pus um macacão preto, ele era longo de mangas curtas, deixei meu cabelo solto e passei uma maquiagem leve, esses vídeos de internet que ensinam a fazer as coisas são ótimos, coloquei um tênis mais social e uma bolsa, um colar com um ponto de luz e me senti pronta, não faria Julian passar qualquer vergonha, se andaria ao seu lado me vestiria de uma forma mais elegante.

— Como estou? — Perguntei — Olha só, eu não tenho prontuários médicos ou qualquer atendimento, a única vez que me lembro, não me lembro porque foi meu nascimento, mas foi a única vez, meu pai nunca me levou a médico.

— Tudo bem, faremos um check-up geral, é importante que saibamos seu tipo sanguíneo, se tem alergias, e estes hematomas, não quero te constranger, mas doenças sexualmente transmissíveis para tratar qualquer coisa que tenha? — falou e me senti envergonhada, como lidaria com um homem falando sobre isso.

— Tem certeza? Não sinto nada e não queria que me julgassem — falei já me sentindo constrangida.

— Meu bem ninguém vai te julgar ou desrespeitar, saiba que mato, não se preocupe com isso.

Concordei sem querer concordar, fazia sentido, eles devem tratar essas coisas todo dia, então saímos de casa.

No caminho para a clínica nós não conversamos, fiquei muito tensa com a possibilidade de ter pegado uma doença e acabar marcada mesmo como um lixo, involuntariamente procurei sua mão e fiquei feliz quando ele não me rejeitou.

— Estou aqui, não sei se você entende a dimensão do que sinto quando te vejo,mas estou aqui — ele falou e sorri, mas lembrei da possibilidade de ter uma doença e foi como um soco no estômago.

— Pode ser que eu tenha uma doença, eu não tenho nada para te oferecer — falei e ele disse:

— Qualquer coisa é tratável e você vale muito, tire da sua mente qualquer pensamento contrário a esse,e entenda eu não abrirei mão de você.

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