Capítulo 14: O primeiro beijo

Erick estava prestes a entrar no quarto de Raquel quando seu celular tocou. Era Henrique. Ele atendeu rapidamente, trocando algumas palavras curtas e secas antes de desligar, o olhar ainda carregado de preocupação. Respirou fundo e finalmente entrou no quarto.

Lá dentro, o ar estava denso de apreensão, mas a calma do médico Augusto contrastava com o nervosismo visível de Erick. Fernanda, ao lado de Raquel, observava cada movimento com atenção enquanto o médico terminava os exames.

"Então, doutor Augusto, como ela está?" perguntou Erick, tentando manter a voz firme, embora a preocupação transparecesse.

"Ela está reagindo muito bem. Teve sorte de ter sido trazida rapidamente ao hospital, então não terá sequelas graves," respondeu o médico com serenidade, enquanto guardava os equipamentos.

Erick soltou um longo suspiro de alívio. "Que alívio! Fico muito feliz com essa notícia," disse, passando a mão pela nuca, onde a tensão ainda parecia persistir.

"Vou examinar outros pacientes agora. Se você se sentir mal, Raquel, não hesite em avisar a enfermeira, que me chamará. Seu jantar logo será trazido," informou Augusto, ajeitando a prancheta antes de sair do quarto.

Erick voltou-se para Fernanda, que parecia exausta, mas mantinha um sorriso discreto. "Você deve estar cansada. Se quiser ir para casa, eu cuido dela," ofereceu com um gesto suave.

"Estou mesmo, e se você está se oferecendo, aceito! Cuide bem da minha amiga," respondeu ela com uma leve risada, lançando um olhar cúmplice para Raquel e depois para a bolsa que Erick carregava. Como maior entusiasta do casal, Fernanda aproveitava a oportunidade de deixá-los a sós.

"Não precisa se preocupar, Erick. Você também deve estar cansado," disse Raquel, sua voz carregada de um misto de gratidão e incerteza, receosa de estar sendo um fardo.

"Nem um pouco cansado. Por favor, me deixe cuidar de você," pediu ele com suavidade, como se a própria ideia de cansaço fosse irrelevante diante da preocupação que sentia.

"Não seja teimosa, amiga. Aceita a ajuda," brincou Fernanda, dando um tapinha de leve no ombro de Raquel. "Vou para casa. Amanhã passo aqui depois do trabalho."

"Tudo bem. Vá com cuidado," respondeu Raquel, retribuindo o sorriso.

Quando Fernanda saiu, o silêncio entre eles tornou-se mais íntimo, quase palpável. Erick puxou uma cadeira e se sentou ao lado da cama, a proximidade entre os dois crescendo de forma natural.

"Está se sentindo bem? Precisa de algo?" perguntou ele, a voz baixa e carinhosa.

"Estou bem, mas esse hospital parece muito caro... vai acabar com meu orçamento," brincou Raquel, quase sussurrando, mas com uma ponta de preocupação real por trás do comentário.

"Não se preocupe com isso. Eu vou pagar por tudo," garantiu Erick, a seriedade em sua voz contrastando com o sorriso leve que mantinha.

"Mas não vai ser caro para você também? Não quero te dar despesas. Posso pagar pelo menos metade," insistiu ela, seus olhos evitando os dele por um momento.

"De jeito nenhum. Você salvou a minha vida, e isso é o mínimo que posso fazer. Não se preocupe com o dinheiro," respondeu Erick, tocando de leve a mão dela, um gesto que foi tanto reconfortante quanto íntimo.

"Já que insiste, não vou recusar, especialmente porque acabei de ser demitida," disse Raquel, seu semblante tornando-se mais sombrio, como se aquele fosse o verdadeiro peso que a afligia.

"Demitida? Te acusaram de roubar o projeto de um colega, não é?" Erick perguntou, inclinando-se um pouco mais, sua expressão atenta.

"Como você sabe disso? Foi a Fernanda que te contou?" questionou Raquel, piscando surpresa.

"Não. Na verdade, foi seu chefe quem me disse," respondeu Erick, observando a expressão de Raquel se transformar em pura confusão. "Acho que você não sabe quem eu sou, mas vou te contar."

"Por favor," murmurou ela, agora com a curiosidade tomando conta.

"Você estava a caminho de uma entrevista de emprego, certo? Eu sou o dono e CEO da empresa. Seu chefe me ligou, pedindo para não te contratar."

Raquel ficou completamente atônita. Suas palavras ficaram presas por um instante.

"Não sei nem o que dizer... Só espero que você acredite em mim quando digo que essa acusação é uma calúnia. Eu jamais faria isso," respondeu ela, sua voz quebrando levemente no final.

Erick percebeu a dor em seus olhos e, gentilmente, segurou seu queixo, inclinando seu rosto na direção dele.

"Eu acredito em você. E nunca abaixe a cabeça assim. Você é uma pessoa honesta, e isso é o que importa," disse ele, olhando diretamente em seus olhos.

Raquel mal conseguiu formular uma resposta, distraída pela proximidade de Erick. Seus pensamentos se embaralhavam enquanto notava o quão próximos estavam seus lábios, o coração acelerando de leve.

"Você entendeu?" Erick perguntou, notando a distração nos olhos dela.

"Sim, eu entendi," respondeu ela, sentindo o calor subir pelo rosto.

"Tudo bem. Quanto ao seu emprego, considere-se contratada. Assim que você melhorar, começará a trabalhar."

"Mas não quero que me contrate só porque te salvei. Nem cheguei a fazer a entrevista," disse Raquel, tentando manter a voz firme, apesar do turbilhão de emoções.

"Não é só por isso. Eu vi seu currículo e gostei. Estou investindo em projetos ambientais, e você será uma grande aquisição para a equipe," afirmou Erick com firmeza.

"Se é assim, aceito. Prometo ser sua melhor funcionária," afirmou Raquel, sentindo-se aliviada.

Erick sorriu de volta, seus olhos brilhando com uma leve provocação. "Talvez você possa ser muito mais do que isso, se quiser," brincou, mexendo nas mechas do cabelo de Raquel, fazendo-a corar mais uma vez.

Antes que ela pudesse responder, uma enfermeira entrou com a bandeja de comida. Erick a pegou gentilmente e agradeceu. Quando a enfermeira saiu, ele se virou para Raquel.

"Quer ajuda para comer?" questionou, olhando para seu braço engessado.

"Não, eu consigo," respondeu Raquel com confiança, mas ao tentar levar a colher à boca, derrubou parte da sopa.

"Tem certeza que não precisa de ajuda?" Erick perguntou, rindo baixinho enquanto limpava a bagunça com um guardanapo.

"Talvez precise," admitiu Raquel, rindo de si mesma. "Deslocar o braço direito foi um azar mesmo."

"Então será um prazer ajudar," disse Erick, alimentando-a com cuidado. Quando ela terminou, ele colocou a bandeja de lado e ajeitou o travesseiro atrás dela.

"Pode pegar minha bolsa, por favor?" pediu Raquel.

Erick entregou-lhe a bolsa, observando enquanto ela retirava uma pequena caixa azul de dentro e a estendia para ele.

"Guardei isso para te devolver, mas nunca tive a chance de te encontrar novamente."

"Guardou para me reencontrar?" Erick sorriu, brincando.

"Para te devolver," corrigiu Raquel, claramente envergonhada, o rubor tingindo seu rosto.

"Sabe, você deveria ser mais sincera com seus sentimentos... ou prefere ficar vermelha toda vez que falar comigo?" Erick provocou, inclinando-se um pouco mais.

"Não sei do que está falando," respondeu ela, desviando o olhar, tentando disfarçar.

"Então não precisa falar," disse Erick, aproximando-se lentamente até seus lábios se encontrarem em um beijo suave.

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