Capítulo 9: Coração gelado

Durante os quatro anos que se passaram, Erick focou todos os seus esforços em sua empresa de arquitetura LION: Arquitetura e Design. Energético e preciso em todas as suas negociações, ele ganhou grande fama no mundo dos negócios; todos o respeitavam, seja evitando tê-lo como inimigo ou buscando alianças em colaborações. Ele não se importava, tudo o que queria eram os lucros.

À medida que sua empresa ia crescendo, seu coração ficava cada vez mais gélido. Embora não tivesse desistido de procurar sua filha, ele não tinha muitas esperanças de encontrá-la. Todas as amizades que antes o rodeavam, já não existiam mais, ele se via cercado por pessoas que só queriam algum tipo de privilégio ao estar em sua companhia, e todas as palavras doces que ouvia não faziam nenhum sentido em seu coração.

Seu relacionamento com Vitória não era mais o mesmo desde aquele tempo. Dormindo em quartos separados, ele não reservava nenhum momento do seu dia para dar-lhe um pouco de afeto, fazendo com que qualquer laço de amor que tivessem se extinguisse por completo. Ele a repudiava por nunca demonstrar nenhuma vontade de reencontrar a filha deles.

Não entendia como uma mãe poderia demonstrar tanta felicidade saindo em compras e viagens intermináveis, quando sua filha poderia estar sofrendo em algum lugar qualquer por aí, sem o amor e afeto de quem devia estar cuidando dela. Para ele, Vitória era nada mais que uma mulher fútil e sem coração.

Era uma manhã de segunda-feira, o dia estava lindo, mas tudo o que Erick sentia era uma enorme dor de cabeça. Tinha chegado tarde em casa depois de muitas horas de trabalho e, como rotina para evitar seus pensamentos, ele bebeu. Como se o álcool pudesse apagar todo o seu sofrimento, e até funcionava um pouco, mas depois de embriagado, tudo o que ele via em seus pensamentos era o rosto da bela jovem que ele tinha esbarrado anos atrás, sendo o único refúgio da escuridão em que se encontrava. Pensar nela era como abrir uma janela e ver os primeiros raios de sol banhando seu rosto.

Depois de tomar um banho relaxante, ele tomou um remédio forte para ver se a dor de cabeça passava. Olhando para os papéis de divórcio que ainda estavam na mesa do escritório sem serem assinados, ele arrumou sua gravata e saiu sem sequer tomar café da manhã. Os empregados da casa ficavam com o coração partido ao ver toda a mudança que ocorreu no jovem durante os anos. Ele era tão gentil e alegre, mas agora se protegia nesse escudo impenetrável de gelo. Todos rezavam pelo dia em que ele encontrasse sua filha, trazendo cor novamente para sua vida.

Chegando na empresa, ele subiu para seu escritório e todos no caminho sentiam o ar pesado quando ele passava, mas não ousavam falar. Ao invés disso, abriam grandes sorrisos ao lhe desejar 'bom dia', e ele respondia de forma educada, sem demonstrar antipatia, mas nenhum sorriso saía de seus lábios. Depois de pedir um café para sua secretária, ele começou a examinar alguns documentos e relatórios em sua mesa, concentrado em seu trabalho, quase não escutando o telefone tocar.

"Sr. Carter, o Sr. Robson Almeida está na linha querendo falar com você, posso passar a ligação?" disse Letícia, sua secretária, quando ele atendeu a chamada.

"Sim, por favor," Erick respondeu rapidamente.

"Bom dia, Sr. Almeida, o que deseja falar comigo?" Erick respondeu, sem rodeios.

"Bom dia, Sr. Carter, eu queria lhe pedir um favor. Acho que depois de tantas colaborações juntas, não teria problema para o senhor, e não é algo difícil," Robson falou tentando bajular o máximo possível.

"Vá direto ao ponto, Sr. Almeida. Se estiver ao meu alcance, eu vejo o que posso fazer," Erick respondeu, sentindo a falsidade nas palavras.

"Muito bem, vou lhe contar a verdade. Acabei de demitir uma funcionária sem caráter aqui na minha empresa, uma mulher totalmente sem vergonha. Acredita que ela até tentou roubar o projeto do meu filho? Ele estava trabalhando na construção de um shopping, e ela estava espalhando para todo mundo que o projeto era seu. A demiti sem pensar duas vezes, mas enfim, o favor que eu queria lhe pedir é que se ela tentasse procurar emprego aí, o senhor não a aceitasse. Ela não pode sair impune. O nome dela é Raquel Mendes." Robson tentou explicar o mais rápido possível, para não dar espaço para Erick fazer questionamentos.

O humor de Erick mudou completamente enquanto escutava o pedido de Robson. Se tinha uma coisa que ele não suportava era que tentassem dizer como ele deveria cuidar dos seus negócios. Mas ao ouvir o nome "Raquel Mendes", seus pensamentos foram levados a outro lugar. Seria possível, depois de anos, eu iria reencontrar ela assim?

"Sr. Robson, com todo respeito, eu aceito ou rejeito quem eu desejar. Se for apenas isso que tenha para falar comigo, eu vou desligar a ligação e faça o favor a si mesmo de não me procurar por esse motivo," Erick falou em um tom tão autoritário que fez todos os cabelos brancos de Robson se arrepiarem.

"Desculpa, não vou mais lhe incomodar com isso," foi tudo o que ele conseguiu responder ao perceber que tinha tido uma péssima ideia e poderia ter mexido com a pessoa errada.

Após desligar, ele chamou Letícia na sua sala. Ouvindo o tom na voz de Erick, ela andou a passos largos temendo o pior. Na frente da porta, ela se recompôs, respirando fundo e bateu, pedindo permissão para entrar, quando ouviu a confirmação, entrou calmamente.

"Pois não, Sr. Carter, o que deseja?" Letícia perguntou com um sorriso tímido.

"Se alguém de nome Raquel Mendes mandar o currículo para a empresa, me avise imediatamente e traga-o para eu analisar," Erick falou olhando para ela com um sorriso no rosto.

Estranhando o comportamento, Letícia não sabia o que sentir. Era a primeira vez que o via sorrir em todos esses anos trabalhando, então pra ela, essa cena parecia mais assustadora que o normal.

"Mais alguma coisa, senhor?" Letícia perguntou tentando disfarçar seu nervosismo.

"Não é só isso, pode voltar para a sua sala," Erick respondeu e Letícia saiu logo em seguida.

Sem conseguir se concentrar nos documentos que estavam na sua frente, tudo que ele pensava era no sorriso da mulher. Sua gentileza e delicadeza eram puras e honestas. Ele não conseguia acreditar que ela tentaria roubar o projeto de alguém, mas precisava verificar antes de tomar alguma decisão.

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