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(CLARA)

Junto todos os cacos de vidro espalhados pelo chão da cozinha, tentando o máximo possível não me ferir, procuro uma pá, e noto que na verdade, já fiz foi cortar o dedo, nunca consegui mexer com vidro quebrado sem cortar nem que seja um pouquinho, aperto o dedo um no outro pra não sangrar e sinto ardendo, agacho de novo e percebo que estou completamente quente, fiquei ofegante com a proximidade dos nossos corpos, tento negar a todo custo mas meus sentidos sempre confessam quando ele está perto, ele é o homem mais atraente que já vi na minha vida. Procuro a lixeira próximo a mim e o meu reflexo em um enorme espelho que compõe a decoração entre a sala e a cozinha me faz ter muita vergonha ao notar que sai do quarto apenas de baby-doll púrpura. Meu cabelo completamente armado, como se tivesse visto pente uma vez na vida me faz entender que definitivamente ele me viu horrível, meu rosto ruboriza e sigo rumo ao quarto, meio inconformada com minha falta de atenção, apago as luzes baixas que estavam acesas. Berê estava trocando mensagens com Brian, talvez já tenha dormido. Olho pela ultima vez pro quarto de Hector e a porta está completamente fechada, a luz está baixa. Acho que só o abajur tá aceso. Ele deve estar indo dormir, ou ligando pra alguma namorada pra dar boa noite. Abro a porta devagar pra não acordar Berê.

_ A bonita demorou ein. Hector tá bem? Ué, Que cara vermelha é essa?

_ Fala baixo Berê.

Olho pra trás conferindo se já fechei a porta, certificando que ele não possa nos ouvir.

_ Não to vermelha nada.

_ Tá um pimentão Clara.

_ É que ele me viu de baby-doll e só me dei conta agora que sai sem me vestir do quarto. E … é que ele me deixa com vergonha quando chega muito perto de mim. Você que deveria ter ido checar o barulho na cozinha, não sei porque sai feito uma doida.

_ Estava falando com Brian e você mal esperou eu dizer pra ir e saiu sem dar tempo de te avisar dos trajes. Mas volta na parte do chegando muito perto de mim, fiquei curiosa. Hahahaha

_ Ele quebrou um copo porque se assustou quando cheguei na cozinha, deve estar assustado com o ataque ainda, fui tentar ajudar mas ele não quis deixar, ele me ergueu e me sentou na bancada da pia pra não cortar os pés.

_ Ele é bem impulsivo mesmo, em pouco tempo dá pra notar e Brian também comenta, e a cirurgia ? como ele deu conta? Abriu ponto não? Hahahahah queria ter visto essa cena.

_ Não, eu conferi.

_ Clara?

_ Quê?

_ Tá se apaixonando por ele?

_ O quê? Não, impossível.

_ Não tem nada de impossível, ele foi ferido tentado te proteger, você dormiu e acordou todos os dias dessa cirurgia cuidando dele sem deixar ninguém ajudar, rezava todo dia pra ele acordar, chega perto dele e a cara fica igual um morango. Pensa comigo, dois e dois são quatro, amiga.

_ Para Berê. Já viu como esse homem me trata? Como ele é escuro por dentro? A gente não tem nada em comum. Deixar isso acontecer, só se eu for maluca. Podre de rico, bonito, na verdade já deve ter alguém com certeza. Aqui quero só trabalhar, pegar meu dinheiro, fazer o tratamento de Eva. Eu nem tenho cabeça pra pensar em homem agora.

_ Pois eu não to conseguindo esconder mais sobre Brian. E essas coisas a gente não escolhe, quando vi Brian a primeira vez não dei um comando pra meu corpo esquentar, meu olho brilhar. Aconteceu e eu não estou nenhum pouco preocupada.

_ Nem precisa né, ele é solteiro e falta te por numa redoma de cristal. Apesar de ter pé atrás com a vida que eles tem, eu acho que ele está muito apaixonadinho por você também.

_ Você acha amiga ?

_ Amiga, nunca namorei, mas a gente percebe né, ele te olha com tanto afeto, Rss. Parecem adolescentes quando estão perto um do outro. Nem disfarçam nada. Acho até ele meio enciumado contigo as vezes.

_ O remédio da madrugada do Hector, quer que eu vá ? Posso ir sem problemas.

_ Não, eu vou. Pode dormir bem, você deve ta cansada hoje, fez muita coisa enquanto eu estava na minha mãe.

_ Nada aqui se compara ao tanto que trabalhávamos na venda ou nas faxinas amiga, mas mesmo assim obrigada, tenta descansar também, o próximo remédio é só mais tarde. Boa noite amiga. Te amo.

Minha cabeça ainda está agitada e não me deixa dormir. Berê adormece e eu fico rolando de uma lado pra outro na cama. A sensação do corpo dele em cima do meu dentro do carro, a proximidade das nossas bocas quando ele me pegou no colo. Seus músculos armonizam perfeitamente com sua altura, ele exala masculinidade, sinto uma pressão diferente entre minhas pernas, lembrar dele me excitou. Para Clara. Se controla e foca no que você precisa. Estabeleço um dialogo interno na intenção de acalmar meus desejos, meio em vão, mas o copo de água ao lado da cama me ajudou a esfriar um pouco. Consigo cochilar um tempinho bom, mas logo o telefone desperta, me levanto, como já são quase seis da manhã faço minhas higienes e dessa vez visto uma roupa melhor, me pego querendo ficar mais cheirosa do que de costume e tento negar que estou fazendo isso pra chamar atenção dele. O sol ainda não saiu, mas o dia começa a clarear aos poucos pela janela. Escuto pássaros por todos os lados, aqui é o lugar mais lindo que já visitei, dá uma paz, um aconchego. Saio do quarto pé por pé, quero deixar Berê descansar, ela segurou muito aqui nos dias que precisei ir ficar com Eva.

Entro muito devagar pra não assustar Hector, o procuro na cama, olho ao redor e escuto o chuveiro ligado. Ele já está de pé, segurar esse homem aqui vai ser muito difícil. Apoio a bandeja, escrevo um bilhete falando que o remédio da manhã precisa ser tomado em jejum, deixo tudo em cima da escrivaninha do quarto e paro de me atentar ao barulho do chuveiro, tento sair devagar pra não ser notada, mas antes de chegar na porta sinto uma mão quente buscando meu braço e me puxando de encontro a ele.

_ O que você está fazendo no meu quarto essa hora da madrugada?

_ Seu remédio da manhã, vim me certificar que tomaria. Já são quase seis.

_ Não tem medo de entrar no meu quarto essa hora sozinha? Não sou um cara legal Clara.

_ Sei me defender Senhor Héctor. Agora solta meu braço antes que eu precise fazer alguma coisa.

Ele me puxou pra tão próximo dele que posso sentir a toalha úmida e seu corpo quente pela água da ducha, o cabelo ainda molhado deixa ele mais sexy que de costume, respiro fundo e peço mais uma vez pra ele me soltar, mas ele nega, levanta o rosto pro teto, respira mais fundo que eu e me puxa pra próximo da escrivaninha de novo, sem soltar meu braço me indaga.

_ Porque não fez curativo no seu dedo? Acabou se cortando naqueles vidros né.

_ Se me soltar vou fazer agora no meu quarto.

Ele olha fixamente nos olhos e ignora o que falo, abre uma caixa , busca uma pomada cicatrizante e um band aid.

_ Você gosta de cuidar de todo mundo e esquece de cuidar de você.

_ Não preciso ser cuidada por ninguém, aliás, não quero ninguém cuidando, consigo sozinha.

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