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(CLARA)

_ Berê, entendeu? Leu direitinho a explicação do médico? Não vou poder ficar aqui com ele hoje, tenho que ficar um pouco com Eva e mamãe em casa. Ontem quando fui lá, ela não estava tão bem.

_ Amiga, vamos pedir ajuda a Brian com isso, ele vai ajudar com certeza. Deixa de ser boba.

_ Não se atreva Berenice. Logo começamos trabalhar e tudo vai se resolver. Nosso contrato é ótimo, vai tudo dar certo, sempre deu, não quero parecer aproveitadora. Não estamos aqui ajudando porque precisamos de algo deles, não quero que pareça que tudo isso é porque estou usando eles pra resolverem problema meu. Por favor, prometa não contar nada sobre Eva.

Vai, to esperando. Promete?

_ Prometo Clara, Prometo. E vai logo, estamos aqui a dois dias, Brian tem ido muito pra Madri e prometi que ficaríamos em tempo integral, trás mais roupas porque não sabemos quando ele vai ter alta. Não se preocupa de ir lá em casa, liguei pra mãe já, do telefone dele e avisei que nosso amigo se acidentou e que estamos aqui.

_ Meu Deus. Falou do Tiro? Ela vai querer nos estrangular metidas com essas confusões.

_ Não né. Deixei em aberto o motivo do acidente, e você conhece mamãe, já queria mandar comida aqui pra ele.

Chamo atenção de Berê que desde ontem cogita possibilidade de eu pedir dinheiro pra Brian, pra resolver os remédios da Eva. Ela me prometeu não falar e confio nela. Eu sei que ela está preocupada, eu também, mas preciso manter meu orgulho. Nunca pedi dinheiro a ninguém e sempre consegui resolver tudo, agora vai ser do mesmo jeito. Apesar de parecer que já nos conhecemos a um século com todos esses acontecimentos, nós nos conhecemos a apenas três dias. Iria parecer muito que somos mulheres interesseiras. Talvez até duvidassem que tenho uma irmã e que ela realmente precisa de cuidados especiais, eles não conhecem nada da nossa vida a não ser que somos de Teruel e nossos nomes. Ninguém nos dias de hoje sai emprestando dinheiro pra duas semi conhecidas. Aparecemos do nada para uma vaga de faxina que Luisa nos indicou e só isso. Quando lembro da entrevista, do dia de tudo, meu coração aperta, fiquei muito aflita, ele não acordava, mesmo depois da cirurgia do Doutor Vellas, a cada hora que passava me dava mais angustia. Mas fiz todas minhas orações, acendi minhas velas pro anjo da guarda protegê-lo, passei as noites em seu quarto monitorando os aparelhos que o médico me ensinou e deu certo. Eu estava me sentindo tão inútil na situação, não ter o que ser feito nos deixa ansiosa, só podíamos esperar e foram dois longos dias extremamente difíceis. Via Brian pelos cantos, entristecido, os dias que ele teve que o deixar pra ir em Madri resolver as coisas das empresas deles, eram de cortar o coração, a amizade deles é linda, são realmente como irmãos. São tão irmãos que ele acordou a apenas meia hora e estavam agorinha discutindo coisas banais, Rss, parecem dois adolescentes brigões, eles são muito parecidos e ao mesmo tempo muito, muito diferentes. Brian é doce, atencioso e acredita no amor, Hector tem uma enorme tristeza no olhar, coração frio, dificilmente demonstra afeto, nem mesmo por Brian, fala com muita firmeza e é osso duro de roer, teimoso, se acha o imortal, invencível, mas no fundo, bem no fundo, é frágil, posso apostar que já sofreu muito na vida pra ter vestido essa casca de ódio que ele carrega. Mal acordou e já está trabalhando, celular dele não para de tocar, acho que era por esse motivo o burburinho dos dois no quarto.

Toc.. Toc..

_ Clara, chamei nosso motorista pra você, ele já chegou. Vai tranquila, Berê tá aqui e eu também não pretendo sair agora.

_ Obrigada Brian. Passei tudo pra Berê, não devo demorar na cidade.

_ A gente que agradece. Ele é meu irmão e sem vocês esses dias aqui teriam sido difíceis, trazer alguém desconhecido pra cuidar dele seria perigoso. Temos que tentar manter ele ao máximo aqui até tudo se acalmar em Madri.

_ Brian, porque fizeram isso com a gente? Ou melhor, com vocês.

_ Temos muitas empresas Clara, o clube é apenas uma que mantemos por hobbie, fora isso, muita gente nos deve, a maioria prefere nos matar que nos pagar. Hector tem um jeito meio diferente de cobrar quando alguém não cumpre os acordos com ele, e da nisso que você viu. Mas vem, vamos. Isso é assunto pra outra hora. Ah e mandei o contrato de vocês pra nossa área de contabilidade, considerem que já estão trabalhando por estarem aqui conosco. A casa de Madri já esta sendo arrumada pra receber vocês e o acordo de um salário adiantado pra se organizarem lá também deve ser efetuado hoje. Sei que não é tão profissional falar disso aqui e agora, mas é o que temos. Façam as malas de vocês que vamos mandar levar tudo pra Madri essa semana. Assim que Hector melhorar vocês começam no Clube.

_ Obrigada Brian.

Ele sai do quarto e encosta a porta. Meu peito aquece em saber que agora sim, os remédios de Eva vão sair, ministrando esse tratamento talvez ela nem precise de cirurgia, são os melhores do mercado farmacêutico para esse probleminha no coração dela, o que usávamos antes por não ter condições eram apenas paleativos. Já esses, se fizerem o efeito esperado ela volta ter vida normal com o tempo. Oh minha santa Guadalupe, obrigada. Mamãe vai ficar tão feliz. Pego minha bolsa e me apresso pra contar a notícia. O motorista muito simpático, abre a porta e entro no carro preto estacionado na sede, ainda não tinha conseguido parar pra olhar, mas essa fazenda é incrível, grandes pastos verdes se perdem no horizonte, cercada por enormes pés de eucalipto que chegam a perder de vista pela altura e aromatizam tudo ao redor. E a casa? A casa é gigantesca, paredes em Pedras maciças, acabamentos rústicos e decoração toda branca. Hector tem muito bom gosto.

Quase meia hora depois avisto nosso bairro em Teruel. O carro muito fora do padrão dos que os moradores tem por aqui chama atenção, os vizinhos saem para as calçadas, as crianças apontam e as senhorinhas cochicham. É Clara, você vai ser assunto hoje. A última vez que vim já era tarde, quase ninguém viu, mas hoje parece que escolhi a hora que todo mundo tá na rua pá chegar.

_ Senhorita Clara? É esse o endereço ? O GPS avisou que chegamos.

_ Sim Senhor Júlio.

_ Pode ser só Júlio, Clara.

_ Tá bem.

_ Aguardarei nas redondezas.

Realmente chamar um menino tão novo de Senhor Julio faz parecer que ele é bem mais velho, mas não, ele é um menino ainda, altíssimo, forte, as coisas começam fazer sentido na minha cabeça, ele não é só motorista, ele é como se fosse um guarda costa, vi uns cinco lá na sede, dessa altura e desse tamanho, só pode ser. Acho que depois do acontecido, Brian se precaviu chamando segurança pra ficar na casa do campo. Mãe escuta o carro estacionar e vem correndo abrir a porta. Os olhos de curiosidade denunciam quem vem interrogatório por ai.

_ Benção Mãe? Como esta senhora e Eva?

_ Deus te abençoe, entre. _ Os olhos dela acompanham o segurança se afastar e entrar no carro.

_ Filha o que é isso?

_ Mãe, são seguranças do meu chefe, te disse que ele se acidentou, eu e Berê estamos ajudando na recuperação dele aqui na casa dele de Teruel.

_ Então seu trabalho deu mesmo certo minha filha?

_ Sim mãe, Sim.. amanhã já podemos comprar todo o tratamento da Eva. E vai ver, vamos ter muito resultado, ela vai poder ir pra escola, correr, brincar. Onde ela está?

_ No Quarto. Vai lá.

Mãe está meio desconfiada, fazendo muitas perguntas, normal. Só não sei ainda como contar que terei que morar em Madri e vir apenas de dez em dez dias. Entro no quarto e Eva solta um leve sorriso.

_ Oi minha flor de laranjeira.

_ Oi irmã. Que bom que você chegou, deita comigo.

_ Deito, vou tomar um banho e venho ficar com você, não quero deitar na sua caminha e sujar ela. Eu estava na rua.

_ Vem não tem problema, vem.

_ Negativo. Espera um segundinho que mana volta.

Abro a porta do guarda roupa, busco novas roupas e começo empilhar outras, Mãe aponta na porta me olhando e começa entender que talvez eu tenha que ficar mais dias fora com o novo trabalho.

_ Vai demorar pra voltar né?

_ Sim mãe, vamos conversar lá fora. To indo pro banho pra deitar um pouco com Eva.

Um nozinho na garganta começa a fazer, eu nunca sai de casa, eu nunca passei mais que uma tarde longe delas, mesmo que chegasse em casa muito tarde das faxinas, elas estavam ali, quietinhas. Vai ser difícil, pra mim, pra Eva, pra mamãe, somos muito unidas, elas são meu combustível de vida. Sento com ela no sofá da sala, pego suas mãos.

_ Mãe, olha, eu preciso fazer isso, Eva precisa desse tratamento, talvez isso nos ajude até na questão da cirurgia. Imagina?

_ Sim filha, eu sei, mas isso não impede a mãe de ter saudade né?

_ Amanhã ou depois eu volto com um celular novo pra gente se falar, vou colocar crédito todo mês, podemos trocar mensagens toda hora. Os remedio de Eva também, já vou tentar trazer junto. Vou deixar esse cartão com a senhora, vai cair dinheiro nele. De Lá eu saco alguma coisinha pra eu ir me virando lá no banco mesmo, o resto pode usar tudo pra vocês.

_ Mas filha você tambem precisa de roupas novas pro seu trabalho. Vou costurar algumas coisas hoje.

_ Mãezinha, vou ganhar bem, muito mais que as faxinas, não vai faltar tá? Prometo cuidar de mim também. Berenice conseguiu a mesma vaga que eu, é tão bom o salário que o pai dela nem reclamou dela sair da venda.

Mãe me abraça e nessa hora não consigo segurar. Queria tentar não chorar na frente delas, mas foi impossível.

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Comments

Nora Ney Guimarães Guimaraes

Nora Ney Guimarães Guimaraes

livro bom mesmo,a autora tem talento pra coisa 👏👏

2025-03-26

0

MARCIA GUIMARÃES

MARCIA GUIMARÃES

Muito bom mesmo! Amando 😍

2024-10-19

0

Sueli Silva

Sueli Silva

Que história maravilhosa, amando ❤️❤️

2024-10-13

0

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