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( Clara )

Estava tudo fluindo tão perfeitamente que nem nos piores sonhos achei que fosse me sentir tão atormentada hoje, sai de um momento de tanta felicidade assinando um contrato de trabalho para o extremo de acertar um bofete na cara de quem seria um dos donos de onde vou trabalhar. Clara do céu, você nunca foi assim. Minha cabeça começa falar sem que eu tenha controle sobre ela. Mas também, a gente sempre espera que babaquice tenha limite, mas esse cara extrapola todas as expectativas possíveis do bom senso. É um amargurado, não pode existir outra explicação. Minha mão está ardendo, imagine o rosto dele. Eu não sei o que fiz pra ele me tratar como um pedaço de nada e nem quero saber, quero que ele suma e não apareça mais na minha frente.

Brian e Berê vieram apaziguar na hora da confusão, aliás, onde este ser pisa o pé, tem confusão. Berê me puxa e me senta no carro ficando na minha frente tentando me acalmar, enquanto Brian se afasta um pouco com esse estúpido.

_ Amiga do céu, nunca te vi nervosa assim, se acalma um pouco, quer água? Eu pego lá dentro pra você. Vocês dois vão se atacar assim toda vez que se verem é?

_ Berê você ouviu o que esse cara insinuou? Ele acha que somos o que ?

_ Sim amiga, ele mereceu mesmo, ele passou o dia merecendo uma bofetada de alguém, só não esperava ser você a que faria as honras, rsrssrsr. Te ver bater em alguém nunca passou na minha cabeça em toda minha vida. A doida da nossa história sempre fui eu, não você.

_ Não sei o que me deu Também, fiquei cega.

_ Amiga ele riu quando bateu nele, se o conhecesse diria que fez de propósito pra testar sua paciência. Ele queria te levar ao limite.

_ Me deixa respirar um pouco Berê. Acho que estraguei nosso emprego né?

_ Se ele não quiser a gente trabalhando lá, depois disso, a gente se vira na faxina, não pensa nisso agora, só se acalma.

_ Berê quando ele chega perto de mim meu coração acelera de tanta raiva.

_ Amiga, pode ser raiva, mas também pode ser outra coisa. Eu fico assim perto do Brian, só não é raiva. Hahahhaha.

Olhando de fora parece que existe uma tensão entre vocês meio diferente.

_ PARA BERENICE.

Respiro fundo meio irritada ainda, Berê quer porque quer insinuar que ele faz essas coisas porque sentiu algo quando me viu na porta do clube, e eu tenho certeza que ele faz isso porque é um sem escrúpulo, sem coração, ele não tem nada por dentro.

_ Eu falo porque é o jeito que ele te olha amiga só isso. Não fica brava comigo, é que dificilmente erro no meu sexto sentido. Mas vem, vamos avisar Brian que não precisa se preocupar, que a gente se vira daqui pra frente.

_ Isso amiga, estou mais calma. Quero só distância desse ser.

_ Então deixa que eu vou lá e falo com Brian sozinha, me espera no carro um segundo.

Permaneço sentada com os pés para fora e a porta traseira aberta esperando Berê se despedir. A vejo afastando indo ao encontro deles, enquanto ela conversa com Brian, o olhar dele, de longe, busca o meu, por alguns segundos ele me olha fixamente dentro dos olhos e um arrepio diferente toma conta do meu corpo. Pelo jeito que ele me olha, o que Berê estava falando começa soar com alguma lógica. Lógica? Qual lógica existe em alguém se interessar por uma mulher e a tratar como ele me trata desde que me viu a primeira vez? Berê está ficando maluca e eu também. Busco a bolsa apoiada em minha perna e pego o telefone pra checar se tem mensagem da minha mãe. Ela deve estar muito ocupada com Eva. Estou doida pra ir contar a novidade do trabalho, tomara que eu não tenha estragado tudo com esse bofetão que dei nele. Pelo que me conheço, vou morrer de remorso de ter agido assim, de não ter conseguido me conter, definitivamente esse homem me tira do eixo. Perdi o controle com as palhaçadas dele, deveria ter agido com elegância, ido embora, o ignorado, sei lá. Sempre fui assim em situações desconfortáveis. Queria ter feito tudo, menos ceder a provocação dele. Isso Clara, nem embora foi e já está com a consciência pesada. Minha atenção se prende ao celular.

Alguns instantes se passam, não consigo medir quanto, mas coisa de minutos porque Berê se enterteu falando com eles, escuto barulho de pneus de carro virando a curva de entrada do restaurante com muita bruscalidade, muita movimentação começa, levanto o olhar e vejo Berê com semblante de pânico sendo abraçada por Brian que agacha com ela no chão, barulho de tiros fazem meu coração pulsar na garganta.

_ Clara .. Clara.. a Clara…

Escuto de longe Berê gritando meu nome e uma silhueta masculina cobrindo meu corpo, me jogando deitada no banco do carro, abraçando minha cabeça e fazendo seu próprio corpo de escudo para o meu.

_ Fica quieta, não se mexe. Não vou deixar nada acontecer com você.

Nessa hora a única coisa que conseguia sentir era medo, muito medo. Os barulhos de tiro me ensurdeceram, não conseguia me mover, nem gritar, nem chorar, mil coisas borbulharam na minha cabeça, a sensação que foi capaz de me acalmar foi sentir sua respiração ofegante na minha boca. Seus olhos atravessando os meus. Seu corpo pesado em cima de mim me passou a certeza de estar protegida e quando os barulhos começaram a sessar, era como se o mundo tivesse parado ali naquele momento no nosso olhar. Poucos minutos depois mesmo sem certeza de que tudo havia passado, eu me remexo e peço pra ele sair de cima de mim. Saio do devaneio, e me apresso por noticias de Berê e Brian que ficaram do lado de fora do carro.

_ Eu preciso ver a Berê.

_ Não vou te soltar agora. Não até saber que não corre perigo.

_ Por favor. Eu preciso ver a Berê.

_ Ela está bem Clara. Confia em mim. Brian a pegou.

_ Eu preciso ver, Hector. Eu não confio em você. Eu quero ver a Berê. Saber que ela está bem.

Meus olhos marejam com a possibilidade de alguém ter se machucado, mas não é hora pra choro, forço minha saída de baixo do corpo dele. Que segue no carro. Abro a porta desesperada procurando por Berenice.

_ Berê… Berê, me responde.

_ To aqui Clara.

Olho por trás do carro onde ela e Brian estão agachados. Ele se levanta, confere se tudo passou e fala pra ela em seguida que está tudo ok, num impulso só, ela levanta e corre na minha direção me abraçando.

_ Amiga, Meu Deus. Você está bem?

_ Sim amiga, estou.

Falo isso conferindo o corpo de Berê pra ter certeza que tudo está bem, quando ela começa gritar copiosamente.

_ Clara, amiga, por Deus, você foi ferida. Brian me ajuda.. Por favor. Me ajuda.

_ Eu estou bem Be……

Meu coração imediatamente aperta com uma força avassaladora. Minha voz falha quando me dou conta que estou bem e de que esse sangue em minha roupa não é meu, corro desesperada para o carro, pedindo ajuda pra Brian.

_ Hector.. Hector.. olha pra mim. Hector, fala comigo. _ Tento fazer com que ele mantenha a consciência.

_ Héctor, irmão, olha pra mim. Não fecha os olhos. Clara, senta aqui, aperta forte, não solta até chegarmos ao médico. Berenice, entra no carro, não temos tempo.

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