(Clara)
TOC.. TOC..
_ Mãe tá em casa?
TOC.. TOC..
_ Oi Filha, um segundo, vou abrir.
_ Esqueci a chave de novo, desculpa. Benção?
_ Vem entra, não se preocupa com pouca coisa, deve ser o cansaço de todos os trabalhos minha filha. Deus te abençoe.
_ Como está Eva?
_ Agora já está dormindo.
Entro direto no quarto da minha irmã, beijo sua testa, ela remexe um pouco e continua dormindo. Minha mãe teve que largar as faxinas para ficar com ela em casa por tempo integral, quando ela completou cinco anos descobrimos comorbidades no coraçãozinho dela e desde então ela precisa de cuidados especiais, como não temos condições financeiras pra cirurgia de emergência, minha mãe cuida enquanto a cirurgia não sai pelo governo. A fila é imensa de espera, mas temos fé que logo chegará nossa hora.
_ Dona Sueli, Dona Sueli. Está se alimentando, Dona Sueli? Olha essa blusa folgando nos braços, e o short? É já que precisa de um cinto. Não faz isso mãe, precisamos da senhora forte. A cirurgia da Eva vai sair, logo estaremos melhor de vida, com ela feliz e correndo como antes, vai ver.
_ Eu sei minha filha, mas não sinto fome, vê você saindo de casa cinco da manhã e chegando meia noite todo dia sem poder fazer nada pra ajudar, sua irmã adoecida, meu coração de mãe fica dilacerado, minhas filhas precisando de mim e eu não podendo fazer nada.
_ Mãe, senhora nos deu a vida, cuidou e cuida de nós duas com tanto amor, não fala isso. O que teria sido da minha vida se não tivesse me achado aquele dia na porta da paróquia? Me dado tanto cuidado como se tivesse me gestado. E a Eva então? Senhora é perfeita, vem cá me abraça. Para de neura Dona Sueli.
Devo minha vida a esta mulher, desde que minha mãe biológica me abandonou ainda bebê numa caixa de papelão, é ela quem me dá vida, cuidado, colo. Mesmo não tendo condições financeiras, me acolheu, me amou. Ela e Eva são minha vida inteirinha, faço tudo pelo sorriso das duas. Eu to cansada, mas cada pingo de suor nas faxinas são de agradecimento pelo que ela fez por mim e farei muito mais.
_ Filha, Berenice te ligou hoje a tarde. Liga pra ela antes de sair pra trabalhar amanhã. To indo deitar já, não demora pra descansar melhor.
_ Tá, mas saio muito cedo, ela acorda tarde, passo lá na venda na hora do almoço e falo com ela.
Berê, Berê!
A amiga mais doidinha que alguém poderia ter, topa tudo, as vezes sai comigo pra fazer até faxina quando o pai dela da folga lá na venda. Seu Carmo é um figurão aqui do bairro. Muito simpático e sempre de bom humor, falando alto e contando histórias. Apesar de humildes não passam dificuldades, a mãe de Berê é outra peça rara conhecida por aqui, anda com os brincos enormes e braceletes amarelos que ela jura ser ouro puro que ganhou de casamento, mas todo mundo sabe que ela compra na feirinha das irmãs aos sábados, no estacionamento da paróquia Santa Maria do Mar. Aqui de casa quase sempre escuto os gritos dela procurando pelo filho mais novo, Josefino que vive na rua com a molecada da região.
TOC TOC TOC..
_ Meu Deus, essa hora.. quem pode ser.
_ Quem é? _ Falo cochichando me aproximando da porta. Mãe já deitou.
_ Sou eu. Abre que tá frio. _ Berê cochicha do lado de fora.
_ Amiga que que houve? Tá tarde.
_ Amiga quero morar aqui. Cansei da loucura da minha casa.
_ Tá maluca Berê? Só se dormir no sofá, só temos um quarto pra três já.
_ To brincando amiga, mas não aguento mais todo dia uma gritaria naquela casa. Como você está? Liguei hoje a tarde, mas tu tá trabalhando mais que a dentadura que meu pai usa a trinta e oito anos.
_ kakakakkakakaaakak. Ai Berê, você é ótima. Dorme aqui, vou pegar travesseiro e cobertor, mas só cabe no sofá.
_ Melhor que lá em casa em cama macia de algodão egípcio que a Dona Herminia jura que ganhou do primo distante, ela só esquece que eu fui com ela na feirinha do rolo comprar quando era criança. Amanhã vou com você nas faxinas te ajudar, você tá com cara de cansada á dias, me acorda tá ?
_ Obrigada Berê. Boa noite.
04:30
_ Berê.. Berê.. acorda .. não posso atrasar.
_ O que ? Quem ?
_ Berê sou eu, Clara. Vamos pra Faxina. Anda, fiz pão com ovo na cozinha.
Acordar Berenice não é uma tarefa muito fácil. Nunca foi. Ela tem sono pra dar e vender.
Saímos cedo e o frio tá começando dar sinais, o que significa que logo logo tudo começa subir de preço no supermercado. Se não fosse a Berê me ajudando não sei se daria conta de tanta faxina, ontem mesmo minhas costas estavam me matando e ainda é quarta-feira. Se eu ao menos trabalhasse e desse pra pagar todas as contas, tem mês que eu vejo as mais importantes e pago, se não, pode faltar para os remédios da Eva.
_ Berê seu pai sabe que não vai abrir a venda?
_ Quando ele vê que não estou em casa, ele abre. Deixa pra lá, eles se resolvem.
_ Você é doidinha né Berê?
_ Se eu não sair de casa logo vou ficar de vez e sem reversão. Você vai cuidar de mim?
_ Ah não, já cuido da Eva e da mamãe, se vira. Não fique doida por favor.
_ hahhahaha eu sei que cuida sim.
_ Tá eu cuidaria mesmo, mas por favor não fique.
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Atualizado até capítulo 105
Comments
Nora Ney Guimarães Guimaraes
já estou gostando,a autora parece que é das boas kkk
2025-03-26
0
Maria Ruth
Comecei a ler hoje 25.10.24.
2024-10-26
0
Sueli Silva
Comecei a ler 11/10/24, estou amando a história ❤️
2024-10-13
1