Memórias que não se apagam

Visões e lembranças de suas transgressões mais sombrias o assombraram. Ele revivia cada momento de dor que causou, cada vida que destruiu. A culpa o consumia, como uma chama ardente que queimava em seu peito.

Enquanto caminhava por esse purgatório pessoal, ele se viu diante de figuras distorcidas de pessoas que ele machucou, rostos distorcidos pela dor e pela traição. Cada olhar acusador perfurava sua alma, cada grito ecoava em sua mente atormentada.

A sensação de culpa era avassaladora, esmagadora. Ele se ajoelhou, implorando por perdão, mas as vozes em sua mente diziam que nunca seria suficiente. Ele estava condenado a carregar o peso de suas ações para sempre.

Finalmente, ele chegou às margens de um rio negro e fétido, onde as águas pareciam sussurrar seu nome. Ele sabia o que o esperava do outro lado: o verdadeiro inferno, a tortura em forma de jogo que ele mesmo criara.

Com um último olhar para trás, ele mergulhou nas águas escuras, pronto para enfrentar seu destino e buscar redenção, mesmo que isso significasse uma eternidade de sofrimento e tormento.

Na penumbra do purgatório, as memórias ecoavam como fantasmas do passado, assombrando sua consciência. Ele se viu diante da cena mais dolorosa de sua vida: a imagem de sua mãe chorando sobre seu corpo pequeno e indefeso, fruto das surras que recebera.

A dor física parecia ecoar novamente em seus membros, como se o tempo tivesse retrocedido, e ele fosse novamente a criança indefesa diante da violência materna. O choro dela ressoava em sua mente, misturando-se com seus próprios soluços abafados.

Era uma lembrança tão vívida que quase podia sentir o cheiro do ambiente, o gosto do sal das lágrimas. Era como se estivesse revivendo aquele momento, preso em um ciclo de dor e culpa que parecia não ter fim.

As lágrimas de raiva misturavam-se com as lembranças dolorosas de sua infância, quando sua mãe, cheia de frustrações, descontava nele toda sua raiva e amargura.

Ele se via abraçado ao próprio corpo cheio de hematomas, revivendo cada momento de negligência e violência emocional. Sua mãe não parecia se importar com ele, apenas o usando como um objeto para descontar suas frustrações.

Seu pai, ausente, raramente demonstrava interesse em sua vida, ligando apenas por conveniência quando não estava ocupado com suas viagens. A solidão e o abandono eram constantes em sua vida, alimentando uma dor profunda que o acompanhava até o purgatório.

Ele decidiu sair de casa aos 16 anos, cansado dos abusos físicos e psicológicos dos pais. Morou de favor por um tempo, conseguindo completar o ensino médio nesse período.

No entanto, as dificuldades financeiras o levaram a aceitar um trabalho oferecido por um homem que o contatou pela internet, inicialmente pensando que fosse um serviço comum.

Apesar do medo e da relutância, ele acabou aceitando a proposta, pois não conseguia encontrar emprego em nenhum outro lugar e estava desesperado por dinheiro.

Assim, aos 18 anos, ele entrou em uma vida da qual não podia mais escapar, preso em um caminho sombrio que o levaria à sua própria morte.

Ele observava a cena com uma expressão de horror e perplexidade quando seu pai entrou abruptamente, olhando incrédulo para Natally.

"Peter, eu..."

"Você o matou, Natally?"

Seu pai interrompeu, com a voz trêmula e os olhos arregalados.

"Ele está bem, meu amor. Ele sempre acorda."

Natally respondeu calmamente, como se fosse algo trivial.

Seu pai se ajoelhou ao lado do corpo, verificando seus sinais vitais, visivelmente abalado.

"Meu Deus, o que você fez?!"

Ele exclamou, olhando para ela com angústia.

Natally sorriu e largou o corpo do personagem no chão, olhando para seu pai com um olhar vazio.

"Ele vai acordar, querido. Ele sempre acorda."

Sua voz era calma, quase reconfortante.

Ele, incapaz de conter suas emoções, desabou no chão, soluçando e cobrindo o rosto com as mãos.

"Não! Isso não pode estar acontecendo!"

Ele gritou, sua voz cheia de desespero e dor.

Seu pai mal sabia o que estava acontecendo em casa, talvez ele gostasse mesmo dele, apenas não notou o que estava acontecendo, é isso.

Sentiu seu peito apertar, como se um peso invisível o estivesse esmagando. Cada respiração era um esforço, uma luta para encontrar ar suficiente para seus pulmões. Seu coração batia descompassado, como se tentasse fugir do tormento que o envolvia.

As lágrimas fluíam sem controle, misturando-se com o suor que cobria seu rosto. Cada parte de seu corpo doía, não apenas pela dor física, mas pela dor emocional que o consumia. Seus músculos contraíam-se involuntariamente, espasmos de agonia percorrendo sua espinha.

Ele tentou falar, mas as palavras se perderam em soluços e gemidos abafados. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, fixos no vazio, como se buscassem uma resposta para o sofrimento que o assolava.

A sensação de desamparo era avassaladora, uma avalanche de emoções negativas que o arrastava para um abismo de desespero. Ele se sentia perdido, como se tudo o que acreditava e amava tivesse sido arrancado de suas mãos.

Por um momento, desejou não estar ali, desejava estar em qualquer outro lugar, longe daquela dor insuportável. Mas não havia escapatória, apenas o sofrimento que o envolvia como uma névoa densa e sufocante.

Ele estava de frente as suas memórias mais obscuras de toda vida, e presenciar isso mais uma vez o deixava sem chão.

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