CAPÍTULO 12

As duas continuavam conversando como se conhecessem a muito tempo.

— Dá pra perceber. A propósito, está ficando linda as minhas unhas, nossa! Eu adorei, ficou perfeito.

— Nossa! Ouvindo a senhora dizer que gostou do meu trabalho é a melhor coisa que já ouvi na minha vida.

— Eu amei mesmo de verdade, falando nisso você trabalha num salão de beleza, mas é só as unhas que você faz?

— Não, eu também faço cabelo, mas como tem muitas lá que fazem o cabelo, então eu faço mais as unhas de mãos e pés, já que as clientes preferem que eu faça as unhas.

— Então na próxima vez você vai cortar o meu cabelo!

— Eu?

— Sim, você, qual é o problema em cortar o meu cabelo?

— Nenhum problema!

— Então está decidido. Assim que eu tiver uma folga na minha agenda você vai vir aqui em casa, pode ser?

— Pode ser.

—Você faz alguma coisa a mais além de ser manicure? — Essa pergunta me deixou sem chão, não sabia se contava ou não que eu trabalhava num clube de striptease. Eu não sou o tipo de pessoa que esconde segredo. A única coisa que eu não posso revelar é por estar presa num contrato, e falar sobre o que aconteceu comigo no passado.

— Bom, não sei como a senhora vai reagir, mas na verdade eu trabalho a noite três vezes por semana como dançarina de striptease num clube luxuoso no centro da cidade! — Ela ficou pasma quando eu falei que trabalhava num clube de striptease. Alguma coisa foi mudando na expressão dela na maneira de agir, ela foi ficando pálida e levantou caminhando de um lado pro outro buscando uma resposta.

Ao ver ela daquele jeito me deu um desespero que eu acabei batendo na minha própria boca. "Cala essa boca linguaruda". Falei para mim mesma. Não vi outra saída a não ser ir embora.

— Eu acho que terminei meu trabalho, senhora! — Falei isso para tirar ela do transe.

— Espere, porque essa pressa?

— Desculpe senhora, eu não devia ter falado isso. — Ela me olhou bem no fundo dos meus olhos, e ficou me encarando, me analisando e perguntou.

— Por acaso você acha que eu estou te julgando, ou te condenando.

— Não sei se está, me desculpa, mas na minha vida sempre foi assim, qualquer atitude que eu faço eu sou julgada, e condenada. E pelo fato de eu ser sincera em falar o que eu penso, e o que eu acho. Pra sincera eu já fui muitas vezes condenada. Tirando algumas exceções é claro, eu não vejo motivo para esconder da senhora, e outra não pedi segredo, uma hora ia ficar sabendo independentemente do que vai acontecer daqui em diante. Eu sou assim, mas quero deixar bem claro que trabalhar como Streep tease é igualzinho a profissão de manicure, e para ser sincera não gosto do que eu faço. Faço pela minha sobrevivência, porque eu preciso de dinheiro, as razões que eu não posso falar. Quem sabe um dia.

— Claro que não, me desculpe, é que para mim foi um choque. Eu me apeguei tanto em você que não sei como explicar esse apego. E você me demonstrou confiança, eu não conheço você, e, não sei quem você é, mas desde a primeira vez que eu te vi acho que foi amizade à primeira vista, não te chamei aqui por acaso. Nem sei porque a minha intenção era te conhecer melhor, e desde o primeiro dia que eu coloquei os pés naquele salão senti alguma coisa em você que não sei o que é? Mas nada vai mudar em relação a nossa amizade, e agradeço pela sua confiança.

Eu sei que não é fácil revelar um segredo, não sei se é mesmo segredo. Só estou um pouco confusa, mas eu quero que você continue sendo a minha manicure, está bem assim.

— Mas neste momento a única coisa que eu posso dizer para a senhora é que eu não gosto do que faço. É só uma temporada até guardar um bom dinheiro que eu preciso. E outra, eu não sou uma prostituta se é isso que está preocupando a senhora.

— Longe disso eu te condeno, quem sou eu.

— Eu aluguei um apartamento simples, não gasto muito. É o que posso fazer. Para dizer a verdade como a manicure estou ganhando um salário mínimo, não é o que eu queria, mas não tenho outra escolha. Onde eu trabalhei ganhava três salários mínimos. E quando saí de lá minha patroa pagou todos os direitos, porque ela disse que nenhuma conseguia ficar lá, passou mais de dez cuidadora, e ninguém conseguia ter paciência com o pai dela, e eu consegui, mas acabei gostando daquele senhor e fizemos uma grande amizade.

— Deu para ver que você leva jeito para conquistar as pessoas, e me conquistou também. E até minha filha, que mal vocês se conhecem, e ela adorou você, parece que a muito tempo se conhecem, que me deixou até com ciúme.

— Obrigada. Eu tenho um objetivo na minha vida, que é conquistar minha independência financeira. Não sou contra a pobreza e nem contra os pobres, mas infelizmente a gente vive no mundo que é uma selva. E cada um defende com as armas que tem. E a minha única arma é minha dependência financeira.

— Eu acredito que você vai conseguir sim.

— Porque a senhora acha isso?

— Se me chamar mais uma vez de senhora eu te mato, riso.

— Eu acho que já ouvi essa frase em algum lugar. Me desculpa, é por respeito.

— Está bem, não está mais aqui quem falou.

— Depois de eu ter confessado que trabalho como dançarina de striptease vai querer que eu faça seu cabelo?

— É claro que sim, nada muda entre a gente.

— Que alívio.

— Porque alívio?

— Porque gosto tanto de você e de sua filha que fiquei com medo que não ia querer mais que eu voltasse aqui.

— Será sempre bem vinda, as portas da minha casa estarão sempre abertas para você. — Me despedi dela e dei um forte abraço em Emily que me cobrou que eu voltasse sempre.

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