capítulo 9

A primeira noite em Sulgá foi extremamente inesperada; não sabia que as coisas começariam a fugir do meu controle tão rapidamente. Ao entrar no quarto, não havia muita novidade, apenas uma cama e um guarda-roupa, com uma janela que dava vista por cima da montanha e abaixo dela. Deitei-me na cama para dormir, mas tive um sonho peculiar.

Comecei a ouvir barulhos de correntes batendo nas paredes. Incerta sobre a origem do som, levantei-me para investigar. Ao sair do quarto, deparei-me com nada além de um grande salão vazio de vidro e esmeraldas. O barulho persistia, ficando cada vez mais intenso, enquanto eu procurava pela fonte desse som desconcertante. Olhava de um lado para outro, mas nada além do meu reflexo nas paredes de vidro.

Ao encarar meu próprio reflexo, minha mente entrou em transe. Comecei a sentir a energia pulsar novamente em meu corpo, como se estivesse perdendo o controle sobre mim. Meus pés saíram do chão, e uma aura marron envolveu meu corpo. O vidro à minha frente transformou-se em rochas, e uma figura de preto batia correntes na parede. Estava de costas, mas percebi que era uma mulher. Flutuando, olhei para ela, e ela se virou. Não reconheci o rosto, mas ela sabia quem eu era.

— Oi, Lua.

Senti alguém me puxar, tirando-me do transe ao cair sobre alguém no chão. A intensidade da experiência deixou-me atordoada, buscando entender o que acabara de acontecer.

— Lua? — A voz disse assustada, eu a olhei confusa.

— Layla? Como? — Olhei em volta tentando entender o que houve.

— Não há tempo para entender, você precisa sair daqui agora. — Questionei-a com o olhar, e ela continuou. — Estava flutuando no ar, precisa voltar para o quarto.

— Pensei que eu estivesse sonhando. — Disse levantando.

— Não foi um sonho, anda, vem logo. — Parei e olhei para ela.

— Você?

— Depois eu te explico.

Ela pegou na minha mão e me teletransportou para o quarto, deixando-me quase enjoada, ela disse:

— Sem tempo para vomitar, deite e finja estar dormindo.

Ela se teletransportou para fora do quarto, então ouvi passos e batidas nas portas dos quartos. Saí com uma aparência como se ainda estivesse dormindo, confusa. O sentinela passou por mim e revistou meu quarto, não encontrou nada. Ele foi até alguém e disse que os quartos estavam limpos. Foi quando ouvi a voz misteriosa com uma certa rouquidão.

— Eu sei o que eu senti, ela tentou fazer contato. Mas como? — ele se questionava.

— É impossível a Sara ter feito contatos com alguma delas, são humanas, não do submundo. — o sentinela explicou.

— Algo passou pelo portão, e ela achou alguém.

Então, meu olhar se cruzou com o dele, e senti o ódio pulsar em mim, dessa vez com mais força. Layla passou à minha frente e tocou minha mão.

— Seus olhos, abaixe o olhar.

— O que?

— Olhe para mim. — Eu a olhei — seus olhos estavam com círculo laranja em volta, não pode deixá-los ver isso. Torne-se humana, agora.

De alguma forma, senti o impulso e a minha vulnerabilidade voltar. Layla olhou para as outras meninas, pegando em suas mãos para não levantar suspeitas. Meu olhar se cruzou com o dele novamente, mas ele não parecia se perguntar o que eu era, e sim quem de nós viu ela. Então, atrás dele, reconheci o cabelo loiro bem penteado, com o rosto coberto, seus olhos azuis. Virei para Layla e informei que voltaria para o quarto.

As perguntas ecoavam em minha mente, criando um turbilhão de dúvidas. Eu entrei no quarto com mais interrogações do que quando decidi me vingar de Miguel. Por que eu vi a Sara? Aquela mulher era realmente Sara? O que ele quis dizer com alguém do submundo atravessou com os humanos? Eu faço parte do submundo? Mas por que faço parte? Por que sou algo diferente? Por que não fui criada pelas mãos de Acares?

A raiva misturava-se à vulnerabilidade, ainda estava humana, incapaz de causar danos a ninguém. Deitei na cama, olhando para o teto, perdida em pensamentos. Layla também era humana, mas que tipo de humana era ela?

Entre muitas perguntas e nenhuma resposta, a noite se arrastou. Incapaz de encontrar respostas nos sonhos, revivi meu encontro com a caverna, com ela, com as correntes. Pela manhã, ao abrir meu guarda-roupa, deparei-me com várias peças, todas uniformes, todas pretas, com botas da mesma cor. Um espelho surgiu ao lado, revelando minha nova aparência.

Prendi meu cabelo, agora tinha a cor de avelã ou chocolate, em um rabo de cavalo, ajustei o zíper do uniforme. A calça, adornada com um cinto preto, possuía bolsos no quadril e canela. A blusa de manga era complementada por um colete. Ao me observar no espelho, percebi que talvez não fosse a mais bela, mas minha pele morena contrastava bem com o preto do uniforme, destacando meu novo cabelo.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!