capítulo 5

Fiquei parada, desacreditada no que meus olhos acabaram de ver, mesmo eu sendo improvável para qualquer humano também. Abri a porta para ter certeza de que ele realmente tinha sumido, e sim, não estava lá. Nunca havia interagido com alguém de Sulgá, então foi algo estranho e primitivo. Mas acho que já tenho o passe para descobrir tudo sobre Sulgá, como funciona lá dentro.

Preciso ser a surpresa para Filipe, algo que ele queira, que o faça se apaixonar e entregar o que quero. É estupidez minha pensar assim; afinal, acabei de conhecê-lo. No entanto, senti seu interesse. Preciso que seja algo inocente, e tenho que entrar em Sulgá, mas não pode ser por ele. Tem que ser de outra forma. Ele precisa ser o poço de informações. Deu para ver que ele não é um simples sentinela, tem algum tipo de influência. Mas nunca viu um humano ou nunca interagiu com um?

Vidrada em meus pensamentos, olhei para dentro da casa. As paredes já não eram mais amarelas, e a mobília não era mais antiga. Eu pagava alguém para limpar a casa, então parece mesmo que mora alguém aqui. A sala agora estava azul, com piso de flanela, sala de estar com sofás de tecido macio, uma televisão na parede. Tinha uma pequena lareira embaixo dela, a mesa de centro deixava tudo mais familiar. Senti uma dor estranha no peito ao olhar o quadro na parede; fui até ele e passei a mão, a parede se abriu.

Lembranças de assistir meus pais morrerem me vinham, olhei para aquele cômodo escondido com ódio. Ele ainda estava igual, paredes marrons, duas camas, um pequeno armário com comida enlatada e um banheiro. As lágrimas escorriam em meu rosto, então passei a mão de volta no quadro e fechei aquela parede.

Não gosto de ficar nessa casa, tudo nela me lembra o que perdi, mesmo com tudo novo, as lembranças ainda estão aqui. Eu não poderia voltar para casa na montanha, precisava parecer uma humana normal, com uma vida normal, caso Sulgá resolvesse me vigiar. Então, subi para o quarto, e o quarto dos meus pais ainda estava trancado; me recuso a entrar e reviver as manhãs em que eu os acordava.

Cheguei ao quarto e decidi tomar um banho. Meu quarto não tinha novidade, as paredes eram vermelhas, piso também de flanela, esse era o piso da casa toda. Havia uma cama no centro do quarto com duas pequenas cômodas de duas gavetas em cada lado, e um guarda-roupa que ia de ponta a ponta na parede. Tinha uma pequena janela também. Depois do banho, sentei na cama e comecei a bolar meu plano.

Decidi que precisava de um novo emprego, algo temporário, qualquer coisa serviria. O objetivo era me manter ocupada e ao mesmo tempo não chamar muita atenção. Após algumas pesquisas, encontrei uma vaga temporária que se encaixava nos meus planos. A ideia era simples: trabalhar o suficiente para garantir sustento e, ao mesmo tempo, ter flexibilidade para me dedicar aos meus próprios objetivos.

Com esse novo rumo, iniciei a busca por informações sobre como me inscrever na base de dados de Sulgá. Para minha surpresa, já constava lá, meus pais haviam me registrado como humana, contendo todos os detalhes que eles achavam que sabiam sobre mim. Sabia que ser uma das escolhidas para praticar feitiços não seria fácil, pois eram poucos humanos selecionados. Teria que empregar todo o meu conhecimento e contar com a sorte para ser uma das escolhidas. A habilidade e a prática de feitiços eram cruciais, mas a seleção também envolvia outros fatores, talvez até mesmo uma pitada de destemor.

Decidi incluir em meu plano a aproximação de Filipe. Acreditava que a curiosidade dele em descobrir mais sobre os humanos poderia levá-lo até a floresta na próxima semana para acampar. Se isso não ocorresse, significaria que minhas suposições poderiam estar equivocadas. A incerteza sobre o desenrolar dos eventos deixava um frio na barriga, mas a determinação em alcançar meus objetivos era mais forte.

Usar meus poderes para eliminar o máximo de sulgarianos possível poderia ser uma abordagem precipitada. Sem o treinamento adequado, essa ação arriscaria minha própria vida. Optei por uma estratégia mais cautelosa, envolvendo-me no mundo deles de maneira sutil e estratégica, buscando informações, fortalecendo minhas habilidades e, ao mesmo tempo, agindo com inteligência para atingir meus objetivos sem despertar suspeitas. O caminho da paciência e da astúcia parecia ser a chave para a minha sobrevivência e sucesso.

Após elaborar meu plano, tentei dormir, mas a luz do sol já iluminava o céu, tornando impossível tirar sequer um cochilo. Assim, preparei-me e dirigi-me para a entrevista em uma loja de roupas próxima à minha casa, mantendo uma abordagem discreta. Ao chegar lá, fui contratada rapidamente, e a dona da loja tratou-me como se eu sempre tivesse sido parte da equipe.

Segundo relatos, ao ser escolhido para ir a Sulgá, começam a aparecer projeções, e descobri que se colocar em perigo durante uma lua cheia numa floresta era um dos requisitos ao ver a projeção em frente à loja no dia seguinte. Não posso negar que fiquei intrigada e assustada quando vi. Estava chegando à loja pela rua quando uma projeção de borboleta passou por mim, entrando em um beco. Foi a coisa mais estranha que já testemunhei.

Segui a borboleta até o beco ao lado da loja, e, surpreendentemente, a borboleta começou a falar. Eu quis rir, mas mantive a aparência de assustada.

— Lua Beatriz, você tem algo natural, uma força especial. Sulgá quer te dar algo.

— Sulgá? — perguntei com receio.

— Exato, minha querida Lua. Em breve nos falaremos.

A borboleta desapareceu, e eu fiquei olhando para os quatro cantos do beco, fingindo estar assustada, sem entender nada. Perguntei em voz alta o que era Sulgá, caso alguém estivesse observando. Sabia que estavam de olho em mim por causa da floresta, por que mais iriam me escolher? Acredito que, assim como eu, não acreditam que eu seja tão inocente assim.

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