A Vingança De Lua
Como começar a contar essa história? Muitos dirão que pelo começo, mas como explicar que fui a vilã da minha própria história? Causar dor e sofrimento, gostar do que fiz a cada pessoa, sem remorso. Eles desconhecem quem sou e do que sou capaz. O trajeto na ambulância, a caminho do hospital, apenas os enfraquece diante de mim.
Encontrada nua em um córrego na mata atlântica, recordo-me de mãos com luvas amarelas me retirando do lamaçal. As sirenes da polícia, os latidos dos cães, e alguém gritando.
"Encontramos um corpo" ou "alguém está preso na lama".
Como cheguei lá? Foi após perder a luta contra Miguel, um formidável levita. Ele quase arrancou o ar dos meus pulmões com a mera força do seu pensamento, sem utilizar as mãos, como se quisesse sufocar meus órgãos em sangue. Eu sou Lua, uma gestrice poderosa, detentora da força, capacidade de cópia e controle mental. Como híbrida, possuo os poderes dos flixs, mestres da manipulação mental, e dos calíc, dotados da força e habilidade de replicar dons alheios. Os calíc podem aprender a imitar qualquer poder com o treinamento adequado, mas evitam fazê-lo, cientes do perigo que uma espécie assim pode representar. Sou denominada gecistre, uma espécie à beira da extinção, dado que uniões entre essas duas raças são proibidas, especialmente entre aquelas que têm potencial para gerar algo como eu: imprevisível e incontrolável.
Meu pai, Clark, e minha mãe, Luara, eram de espécies diferentes. Minha mãe, uma flixs poderosa, optava por não usar seus dons para o mal. Meu pai, por outro lado, era um calíc, e tenho lembranças de brincar com ele no parque quando criança. Com meu nascimento, meus pais decidiram abandonar a dimensão sulgá, lar dos poderosos, com a missão de proteger os humanos. A relação entre suas espécies era proibida, levando-os a fugir para o mundo mortal em busca de segurança, especialmente para me proteger.
No entanto, a descoberta da minha existência por parte de Miguel resultou na traição deles, e isso os levou à morte nas garras impiedosas da dimensão sulgá.
Meus pais insistiam que eu não deveria utilizar meus poderes, temendo chamar a atenção da dimensão sulgá, onde a presença de nossa espécie entre os humanos era proibida. Por anos, obedeci a essa recomendação, mantendo meus dons ocultos. Contudo, tudo mudou quando, aos dezessete anos, uma onda de raiva me consumiu ao ver uma garota se envolver com o rapaz que eu gostava. Num momento de fúria, entrei em sua mente, quase levando-a à beira da morte ao controlar sua respiração. Esse breve instante de uso dos meus poderes foi suficiente para atrair a atenção de Miguel.
Minha mãe enfrentou a ameaça com toda a força da sua mente, enquanto meu pai usava sua força física para nos proteger. Assisti impotente à tragédia quando Miguel, com um único movimento, ceifou suas vidas, arrancando-lhes as cabeças. Eu estava paralisada, incapaz de gritar ou me mover, pois minha mãe invadiu minha mente, ordenando-me que permanecesse quieta e escondida. Mesmo no chão, eu não conseguia escapar do seu controle.
Miguel e seus seguidores deixaram minha casa, em busca de mim. Sabia que, dali em diante, não poderia mais empregar meus poderes, reservando-os para o momento de vingança contra aqueles que torturaram meus pais, especialmente Miguel. Foi apenas duas horas após a morte deles que consegui libertar-me da influência dos poderes de minha mãe. Saí do esconderijo, desvencilhei-me da parede invisível que me aprisionava e chorei sobre os corpos deles. Pedi perdão pela minha culpa, jurando diante deles que, mesmo que isso significasse minha própria morte, vingaria suas vidas. Prometi derrubar a dimensão sulgá e o domínio de Miguel sobre o reino, assegurando que a morte deles não seria em vão.
Ao chegar ao hospital, permiti que os mortais cuidassem dos meus ferimentos, ciente de que minha própria cura seria rápida, um efeito dos meus poderes. Lesões menos graves cicatrizavam quase instantaneamente, enquanto as mais severas demandavam mais tempo, a menos que fossem letais. Recusei-me a revelar meu nome aos profissionais do hospital e mantive silêncio diante da polícia. Os médicos sugeriram a possibilidade de amnésia, prevendo que levaria tempo para que eu recuperasse minhas memórias.
No entanto, não esqueci. Recordo-me de cada detalhe, de cada fratura, de cada gota do meu sangue pingando antes de Miguel surgir pelo portão, quase ceifando minha vida. Antes dele tirar a vida de Filipe, as lágrimas em meu rosto eram testemunhas de mais uma morte acrescentada à lista do meu sofrimento. Eram lágrimas de um coração também partido, pois ele havia tomado tudo de mim.
Perdi meu pai, minha mãe e o Filipe... Agora, eu já não possuía mais o filtro que me restringia. Decidi que não haveria mais misericórdia. Jurava vingança, prometendo a mim mesma que não deixaria pedra sobre pedra até que todos aqueles responsáveis pagassem pelo que fizeram. Agora, era o momento de explorar as fronteiras dos meus poderes, de aprender a aprimorá-los, de desvendar os segredos por trás das habilidades de Miguel. Planejava não apenas destruir a dimensão sulgá, mas também todos os que juraram lealdade a ele.
Somente quando minha vingança estivesse completa, quando cada um deles caísse diante do meu poder, eu consideraria descansar. Não seria apenas uma busca por justiça, mas uma busca por paz perante aqueles que me foram cruelmente retirados pela morte.
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Atualizado até capítulo 36
Comments
Cris Lima
não sei porque ela quis vingança, se a culpada da morte é ela
2024-06-29
0
Maria Eduarda
começando 01/03/2024
estou gostando.
2024-03-02
1