A pergunta que não quer calar

Escolhi uma espécie de lanchonete pequena à beira-mar. Sentamos na calçada. O vento bagunçava os meus cabelos enquanto Alexandre reclama que não havia nada para comer além de comidas industrializadas e bebidas. Não gostou nada da minha escolha. O que posso fazer? Nem Jesus agradou a todos, não é. Ok. Ok. A escolha foi de propósito. Queria ver a cara dele irritada. Ele tem perfil de quem come apenas comida de restaurante cinco estrelas.

— Será que é algum trauma de infância? Essa insistência para que eu coma com você? Fala sério. Nem é realmente importante para nosso contrato. É realmente importante? Parece um pouco absurdo demais. — Questionei irritada enquanto abria a água de coco que eu havia pedido.

— E eu tinha escolha? Você só faz o que quer. Eu estava com fome e não estaríamos aqui se eu não tivesse inventado esse absurdo. — Alexandre respondeu enquanto comia um sanduíche natural fazendo careta. — Você realmente está satisfeita com essa comida? Não aparece nenhum pouco saudável ou gostosa. Podíamos comer em um bom restaurante. A comida não é um pouco... industrializada?

— Não. Ela é perfeita justamente por isso. Por ter sido feita em uma fábrica, para milhões de pessoas. Sem saber ao certo quem realmente vai comer. E eu não estou com muita fome. — Respondi enquanto enganava fingindo tomar um pouco de água de coco.

— Só por isso? Você realmente é mimada. — Alexandre reclamou do sanduíche, mas já estava pela metade.

— Pensei que já tivesse feito uma pesquisa sobre mim, não sou apenas mimada, eu tenho defeitos seríssimos! Não sei fritar um ovo, colocar um botão ou fazer qualquer atividade manual, tenho uma personalidade terrível e odeio que discordem de mim. Pensei que soubesse já, só o que se fala é como a filha adotiva dos Didier é um ser humano terrível, que trato todos como lixo. Além de ser egocêntrica e arrogante a maior parte do tempo. — Brinquei, desde a minha adolescência, as páginas de fofocas estão recheados de rumores sobre mim e como sou terrível, a maior parte deles, completamente mentiroso, mas quem vai acreditar em mim? Quando nem sequer o meu pai, que me viu crescer, acreditou.

— Quanta bobagem. Tenho certeza que as pessoas que acreditam nesses rumores nunca trocou nem duas palavras com você. Não te conheço há muito tempo, mas você apenas reage ao que lhe oferecem. Acho uma absurdo as pessoas julgarem a sua forma de reagir quando é atacada. Os outros costumam errar e esperam que a gente apenas seja bom e perdoe sem qualquer reação. Para ser sincero, você parece até boazinha demais. — Alexandre não cansava de me surpreender. Era como se ele já me conhecesse e soubesse exatamente como sou.

— Sabe que também tem muitos rumores sobre você, não é? — Questionei. Não faço mais ideia do que seja real ou não em meio às fofocas. Assim como aconteceu comigo, talvez nada que dizem sobre aquele homem seja real.

— Deixem que sou um herdeiro sem poder, que desistiu de assumir a empresa por complexo de inferioridade em relação ao irmão mais velho. Além de gostarem de falar muito sobre a minha sexualidade e quão louco sou. — Ao dizer aquilo, Alexandre me trouxe uma grande dúvida na minha mente.

Se tudo for um rumor, talvez faça sentido o que aconteceu ontem a noite. Espera. Será que aconteceu mesmo? Não lembro de nada. Pesquisei algumas vezes na internet e diz que eu deveria sentir algum desconforto. Não senti nada além de ressaca. Será que estou equivocada? Bem que ele repetiu que passamos a noite juntos várias vezes, mas se eu tiver entendendo errado.

— Sabe... Eu estive pensando... sobre a noite passada... Como posso dizer... Será que eu fiz... você sabe, né? Quero dizer. Será que eu... ahhhh! Será que passei dos limites e fiz algo com você? — Senti minha bochechas queimando. Isso era bem mais vergonhoso do que eu esperava. Alexandre me olhava como se não tivesse entendendo o que eu queria dizer. Só pode ser um castigo. — Quero dizer, ontem a noite, no hotel. Será que nós dois fizemos algo que não estava nos planos?